Cadê – Hojerizah – Hojerizah (1987)

Ótimo disco da banda é frequentemente esquecido dentro do escopo de bandas brasileiras dos anos 1980

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O quarteto carioca Hojerizah é o que se pode chamar de coadjuvante da cena roqueira nacional nos anos 1980, o que não significa que sua obra seja menos interessante ou importante que muitas bandas mais conhecidas do período. O jornalista Arthur Dapieve cunhou uma expressão bastante feliz para caracterizar formações desse quilate: bandas de segunda divisão do rock nacional, ou BRock, de acordo com outro termo inventado por ele. De qualquer maneira, a tal “segunda divisão” tem mais a ver com o tamanho do sucesso alcançado pelo grupo e a dimensão de seu público. Apesar do ex-vocalista do Hojerizah, Toni Platão, ter alcançado certa visibilidade nos anos 90 por conta de participações em torneios de futebol da MTV, o Rock & Gol, seria injusto esquecer que Platão lançou discos solo, um deles, Calígula Freejack (2000), bem interessante.

A história dos rapazes começa com a amizade do baixista Marcelo Larrosa e Toni Platão. Os dois foram colegas de universidade no início dos anos 1980 e solidificou-se a partir do encontro em um ensaio do grupo em que Larrosa estava. Saíram de lá com planos de tocar juntos, sendo que Platão não era o que podemos chamar de “guitarrista virtuoso”. Após idas e vindas em meio a efêmeras formações e mudanças de line up, vamos encontrar Toni já na Faculdade de Comunicação conhecendo aquela fauna típica de todo curso universitário de Ciências Humanas, que se encontrava num barzinho próximo. Larrosa, que não estudava por lá, batia ponto para encontrar o amigo e participar de uma nova turma que se formava.

Aos poucos, as futuras letras do Hojerizah foram surgindo em meio à ideia de “ter uma banda”, algo que não passava, necessariamente, pela capacidade de tocar algum instrumento. Com isso, a primeira formação do grupo tinha Manoel Martins (conhecido como Manolo Kaos), Flávio Murrah (guitarra), Toni (guitarra base) e Larrosa (baixo). A bateria seria ocupada por várias pessoas, sendo que Rogério Vieira segurava as baquetas nos dois primeiros shows do grupo, no bar Western, na zona sul carioca. A princípio, tocar por lá e apresentar o mix de Rock independente inglês daquele 1984 com pitadas de Pink Floyd era um caminho para beber de graça, azarar as meninas. Com a saída de Manolo dos vocais, Toni assumiu a função e o grupo ganhou um poderoso diferencial: o canto operístico do ex-guitarrista.

Com a chegada de Álvaro Albuquerque para substituir Rogério Vieira, a banda ganha sua formação mais duradoura. Em pouco tempo lançavam um compacto com Pros Que Estão Em Casa e Que Horror com a chancela do programa televisivo BB Videoclip, que passa a veicular um clipe improvisado de Que Horror. Aos poucos, durante o ano de 1985, as duas canções da banda entraram também na programação da Fluminense FM, aumentando a visibilidade do Hojerizah, que foi convidado para gravar seu primeiro disco pelo selo Plug, divisão da RCA. Entraram em estúdio seguindo a rotina de empreender jam sessions sobre o material que Murrah trazia durante a tarde e gravar de noite. Várias canções dos primeiros tempos foram incluídas, dando a Pros Que Estão Em Casa a condição de hit em potencial. Influências cinematográficas pipocavam por todos os lados, com o grupo chegando a reproduzir uma cena do filme Un Chien Andalou (Luis Buñuel) na capa do álbum, que ganhou o nome do grupo. Apesar se obter relativo sucesso nas rádios mais populares, o Hojerizah especializou-se em emissoras mais alternativas, como a própria Flu FM, onde continuaram tocando normalmente. Pros Que Estão Em Casa, com letra de Rômulo Portela, conhecido do universo de barzinhos pós-faculdade, fez bonito nas paradas de sucesso.

O álbum teve participação de Dominguinhos na faixa Tempo Que Passa e vários efeitos especiais (copos quebrando, interrupções na gravação simulando falta de luz) feitos no peito e na raça, num tempo em que não havia computadores ou samplers para ajudar. Havia também, segundo declarações do próprio Toni Platão, um certo parentesco com o lado mais lírico e triste do Samba. Essa influência não surge nas melodias ou arranjos, mas em versos melancólicos como As longas datas em que passei, perdido na cadência dos dias (em Senhora Feliz) ou Mais um gole não importa, luz que se acende para os outros, que se apague para mim (em Tempestade Em Viena). A produção de Marcelo Sussekind deu a polidez necessária ao som do grupo, tornando-o bem próximo do que faziam bandas como The Smiths naquela virada de 1986/87. A banda lançaria um segundo disco em 1988, Pele, com o sucesso moderado de Belos E Malditos e acabaria depois, sem muito alarde. Platão seguiu carreira solo e participa de programas esportivos no rádio. Murrah hoje é evangélico e segue carreira como músico. Álvaro e Larrosa deixaram a música, mas a banda se reúne em ocasiões bissextas.

Os discos do Hojerizah nunca foram lançados em CD, mas suas músicas foram agrupadas numa coletânea da série Hot 20, em 1999. Essa coletânea pode ser encontrada por valores entre R$ 100,00 e R$390,00.

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ARTISTA: Hojerizah
MARCADORES: Cadê?

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.