Cômico e Experimental: Jerry Paper É, no Mínimo, Excêntrico

Muúsico inventivo e sonhador criou um folclore próprio ao redor de sua identidade

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“Quem é esse maluco?” – esta é uma pergunta totalmente válida quando nos deparamos pela primeira vez com a figura nada enigmática, mas curiosa, do músico e produtor Jerry Paper. Sua fisionomia não nos indica muita coisas além de uma semelhança com o ator/cantor Michael Cera e seu som, um Lo-Fi com Synth-Pop moderno, robótico e lisérgico, é no mínimo excêntrico. Conhecer separadamente tais elementos, aparência e música, pode dar um nó no cérebro de qualquer um, o que nos leva à primeira questão abordada acima: Afinal, quem é Jerry Paper?

Você pode nunca ter ouvido falar deste sujeito (que se chama na verdade Lucas Nathan) que vive no Brooklyn, em Nova York, mas nada disso importa, pois é pelos ouvidos que podemos entender este hype nunca criado em relação ao seu som e porque que o pacote completo chama atenção. Em sua biografia, o músico se autodenomina uma entidade de onze dimensões que eventualmente ocupa o corpo 3D de Lucas, uma viajada explicação para um músico que parece realmente transitar em outro universo.

Uma simples busca de sua discografia em seu Basecamp revela um produtor prolífico e workaholic – de Dezembro de 2012 até Agosto de 2014, tivemos nada menos que sete discos lançados, cada um com uma identidade visual e musical bastante particular. Seu som é fácil de ouvir, enquanto apresenta diversas inspirações distintas: Vaporwave, computação gráfica da década de 1990 e Synth-Pop cantado como um perfeito Crooner, mas com um estilo obscuro e grave, como pudermos ver recentemente em artistas como Séculos Apaixonados e Mac DeMarco em Rock And Roll Night Club. A verdade é que Jerry Paper tem um toque cômico e experimental em seus trabalhos que não se reflete quando estamos diante de faixas como I’m Jerry, Right? ou a balada Today Was a Bad Day.

No entanto, tudo que engloba o músico é no mínimo excêntrico, seguindo sempre uma estética miníma e muitas vezes tosca que sinaliza um total desapreço por sua imagem. Ao mesmo tempo, é só vermos o clipe recente de Pond ou de Walter TV pra entendermos que a simplicidade gráfica em tais vídeos quase servem como provas vivas de conceitos – no caso, a computação gráfica – e que, na verdade, temos uma tendência visual famosa nos (sempre eles) anos 1990.

Talvez, a única coisa que Lucas Nathan propositalmente fez ao seu favor para que a personalidade de sua música tomasse forma e ganhasse audiência foi o “mockumentary” (documentário de zueira) sobre Jerry Paper. Nele, vemos a sua relação particular com seu gato, seu vício em Snapchats, seu estúdio de produção em uma casa aos pedaços por fora e tomadas pensativas de um músico que se preocupa com outras questões, como o existencialismo e a religião – cujo apreço por rituais religiosos o fez criar um que o transforma em Paper: coloca-se um colar havaiano ou robe de seda e pronto.

É hilário, bizarro e maluco, assim como seu último disco, Big Pop for Chamelon World que acompanha um jogo de computador extremamente surrealista e que tem baladas feitas com somente imitação de instrumentos reais, como harpa e trompete, compostos e interpretados somente com seu teclado. Assistir a um show dele pelo YouTube nos faz duvidar do que esse sujeito pode nos apresentar sozinho, no entanto, como ele costuma dizer muitas vezes, Jerry Paper é o exercito de um homem só do Synth Pop.

Sem querer ser levado a sério, ao mesmo tempo em que realiza uma turnê extensa no Japão (um centro musical que aceita e adora a diversidade (e, por que não, a bizarrice) com bandas como Homeshake, Jerry Paper sempre diz em entrevistas que uma pergunta totalmente coerente com quem se depara com ele pela primeira vez é: “este cara é um idiota?”. Não, Lucas Nathan não chega nem perto disso e você provavelmente ainda vai se deparar diversas vezes com suas melodias grudentas, irônicas e básicas, como em Feed me With Sounds de seu quinto disco, Feel Emotions. Como não viciar com um verso tão pegajoso como “Holy Shit/ I Feel Fucking Awful”? E, meio que pela tangente, pelo inesperado e talvez pela própria zueira, Jerry Paper é um músico que você realmente deve conhecer, nem que seja para atestar sua própria “sanidade”.

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ARTISTA: Jerry Paper
MARCADORES: Conheça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.