Coleção de Selos: 4AD

Uma das maiores e mais icônicas gravadoras independentes chega aos seus 30 anos contemplando artistas inovadores e sonoridades vanguardistas

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Pode-se dizer que a história da 4AD teve seu inicio na verdade alguns anos antes de Ivo Watts-Russell e Peter Kent criarem em 1979 o selo Axis Records (futuramente renomeado como a conhecemos hoje em dia). Os rumos da empresa sempre estiveram tão ligados aos da Beggars Group (patriarca de outros selos, como Rough Trade Records, Matador Records e XL Recordings), que o crescimento das duas chega a se misturar e entrelaçar em diversos pontos durante esses mais de 30 anos de existência.

Sendo criada como uma espécie de “plataforma de testes” para novos artistas que iriam futuramente de se unir ao catálogo do Beggars Banquet Records, a então Axis tinha como principal proposta buscar novos artistas e sonoridades vanguardistas – mote que é seguido até hoje pela empresa -, porém na prática essa troca de figurinhas raramente aconteceu e todos os grandes achados da 4AD acabaram ficaram dentro da própria casa.

Um dos primeiros nomes descobertos por Ivo e Peter, o grupo gótico liderado por Peter Murphy, Bauhaus, foi o responsável por tirar o nome do selo do anonimato e por se tornar um de seus primeiros lançamentos de grande sucesso – In the Flat Field (1980), disco de estreia do grupo britânico, se tornou o primeiro grande álbum da 4AD.

Nesta mesma época (ainda no ano de 1979), o duo se viu impossibilitado de usar a marca Axis, pois já havia outra gravadora com o mesmo nome e de um flyer, utilizado para a propaganda destes seus primeiros singles, retirou seu atual nome. Em uma tipografia não muito diferente da atual se via o seguinte slogan:

1980 FORWARD
1980 FWD
1984 AD
4AD

Como nome novo e uma ótima curadoria, o selo, nos anos seguintes, se tornaria a grande modelo para outras gravadoras independentes que surgiriam nos próximos anos (incluindo suas irmãs Matador, XL e Rough Trade). Outra marca que a 4AD deixou para suas seguidoras é ter uma sonoridade dominante, uma identidade musical (que logicamente mudou conforme o tempo).

Durante estes mais de 30 anos, diversas cenas se viram representadas e emolduradas ali: um som mais etéreo (e até mesmo gótico, dando continuidade aos primeiros lançamentos do Bauhaus) durante quase toda a década de 1980 – representado por nomes como Cocteau Twins, Dead Can Dance e This Mortal Coil (sendo este terceiro o primeiro e único supergrupo idealizado pela gravadora); o tão importante para os anos 90 College Rock também teve sua chance no selo com bandas como Throwing Muses e Pixies, nomes que mudariam, para a década seguinte, completamente a direção em que musicalidade da gravadora se apresentava.

Nos anos 90, o som cru e construído principalmente à base de guitarras continuou em voga, mas com bandas filhas de Throwing Muses e Pixies (que acabaram assim que começaram a fazer certo sucesso). Frank Black (Pixies) com seu trabalho solo, Kim Deal (Pixies) com The Breeders e Tanya Donnelly (Muses) com Belly marcaram esse inicio de década no selo e representaram muito do que foi o Indie Rock da época. Esse foi o fim de um ciclo, apelidado como “fase clássica da 4AD”, e ganhará um livro, Facing the Other Way, escrito pelo jornalista Harper Collins (com data de lançamento prevista para 19 de Setembro) – o nome faz alusão à Facing the Wrong Way, uma compilação lançada pelo selo em 1999.

Os próximos anos seriam marcados por uma maior pluralidade de estilos (ao contrário do que acontecia até então), abraçando desde o som dançante dos islandeses do Gus Gus até o som mais experimental (e inclassificável) do TV On The Radio. Refletindo a pluralidade do mercado – sem se importar se elas são deste ou daquele gênero, mas sempre primando pela qualidade -, mais recentemente, o selo tem se envolvido com bandas que tanto gostamos e falamos por aqui: Bon Iver, Daughter, Grimes, David Byrne & St. Vincent, Inc., Twin Shadow e The National, são só algumas desta extensa lista.

Discos fundamentais

Bauhauss – In The Flat Field

Não só esse foi considerado o pontapé inicial do estilo gótico que dominaria parte dos anos 80, como também o primeiro lançamento de peso do selo – e isso já em seu primeiro ano de vida.

Bon Iver – Bon Iver

O segundo e autointitulado álbum de Justin Vernon sob a alcunha de Bon Iver foi um dos mais estrondosos sucessos modernos da 4AD. Não à toa o álbum ganhou um Grammy e apareceu em tudo que é lista de melhores discos de 2011.

Pixies – Surfer Rosa

Bom, como você pode notar, Pixies desempenhou um papel importantíssimo na história do selo, seja contribuindo para os novos caminhos roqueiros adotados no fim dos anos 80 e começo dos 90 ou contribuindo com um dos maiores clássicos de sua história – nesse caso vale para a banda e para a gravadora.

The Breeders – Last Splash

Se não ao lado de Frank Black, Kim Deal faria mais um clássico, agora junto a Tanya Donelly (sim, aquela do Throwing Muses e Belly). O álbum completou 20 anos em 2013 e aproveitando o aniversário as moças irão passar por nossas terras mostrar um pouco dele ao vivo – imperdível, eu diria.

The National – High Violet

Esse é mais um daqueles clássicos modernos, quase que onipresente nas estantes de fãs do Rock feito nos últimos anos. E curiosamente este foi o primeiro álbum do grupo a aparecer no selo (grande parte dos anteriores foram lançados pelo Beggars Banquet, pai da 4AD), sendo seguido pelo ótimo Trouble Will Find Me.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts