Com compacto visual, hugo explica a mensagem que quer transmitir

“Satori/Vazio”, um single duplo, saiu no fim de setembro

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Fotos: Reprodução/YouTube

Conhecemos Hugo Noguchi há muito tempo como baixista (Ventre, SLVDR, Posada e o Clã) e produtor, além do seu trabalho experimental sob o nome Yukio. Em uma nova fase de sua carreira solo, agora como hugo, ele começou a mostrar sua mensagem através do compacto visual Satori/Vazio – single duplo acompanhado de vídeo, lançado no fim de setembro.

Falando ao Monkeybuzz por telefone, o artista carioca contou que “com o fim da Ventre e com outros trabalhos já saindo, eu consegui ter tempo e paz de espírito pra conseguir organizar as minhas coisas, o que eu quero dizer. Eu percebi que eu estava muito em função da mensagem dos outros. Por mais que tivesse alguma coisa minha, a essência não vinha de mim”.

Como ele comenta, “tocar baixo é uma paixão, uma parada que me define pra cacete -, mas eu comecei a perceber que eu tinha muita coisa engasgada e que não dava pra falar com uma banda, ou até produzindo. Tinha umas paradas que não estavam sendo ditas”. Ao trabalhar questões bastante pessoais, como o falecimento da mãe, hugo optou por “falar sobre mim, de coisas que estão lá dentro, mas que também são sobre o outro” – principalmente sua experiência como asiático no Brasil.

“É muito difícil falar de preconceito. No Brasil, os asiáticos ocupam um lugar muito específico. A gente tem acesso a privilégios brancos se aceita o lugar que botam pra gente”, explica, “comecei a ver que era um lugar meio confortável pra mim, mas, ao mesmo tempo, desconfortável pelas coisas engasgadas. Acho que a gente precisa falar isso, ser um autor também. É legal assumir esse lugar. E tem muita coisa que não é dita sobre isso e eu quero começar a dizer”.

Sem trabalhar com outros descendentes de asiáticos nas bandas, ele precisou carregar sua mensagem no formato “solo”. Tanto é que, nos dois momentos do vídeo lançado, ele está no centro da tela, expondo rosto e corpo, algo que ele considera fundamental para expor esse conteúdo. “Tem a ver com a autoestima de pessoas que não se sentem representadas ali na televisão”, comenta o artista, “vejo muita gente criticando a ‘militância de Instagram’, mas a galera só está incomodada com pessoas que não são brancas adquirindo autoestima, que estão incomodadas em não fazer parte disso”.

“Parece ser só um jogo de vaidade, mas é um jeito de subverter isso. No meio desse jogo de masculinidade branca e masculinidade negra, a masculinidade amarela ocupa um lugar muito esquisito. Ou a gente é feminilizado, ou a gente é emasculado. A gente é dócil, a gente é passivo. São preconceitos idiotas como qualquer outro preconceito. Por que que um cara japonês não pode se achar bonito? O cara tem que ficar no canto dele olhando pra baixo sempre? Não, foda-se”.

Depois de experiências com tantos músicos, palcos e estúdios, hugo entende que agora é o momento certo de focar nessa mensagem. “Eu não quero mais ser o melhor baixista do Brasil”, conta ele, “hoje, o baixo para mim é um meio, não um fim. Eu antes só queria tocar muito bem, hoje eu quero expressar outras coisas que não estão sendo ditas. Muita gente não vai entender, ainda mais hoje em dia, mas eu sinto cada vez mais vontade, justamente por causa desse tempo que vivemos”.

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ARTISTA: hugo, SLVDR, Ventre, Yukio
MARCADORES: Projeto Paralelo

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.