Cadê: “Mondo Cane”, de Lulu Santos (1992)

Fora de catálogo há 20 anos, disco do cantor foi o que emplacou menos sucessos mas não por isso deve ser ignorado

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Lulu Santos é um dos maiores hitmakers da história da música brasileira e isso não se discute. O cara é (ou era) excelente guitarrista, bom compositor e dono de um senso pop invejável. Sua carreira tem momentos dourados e outros nem tanto, mas, se há algo marcante na trajetória de Lulu é a capacidade de manter sua música sempre em dia com a modernidade. Após uma década de 1980 praticamente perfeita, Lulu Santos colhia os frutos de uma guinada artística mal planejada. Lançara em 1989 o disco Popsambalanço e Outras Levadas, no qual trilhava caminhos paralelos ao Samba Rock setentista e à MPB mais tradicional, que só se materializou nas rádios por meio de um hit menor: Brumário.

Mesmo com o sucesso decaindo, Lulu prosseguiu em seu flerte com ritmos brasileiros e soltou um disco ao vivo chamado Amor À Arte, o qual trazia até uma lambada chamada Lei da Selva. O trabalho seguinte, Honolulu, só emplacou nas rádios a risível versão de I’m A Believer, chamada Eu Acredito, com o temerário verso “Eu pensei que o amor fosse mole, algo assim, como requeijão” e logo Lulu estava de volta à prancheta em busca de algo digno para continuar sua carreira.

Os tempos de grandes hits ficara pra trás e uma mudança de ares podia fazer algum efeito. Lulu assinou contrato com a gravadora Philips/Universal e decidiu lançar um disco com guitarras altas, letras depressivas e formado apenas por composições de sua autoria. Além disso, Lulu assinaria a produção e os arranjos do futuro trabalho, batizado como Mondo Cane. O início da década de 1990 não foi um período favorável para o pessoal do Rock oitentista brasileiro. Tudo havia mudado muito rápido, ou seja, o Pop/Rock de matriz anglo-americana já não era mais absorvido pelas rádios e pela MTV, era preciso abrasileirar o som, buscar referências locais, justo num tempo de modernidade e globalização. Lulu Santos demorou a encontrar seu caminho na nova década e Mondo Cane seria sua última tentativa antes do acerto, quando associou-se ao DJ Memê e decidiu empreender um grande flerte com a música dançante, inclusive chegando a conduzir um namoro firme com o Funk carioca.

Mondo Cane era o oposto disso e, como podemos imaginar, foi um fracasso retumbante. Emplacou dois sucessos, Foi Mal e Apenas Mais Uma de Amor, esta última, uma balada típica da lavra de Lulu Santos, tornou-se um grande hit. O restante do disco, no entanto, tem grande qualidade. Há belos espécimes pop/rock como Um Vício, que abre os trabalhos, A Coisa Certa, Ecos do Passado (cheia de distorções) e a melhor do álbum, Fevereiro, com imagens alternando caos e carnaval. Houve gente que relacionasse o peso (relativo) das canções de Mondo Cane ao movimento Grunge, algo que, certamente não procede, mas talvez a vontade de gravar um disco roqueiro, cheio de amplificadores analógicos e um certo ar vintage, tenha Lenny Kravitz como modelo, na época lançando seu segundo álbum, Mama Said, cheio de detalhes e acenos ao passado.

Mondo Cane ficou para o passado, vendeu cerca de 60 mil cópias (desempenho fraquíssimo para a época) e encerrou a curta passagem de Lulu pela Universal. Ele regressaria para a BMG/Ariola e lançaria Assim Caminha a Humanidade dois anos depois. Entre 1992 e 1994, no entanto, Lulu foi mais um artista difícil, atormentado e em busca de um rumo para sua carreira. Bem diferente do jurado do The Voice Brasil, sua mais recente persona.

Mondo Cane está fora de catálogo desde 1992 e jamais foi reeditado. Em sites da internet ele pode ser encontrado por cerca de R$300,00.

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ARTISTA: Lulu Santos
MARCADORES: Cadê?

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.