César Lacerda: Desenhando Linhas

Músico comenta processo criativo de seu segundo álbum, “Paralelos e Infinitos”

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Fotos: Daryan Dornelles

Visualize uma linha, ou um par delas. Creio que nossa educação formal em geometria na infância e na adolescência nos faça pensar logo em retas, estejam elas ao lado ou não uma da outra. A história que César Lacerda conta em seu segundo disco tem a ver com isso, a vida em casal como duas linhas lado a lado que nunca se encontram no infinito, porque já estão próximas o suficiente para precisar de um desvio. O mais interessante é como todas as linhas – sejam as melódicas ou as de raciocínio – são sinuosas entre seu primeiro trabalho e este Paralelos e Infinitos, que será lançado ainda neste primeiro semestre.

Em entrevista ao Monkeybuzz, o músico mineiro comentou que seu Porquê da Voz (2013), era “tudo muito” (de uma grandiosidade impressionante, como em Herói), enquanto o novo traz maior discrição em timbres, estruturas e versos, que comentam seu relacionamento com a artista Victoria Vasconcelos. “Pra falar de mim, eu precisei pisar no freio”.

Mas a história começou de outra forma, não da reunião de músicas sobre o casal. Foi com seu amigo, o produtor Pedro Carneiro, que convidou César para conhecer seu home studio. “Conheço o Pedro Carneiro há muitos anos, talvez há uns cinco, seis anos”, comenta “ele foi um dos primeiros compositores que conheci ainda no período inicial da minha mudança para o Rio de Janeiro e que, desde a primeira escuta, me senti completamente encantado pelo universo estético e pela leitura única e característica que ele tem da música”.

A parceria rendeu gravações que começaram durante a turnê de Porquê da Voz, mas sob um novo espírito. Ao invés de ter tantos músicos no estúdio, a liberdade de poder criar em um clima intimista: “Depois de umas seis horas enfurnado naquele quarto, eu já tinha gravado diversas ideias do arranjo que nasceram ali, imediatamente, em clima quase que de brincadeira”.

“Não pensei em nada antes de entrar em estúdio”, revela, “tive que convencer o produtor (risos)”. A conquista dessa liberdade veio também como necessidade para dar vazão aos temas pessoais contidos a obra, principalmente após fazer um disco com canções de narrativas em terceira pessoa (“cheio de intelectualidade”), como em Simone de Santarém, para agora falar em “eu”, em “você” e em “nós” em músicas batizadas como Algo a Dois e Love Is.

“O processo de gravação do meu primeiro disco e a sua turnê (com quase quarenta shows, que passaram por seis países) foram muito importantes para a construção de certas percepções minhas sobre a minha música e a minha carreira”, conta Lacerda, “entender que um capítulo da minha história ia chegando ao final e que era necessário mover o meu leme para uma nova direção, foi o que possibilitou construir essa nova ideia de disco”.

E escrever sobre sua própria vida e intimidade requer certa coragem, decisão que César precisou tomar. “Penso que acesso a tanto assunto que há hoje faz com que a gente busque alguma âncora, uma forma de identificação”, explica, “e o amor é a maior instância poética que existe. É algo tão grande que precisa pedir licença, mas vem como um convite ao ouvinte no disco novo”, algo que ele afirma não necessariamente existir no anterior.

Os nós das impressões prévias de Paralelos e Infinitos serão desatados em breve para revelar uma musicalidade diferente da percebida em Porquê da Voz, mas que deve agradar em cheio o fã de música brasileira contemporânea – e ter nomes como Cícero, Mahmundi e Lucas Vasconcellos (Letuce) em participações no disco (tocando órgão, machine drum e guitarra, respectivamente) só aumentam a curiosidade. Que venha o convite à audição.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.