Cee Lo Green – Boa Praça e Talentoso

Cantor americano mostra talento e carisma de sobra

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Em algum lugar de 2006, Cee Lo Green surgiu para o mundo através da execução massiva de uma canção: Crazy. Era o grande cartão de visitas de um projeto de Danger Mouse, produtor malandro e articulado, visando levar adiante uma ideia de modernização, com o chamado pé no freio, da música mais Pop. E o que era isso? Batidas moderadas, clima luxuoso, minimalista e uma escolha magistral em termos de vocalista. O registro de Cee Lo foi o grande trunfo da canção e o projeto – Gnarls Barkley – mostrou-se interessante logo em seu álbum de estreia, chamado St. Elsewhere. Mesmo assim, o boa praça Green tinha finalmente recebido a chance de ouro para estampar sua cara redonda no planeta.

Cee Lo, nascido Thomas DeCarlo Calloway, na Atlanta de 1975, já vinha tentando emplacar desde meados dos anos 1990. Inicialmente a bordo do grupo de Hip Hop Goodie Mob, o qual dividia com seus parceiros Big Tipp, T-Mo e Khujo, Cee Lo não teve quase nenhuma projeção além do burburinho da cena local, na qual outro grupo do mesmo estilo, Outkast, também iniciava sua trajetória. Mais tarde, uma variação peculiar do Hip Hop surgiria por lá, conhecida como Dirty South. Tudo bem, Green continuaria a militar ali até 1999, quando saiu para sua carreira solo. Apesar de gravar alguns bons álbuns, Cee Lo não teria sucesso significativo até reencontrar um velho camarada das noites em Atlanta, Brian Joseph Burton, DJ e produtor, que atendia pelo simpático nome Danger Mouse.

O sujeito tinha mudado completamente sua abordagem após ir morar na Inglaterra. Lá, devidamente inteirado dos contatos e locais certos, tornou-se amigo de Damon Albarn e logo foi convidado para participar e produzir o segundo disco de Gorillaz, Demon Days. A partir daí, Mouse foi adotado pela galera moderníssima dos dois lados do Atlântico, gente interessada em fazer música do século 21 com cara de anos 1970/80 sem parecer nostalgia ou revisionismo. Gente como The Rapture, The Black Keys e Beck, por exemplo. Estes contatos fizeram Danger mudar sua concepção musical. E o encontro com Green era o sinal verde para que colocasse seu projeto em prática.

Gnarls Barkley, a dupla com Cee Lo, nasceu da vontade de incorporar certo pedigree vocal às invenções e revisitações que Danger vinha promovendo nos discos alheios. Dito e feito: St. Elsewhere, o primeiro álbum da dupla, caiu como uma bomba nas paradas do planeta, logo despertando curiosidade sobre a voz que conduzia as melodias, especialmente Crazy, a canção que levaria o Grammy de Melhor Gravação Alternativa alguns meses depois. Apesar do brilho da produção, a voz de Green foi a grande novidade trazida pelo duo e nada impediria que Cee Lo caminhasse para o estrelato mundial. Sua voz já era conhecida dos dois álbuns solo que lançara até então, Cee Lo Green And His Perfect Imperfections (2002) e Cee Lo Green Is The Soul Machine (2004), ambos voltados para uma trilha musical bem próxima do revivalismo Soul que ganhou corpo a partir dos anos 2000. Ainda que sejam bons e revelem um vocalista com grande potencial, os discos não fizeram sucesso e Danger Mouse apostou sua nascente credibilidade num semi-desconhecido para seu projeto decolar. Deu no que deu.

Apesar de interessante, Gnarls Barkley não conseguiu se firmar em termos de projeto legal que leva a música Pop para caminhos novidadeiros. O primeiro disco não produziu hit do mesmo calibre de Crazy e o segundo trabalho, The Odd Couple, passou despercebido em 2008, apesar de conter boas canções como Run (I’m A Natural Disaster) e Who’s Gonna Save My Soul. A verdade é que Cee Lo conseguiu deixar sua marca na engrenagem da música planetária basicamente através de sua presença em Crazy. Em 2010 ele soltaria seu mais bem sucedido trabalho solo, The Lady Killer, autoproduzido e com a presença de uma galera na pilotagem do estúdio. Um improvável, porém irresistível hit viria deste trabalho, a sensacional Fuck You, cantada com gosto por Cee Lo. Outra canção interessante do álbum é Fool For You, na qual Green recebe o sensacional Phillip Bailey, vocalista do combo Soul/Funk Earth, Wind & Fire. O carisma do nascente astro fez o resto e The Lady Killer galgou as paradas de sucesso mundiais.

A imagem bonachona e extravagante de Cee Lo ajuda bastante. Em 2011 ele seria convidado para integrar o juri de The Voice, feito que repetiria em 2013. No mesmo ano foi convidado pelo diretor irlandês John Carney para viver o rapper Troublegum, um papel importante no adorável filme Mesmo Se Nada Der Certo, no qual contracena com Keira Knightley e Mark Ruffalo em uma história cheia de música, romance e excelentes sacadas. Logo após o lançamento do longa, Cee Lo já entrou em estúdio para lapidar as canções de seu excelente novo trabalho, Heart Blanche, lançado recentemente. Ao mesmo tempo, ele e Danger Mouse já engataram as agendas para a confecção de um novíssimo e muito aguardado terceiro disco de Gnarls Barkley e uma turnê de reunião de Goodie Mob também está nos planos, mostrando que o sujeito não dorme no ponto e está cheio de energia criativa.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.