Cadê – Inimigos do Rei – Inimigos do Rei (1989)

Estreia da banda carioca teve sucesso nacional em época de transição

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O fim da década de 1980 se aproximava sem que houvesse uma renovação na cena do Rock brasileiro. Ainda que bandas grandes, como Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Engenheiros do Hawaii, Titãs e Legião Urbana dominassem as paradas de sucesso neste ano, o estilo dava sinais evidentes de desgaste. Formações intermediárias, como Biquini Cavadão e o nascente Nenhum de Nós também respondiam com canções interessantes e capazes de bom desempenho nas listas de canções e discos mais vendidos e executados mas o cenário mudaria totalmente em um ano, quando o domínio da música Sertaneja e dos grupos de Lambada, redefiniriam o gosto popular do brasileiro urbano, num processo que continua atuando nos nossos dias. O Rock sairia de cena lentamente, perderia espaço gradativamente e só teria alguma renovação a partir de 1992/93, com a presença da MTV Brasil já em atuação.

Além disso, duas instâncias do mecanismo de revelação e difusão de novos talentos do Rock no país já não funcionavam mais. A Rádio Fluminense FM já não era aquela emissora astuta e revolucionária do início da década e o Velho Guerreiro, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, falecera em julho do ano anterior, deixando a Globo sem sua principal vitrine de exibição de novos artistas. Apesar da emissora tentar preencher o vácuo com o Domingão do Faustão, o efeito nunca seria o mesmo. O mercado, portanto, estava em transição. Talvez por isso a ascensão de uma banda como Inimigos do Rei, praticante de uma sonoridade menos enguitarrada e cheia de canções com letras humorísticas. Era a indústria musical apostando em novas alternativas para os novos tempos.

Formada a partir do grupo vocal Garganta Profunda, Inimigos do Rei se apresentava como uma opção pouco engajada e capaz de trazer admiradores fora das fileiras mais ortodoxas dos fãs de Rock. Com a formação original trazendo Luiz Guilherme, Luiz Nicolau, Paulinho Moska, Marcelo Marques, Marcelo Crelier, Marcus Lyrio e Lourival Franco, a banda militou por dois anos no cenário alternativo da noite carioca. Após um contrato com o selo Epic/CBS fez sua estreia em disco em 1989, aproveitando a exibição da simpática novela global Que Rei Sou Eu?. Toda aquela confusão entre os nomes e as performances engraçadas do grupo contribuiam para a existência de um certo sentido na proposta dos sujeitos. O primeiro sucesso do álbum homônimo a ganhar as rádios foi Uma Barata Chamada Kafka, que misturava letra nonsense com influência de literatura contemporânea, numa mistura improvável, mas que se mostrou eficaz. A canção tomou de assalto todos os ambientes possíveis e o amplo espectro do grupo o credenciava para apresentações em programas tão distintos como o Xou da Xuxa e o Globo de Ouro, para mencionar apenas as atrações globais.

Pouco tempo depois, viria o segundo sucesso, ainda maior que Kafka, que atenderia pelo singelo nome de Adelaide, uma versão safada de You’ll Be Illin’, dos rappers do Run DMC. Com versos do calibre de “Adelaide, minha anã paraguaia”, a música fez a delícia dos programadores, das crianças, do ouvinte médio, que buscava novidades no rádio. Nem tudo era superficial no ideário do grupo: Paulinho, Luiz Nicolau e Luiz Guilherme tinham talento como vocalistas e o tempo vivenciado nas fileiras de Garganta Profunda trouxe a eles a noção de que era possível misturar nuances e detalhes de diferentes ritmos musicais numa caldeirada “Rock” mais, digamos, democrática, sem abrir mão de alguns elementos. Estavam presentes nesta primeira empreitada em disco o guitarrista André Abujamra, integrante do duo Os Mulheres Negras, além de gente como o percussionista Marcos Suzano, o trompetista Bidinho e o guitarrista Torcuato Mariano, que também assina a produção.

O grupo lançaria um segundo disco em 1990, Amantes da Rainha, que não chegou a fazer sucesso como o antecessor. Mesmo assim, a banda recebeu o convite para se apresentar na segunda edição do Rock In Rio, no Maracanã, sofrendo perda considerável logo em seguida, com a saída de Paulinho Moska, principal compositor, rumo a uma carreira solo bastante frutífera. O grupo continuou na ativa até o lançamento de Arquivo, em 1997. A partir de 2009, o trio Inimix, formado por Marcelo Crelier, Marco Lyrio e Marcelo Marques, segue levando o legado do grupo adiante. Os dois primeiros álbuns jamais foram lançados em CD.

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MARCADORES: Cadê

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.