Cadê: Choque – Primeiro Disco de Kiko Zambianchi (1985)

O rock nacional dos anos 80 precisou de uma grande prova para ser considerado viável pelas gravadoras e aceito pela mídia. Tal momento de verdade teve lugar no Rock In Rio, mas, basta uma olhada mais atenta às atrações nacionais do festival para notar o predomínio de bandas e artistas cariocas no segmento do rock. O protesto dos Paralamas do Sucesso pela ausência do Ultraje A Rigor na escalação já dava conta de que a próxima fase do rock nacional naqueles tempos, necessariamente passaria por uma maior amplitude geográfica. Das bandas de São Paulo, por exemplo, somente os Titãs já contavam com uma certa projeção fora de seu estado, mas isso aumentaria exponencialmente a partir do sucesso do Rock In Rio.

Com a abertura do leque das gravadoras, muitos artistas e bandas foram contratados e tiveram a chance de chegar às paradas de sucesso. Tinha espaço para quase tudo, inclusive para gente sem qualquer cara de roqueiro, como era o caso de Francisco José Zambianchi, oriundo da cidade de Ribeirão Preto. Kiko Zambianchi, como era conhecido em casa, começou cedo a tocar violão e foi daqueles que tiveram chance de ingressar no mundo da música religiosa. Mesmo católico, o jovem gostava de tocar músicas evangélicas e também atuava em festivais nos colégios da cidade. Em pouco tempo já tinha uma pequena banda, a Vida de Rua, que não foi muito longe. Kiko percorreria distância maior quando mudou-se para São Paulo em 1981, dando início a uma rotina de composição e apresentação em pequenos lugares.

A chance veio em 1984, quando Kiko foi contratado pela EMI. Em pouco tempo sua imagem de rapaz comum surgiu nas telas da TV e nas emissoras de rádio, com a bela Rolam As Pedras, que antecipava o lançamento de seu primeiro disco, Choque. A TV Manchete estava produzindo um programa de variedades voltado para quem se interessava por música Pop, que tinha o mesmo nome do primeiro disco de Kiko. A faixa-título do disco foi adotada como canção de abertura do programa, o que fez com que estourasse logo em seguida. A terceira canção de Choque a fazer sucesso foi Primeiros Erros, um verdadeiro hit, que varreu o país de ponta a ponta, anteriormente descartada pela gravadora. Kiko suou a camisa para divulgá-la, com grande êxito Kiko tornou-se um compositor requisitado, sendo gravado por Erasmo Carlos (que gravou Manchas e Intrigas), Marina (que fez muito sucesso com Eu Te Amo Você) e cantou em Quem Sofre Sou Eu, e Lulu Santos, que também colaborou tocando guitarra em Nossa Energia, ambas canções contidas em Choque. O low profile de Kiko contribuía para a construção de uma imagem de bom rapaz, que garantiu a ele um lugar de certo destaque ao longo dos anos de 1985/86.

Seu próximo disco, Quadro Vivo, lançado em 1986, ainda emplacou uma canção na trilha sonora da novela Roda de Fogo, Alguém, já num formato musical próximo da música negra, com Kiko admitindo a influência de Prince. O disco seguinte, homônimo, ainda teria Você Perde com relativo sucesso, mas a popularidade de Kiko atingiria níveis altíssimos quando fez uma péssima versão em português de Hey Jude, para a trilha sonora da novela Top Model. A canção teve altíssima rotação e chegou ao primeiro lugar nas paradas de sucesso, mas também configurou Kiko como um artista potencialmente mais popular, o que causou grande pressão por parte da gravadora para que algo no mesmo gênero fosse feito novamente. Kiko acabou saindo de cena, passando uma década de 1990, bem distante da mídia, só voltando à ordem do dia, quando o Capital Inicial incluiu uma versão de Primeiros Erros em seu Acústico MTV. Dinho e cia. resolveram chamar o próprio Kiko para participar do especial e da gravação do disco, com extremo sucesso. O resultado foi uma grande excursão conjunta pelo país, dando novo gás à carreira de Zambianchi, que foi contratado pela Abril Discos, lançando Disco Novo, em 2002.

Choque está fora de catálogo há tempos e só pode ser encontrado à venda em sites da internet, com preços que variam de R$ 30,00 a R$ 70,00.

Loading

MARCADORES: Cadê?

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.