Cadê – Sempre Livre – Avião de Combate (1984)

Primeiro disco do grupo é autêntico representante do Rock de Bermudas

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Estamos no Rio de Janeiro, 1983. Se você pousa seus olhos nos textos semanais de Cadê ou está a par da história do Rock brasileiros dos anos 1980, já sabe que uma eventual linha do tempo do estilo seria dividida em janeiro de 1985, quando teve lugar o primeiro Rock In Rio. Depois do festival, tudo mudou, principalmente nos quesitos que envolviam investimento das gravadoras e exposição da mídia. Antes do evento, apesar de evidentes demonstrações de viabilidade comercial, o Rock brasileiro ainda engatinhava e tentava obter relevância artística. No meio deste processo de amadurecimento, várias bandas e artistas surgiram e sumiram com rapidez, mas sua existência conferiu importância àqueles tempos pré-1985. Uma dessas formações efêmeras foi a banda carioca Sempre Livre.

Formada por Dulce Quental (voz), Flávia (baixo), Lelete (teclado), Lucia (bateria) e Marcia (guitarras), Sempre Livre surgiu como uma variante feminina de grupos que surgiam na noite carioca, cheia de companhias de teatro, surfistas, gatinhas, cocotas, cocadinhas e gatões. A ideia por trás da banda era ser totalmente composta por mulheres, numa espécie de revisita ao conceito do grupo Frenéticas, formação pioneira da Disco Music brazuca, que fizera muito sucesso alguns anos antes. A diferença estava, aparentemente, no espírito roqueiro da nova empreitada, na qual as meninas tocavam seus instrumentos e cantavam, em vez de só cantar e dançar. Com a presença de Patrícia Travassos (ex-integrante do grupo Asdrúbal Trouxe O Trombone e parceira de Evandro Mesquita nas composições da Blitz e Ruban (não por acaso, produtor das Frenéticas) na concepção da coisa toda, as meninas foram escolhidas ao longo do ano de 1983, chegando na formação final após várias idas e vindas de integrantes, sendo Dulce a última a entrar. Para sublinhar as intenções do projeto, o nome da banda foi escolhido a partir de famosa marca de absorvente feminino. Tudo fazia sentido.

Com a produção de Mariozinho Rocha, o primeiro compacto foi lançado no verão de 1984, com a faixa Eu Sou Free, de Patrícia e Ruban, que logo chegou ao topo das paradas de sucesso, iniciando uma vendagem que ultrapassaria 35 mil cópias. Era o sinal verde para o LP Avião de Combate, estreia do grupo, ser lançado pela gravadora CBS. Além de Eu Sou Free, o disco traria dois outros sucessos massivos: a romântica Esse Seu Jeito Sexy de Ser, também de Patrícia, em parceria com Evandro Mesquita e Lui, além de Fui Eu, de Herbert Vianna, que também gravara uma versão no álbum que sua banda, Paralamas do Sucesso, estava gravando na mesma época, intitulado O Passo do Lui. Estes três hits serviram para catapultar Sempre Livre para o sucesso nacional, sendo a banda incluída na programação de vitrines como Cassino do Chacrinha, Programa Raul Gil e Clube do Bolinha, entre outros, além de viabilizar uma temporada de shows em vários lugares do país, nos quais as meninas enfrentaram com coragem um machismo impressionante. Muito da irrelevância que a “cri-crítica musical” encontrava no grupo era o fato de ser composto apenas por mulheres e da linha musical ser o Pop Rock. Muito também se devia ao fato delas chegarem à mídia antes das paulistanas de As Mercenárias, banda Punk contemporânea da Sempre Livre.

A formação inicial durou apenas um disco, com Lelete, Márcia e Dulce Quental saindo logo após, esta última para iniciar uma carreira solo elegante, a partir de 1986. Com a entrada de Tonia Schubert (vocais), Rosana (guitarra) e Sônia (teclado), a banda registrou um segundo disco homônimo e, após nova mudança generalizada, um terceiro álbum, chamado Vícios da Cidade, em 1991. Hoje em dia, apenas Lucia segue no grupo, que interrompeu suas atividades por muito tempo, mas realiza shows ocasionalmente.

Representante autêntico do que os paulistas chamavam de Rock de Bermudas, Sempre Livre foi uma simpática formação musical, com destaque nessa metade ingênua e arejada do estilo durante a década de 1980. Avião de Combate foi lançado em CD recentemente mais encontra-se fora de catálogo, chegando a custar mais de R$ 175,00 em algumas lojas.

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ARTISTA: Sempre Livre
MARCADORES: Cadê?

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.