Bowerbirds: Pés no Chão, Cabeça nas Nuvens

Segundo disco da banda encanta com letras bem escritas e atmosfera Folk deliciosa

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Upper Air

Todo mundo tem seu motivo pra ouvir música. Seja pra diversão, pra introspecção, pra inspiração, pra análise ou pro que for, não há certo ou errado. No meu caso, tenho uma certa predileção por letras e sons que de alguma forma saem do formato música, ou me transportam para além da audição. É menos complicado do que parece: Se me faz sair do instante em que estou pra lembrar de alguém, algum outro lugar ou época, já cumpriu o recado. Mais ainda se me faz projetar na mente sensações de estar com pessoas que não conheço em locais que nunca fui e/ou em tempos que não vivi. Música para uma ficção pessoal e introspectiva, eu diria.

Ouvir Bowerbirds tem muito disso pra mim, principalmente os dois primeiros trabalhos (embora The Clearing seja tão maravilhoso quanto. Hymns for a Dark Horse (2007) me soa como música de cantar em volta da fogueira entre amigos – algo que não é nem foi prática na minha vida em outro momento, mas que gosto de romantizar enquanto ouço aquele Folk com gosto de grama. Upper Air (2009), traz os mesmos temas e climas, só que em uma atmosfera ainda mais criativa, principalmente por conta do piano (algo não lá muito comum em uma roda ao ar livre).

Uma das características mais encantadoras do álbum (na verdade, da banda) é o uso de letras sempre bucólicas, com figuras de linguagem retiradas do campo e muita sinestesia nas palavras – não só em aspectos visuais – para expressar, na maior parte do tempo, aquilo que os sentidos dão a dica, mas que é percebido por outras canais.

É como se quanto mais os pés encontrassem raízes no chão, mais a cabeça conseguisse viajar nas nuvens impressas na capa do disco. Quando vem um verso como “Still with all my faults/I draw my breath from an ancient Earth” (em Teeth), faz mais sentido. Fica mais clara também a minha viagem fictícia pelo tempo-espaço, nesse pensamento de você hoje respirar o ar de uma Terra que tá aqui há muito tempo. “You own the skies, you own the thunder, but you have to share it all” (House of Diamonds) dá a mesma perspectiva, a de que aquilo que podemos usufruir nesta vida faz parte de algo muito maior.

Não se assuste, contudo, pois não se trata de um álbum “neo-hippongo” que promove ideais facinhos. Há material suficiente também pra quem procura músicas mais românticas (“All I want is your eyes in the morning as we wake for a short while” em Northern Lights e “I could drag my lace across the desert, but my lips would still thirst for you, dear” de Beneath Your Tree são os melhores exemplos) ou pra quem procura reflexões mais introspectivas (e versos como “But your mind was wound so tightly, always bold and wise and unsettling”, em Bright Future, e “My conscience is an avalanche”, em Crooked Lust, ajudam a explicar esse potencial.

Ao falar da terra, do rio, das folhas e dos animais, parece que a natureza humana se aflora. Upper Air faz sempre essa ligação entre aquele cheiro de mato e as coisas que vem à mente na hora de dormir. Ouça sem medo de viajar.

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ARTISTA: Bowerbirds
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.