Boogarins: De Hoje a 2013

De “Sombrou Dúvida” a “As Plantas que Curam”, banda comenta os comentários sobre sua discografia

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Fotos: Divulgação

Acontece a mesma coisa com O Terno: Era inevitável que Boogarins visse seu som mudar de um álbum para o outro. Se esse processo é comum a toda banda que se mantém criativamente ativa, ainda mais para uma em que seus integrantes estavam no início não só da carreira, mas também da vida adulta. Isso se reflete também nos temas e reflexões propostos, e não à toa chamamos cada lançamento de “disco mais maduro da banda até hoje”.

Você já conhece essa percepção que o Monkeybuzz expõe. Chegou a hora, então, de conhecermos o ponto de vista dos integrantes do grupo sobre esse processo. Para isso, eles releram um pouco das resenhas de discos que foram publicadas no site ao longo dos anos, a começar pelo álbum novo (Sombrou Dúvida) e contaram como enxergam hoje os lançamentos do passado.

Sombrou Dúvida

“A surpresa é um fator que Boogarins sempre soube usar habilidosamente e, neste último disco, isto não é exceção. O título que dá indícios de uma construção sonora mais melancólica e soturna. Juntamente com este ar de dúvidas que paira impiedosa e dilacerante pela nova década que se anuncia: todo isso faz deste, um trabalho bem dosado e instigante. Um disco que mostra em Boogarins a potencialidade de acompanhar as mudanças dos novos tempos e coragem de encará-las”

Benke 

Essa análise eu achei bem boa, concordo que o fator surpresa é algo que a gente usa naturalmente muito pelo fato da gente estar sempre aberto a novos sons e ter um tipo de gosto musical que não tem muito a ver com estilo, mas mais com um sentimento ou com uma primeira impressão que a gente tem sobre música. Então, a linha que guia os nossos álbuns e consegue amarrar tudo não é necessariamente estilo musical, sonoridade, ou tipo de produção, é uma coisa que eu acho que tem mais a ver com o jeito de encarar as coisas, como a gente sempre gostou de absorver música e o jeito que a gente se sente confortável de colocar a música pra fora.

Dinho 

Pô, esse aí eu tava lendo ontem e tá ótimo. Acho que vocês resumiram bem: Falaram pouco, mas falaram bonito. Concordo com tudo, tem essa coisa de ser mais soturno, melancólico – acho que até essas palavras vocês usaram bem.

Lá Vem a Morte

“Lá Vem A Morte é uma experiência irrecusável para quem quer compreender o que a Psicodelia é, ou deveria ser. É um trabalho que está a serviço das definições mais básicas da percepção e parece ilustrar com muita clareza a frase que o psiquiatra Osmond respondeu a Aldous Huxley: “Para sondar o inferno ou elevar-se angélico, tome uma pitada de psicodélico”. É o disco definitivo da nova psicodelia brasileira”

Benke

Esse é engraçado, porque eu considerava, até a hora que a gente soltou, que era o trabalho mais pop da gente, muito acho que por ter Corredor Polonês, Foi Mal e Onda Negra, que eram canções que eu acreditava muito e que realmente reverberaram bem no público, mas acho que, pra quem estava de fora tendo uma primeira impressão do trabalho, era de ser um disco mais experimental que os outros, acho que por ter mais referências eletrônicas e tudo o mais. Eu gosto desse título aí: “o disco definitivo da nova psicodelia brasileira” (risos).

Raphael

Vocês falaram que Psicodélico não era suficiente pra falar da nossa música, mas nesse aí tá falando de compreender o que a psicodelia é, ou deveria ser. Eu fico pensando que nosso único disco que pode chamar de Psicodélico mesmo é o As Plantas que Curam (risos).

Dinho

Esse aí é bom também, hein? Ainda mais citando Huxley, que fez a minha cabeça em vários sentidos. Eu adoro o jeito que ele escreve, isso respinga um pouco nas músicas. Eu não teria a audácia de falar “definitivo”, mas as três partes dele, o jeito que o Benke fez ser, com certeza dá um peso experimental, ainda que dentro da lógica de canção, por se tratar de músicas que o povo tá ouvindo e cantando nos shows.

Manual

“Em várias das faixas, você vê sua sobriedade ser desafiada em momentos de elevação da alma por entre as dinâmicas dos instrumentos trabalhando as belas melodias, o que faz com que qualquer momento cotidiano ao som de Boogarins vire fim de semana – ou melhor, férias desaceleradas por paisagens cheias de cores e detalhes. É o incentivo certo para ampliar a imaginação, os sorrisos e a sensação de lazer por uma banda que, sem ter que fazer alarde, vê crescer também não só a qualidade de seu trabalho, mas também sua relevância”

Raphael

Adorei esse do Manual aqui quando fala de elevação da alma, belas melodias, fim de semana, férias, paisagens cheias de cores e detalhes. Olha só que coisa, eu acho que talvez seja o disco mais simples que a gente tem, e foi um grande passo na nossa carreira, a gente alcançou muito mais gente depois dele talvez por causa disso, porque se resume a tudo isso que você falou. Nunca tinha percebido que o disco era tão good vibes e, olhando agora, parece que é.

Dinho

Eu acho que Manual pode passar uma impressão errada. Não errada, mas acho que ele engana. O frescor das ideias na cabeça trazia um colorido mais fácil pros temas de canções como Auchma, Cuerdo, Tempo. Na minha cabeça, os outros discos são só uma evolução desse pensar. É também maluco ver resenha assim e pensar nos discos que a gente fez depois, que o caminho é meio contínuo mesmo e que talvez a continuidade desse sol, dessa paisagem colorida, seja essa explosão soturna e sombria dos discos que vieram depois.

Plantas que Curam

Boogarins estreia bem, com um disco sólido com boas faixas e se mostra saber o que faz, trabalhando muito bem em cima da psicodelia com boa instrumentação e influências. De certo possui um bom futuro lisérgico reservado para nós, com boas músicas, e para os próprios integrantes com boas críticas”

Raphael

Acho que, nesse disco, Boogarins não mostra saber o que faz, mas mostra saber o que quer. E eu acho que saber o que quer já é tudo.

Dinho

Esse aí foi o aviso, a Mãe Dinah. Acho maluco, pra gente nunca foi tão… (pausa) é um disco que a gente fez com muito carinho, a gente tinha muita paixão pelas faixas, mas nunca achei ele muito sólido, pensando que ia ter esse tanto de resenha, ia ter tanta gente falando sobre elas. É muita gravação caseira, muita coisa maluca, mas acho que quem presta atenção no jeito que a gente faz as coisas associa esse jeito de gravar, esse jeito de fazer música que mais pra frente a gente ia continuar fazendo. É maluco pensar que a gente ainda faça música do mesmo jeito. Mesmo se sonoramente o Plantas seja muito diferente dos outros, o processo é o mesmo: Pegar uma música e destruir ela. Então, mais uma vez, vocês acertaram no bingo.

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ARTISTA: Boogarins
MARCADORES: Discografia, Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.