Blood Red Shoes: Dez Anos de Muito Fuzz, Barulho e Atitude Punk

Steven Ansell e Laura-Mary Carter completam uma década de banda e com um disco novo à caminho

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O ano era 2004 e na Terra da Rainha quem reinava era Keane, Snow Patrol, Franz Ferdinand e McFly, bandas de Rock com um (ou dois) pé(s) no Pop e que se tornaram populares exatamente por isso. Steven Ansell e Laura-Mary Carter iriam à contra mão de tudo isso e formariam Blood Red Shoes com uma atitude agressiva e barulhenta, algo quase Punk. É bem verdade que a banda é categorizada por outros gêneros, como Indie Rock, Garage Rock Revival ou mesmo Noise Pop, mas há muito do estilo na sonoridade, nas letras e mesmo na maneira “faça você mesmo” de produzir que dominou os primeiros anos da dupla.

O duo tem como suas principais referências nomes como Nirvana, Queens of the Stone Age, Pixies, Fugazi e Sonic Youth, todos conhecidos pela inventividade e o característico peso em suas músicas – e, não à toa, toda essa “brutalidade” aparece canalizada nos primeiros singles e mesmo em seu debut. Parte disso foi se perdendo ao longo do tempo, principalmente a pujança e o vigor com que Steve e Laura-Mary construíam suas faixas, porém parte disso parece voltar à tona em Blood Red Shoes, quarto disco da dupla e, curiosamente, o primeiro à carregar seu nome.

Depois de dez anos na estrada, lançar um álbum autointitulado pode adquirir muitos significados, mas o que me parece mais plausível é que a banda encontrou sua real identidade – no caso, depois de três tentativas de certa forma distintas. Este novo álbum, esperado para 3 de março, me parece até certo ponto uma volta ao que a dupla fazia até o lançamento de Box Of Secrets (2008) e faixas como The Perfect Mess, anunciada como primeiro single deste novo trabalho, pode lembrar bastante alguns momentos da ótima estreia do grupo.

Claro que os ingleses não tem um som nada revolucionário ou algo que nunca tenha sido feito anteriormente, porém a dinâmica criada entre a bateria rápida e pulsante de Steve e a guitarra barulhenta e agressiva de Laura-Mary muitas vezes faz o ouvinte se esquecer de que o que sai dos autofalantes está sendo produzido por somente duas pessoas. Os vocais produzidos pelos dois somam mais alguns pontos, conseguindo os destacar em meio a tantas outras bandas do mesmo estilo. Certamente, um diferencial que não se vê com tanta frequência e que chamou a atenção já em 2007 com o EP/compilação de singles I’ll Be Your Eyes.

E se você conhece as versões que foram parar em Box Of Secrets, repare na crueza destes singles. Ali, havia algo explosivo, errático e ruidoso de um jeito que a banda nunca mais voltou a produzir. Senhoras e senhores, fiquem agora com o mais cru e potente registro já produzido por Steven Ansell e Laura-Mary Carter:

O caminho percorrido pelo duo nos próximos anos seria o da suavização de seu som e a criação de momentos mais diversos em seus discos. Contemplado faixas mais introspectivas, lentas e menos guiadas pelo fuzz, os discos Fire Like This (2010) e In Time To Voices (2012) levariam a sonoridade da banda para lugares bem mais abrangentes, alguns deles bem distantes de onde havia começado, mas mantendo ainda assim em sua essência as letras e o questionamentos líricos que a dupla sempre trouxe. A presença do teor garageiro e abrasivo continuava ali, porém diluído e que um quê pouco mais Pop e palatável.

Claro que esse foi um processo se desenrolou ao longo dos anos e, a cada novo single ou disco lançado, o duo dava pistas de estar caminhando para esta direção. Porém, a chegada de seu terceiro disco e sua recepção mista por parte dos fãs parece ter interrompido isso tudo e já no fim de 2012 um pequeno EP com apenas faixas demonstraria uma volta às origens. Water EP trazia um pouco daquela sensação de estar de volta a 2008. O característico fuzz, som errático, barulho e os ótimos riffs de Laura estavam de volta ao cardápio e foram servidos aos montes nesta curta obra.

Se a sonoridade remetia ao passado, a lírica nunca esteve mais no presente – afinal, são quase dez anos aprimorando o que e como falar, e, mais que isso, como integrar as duas partes em uma só.

Um passo adiante parece ter sido tomado nesse quarto disco e ao que tudo indica, Blood Red Shoes trará mais uma vez o frescor dos primeiros anos da banda, porém o aliando a isso tudo o que ela cresceu neste período.

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MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts