Conversamos com Warpaint sobre mulheres na música e Brockhampton

Quarteto californiano se apresentou no Rio de Janeiro em novembro

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Fotos: Eduardo Urzedo/Monkeybuzz

Por Ana Laura Pádua e Isabela Yu

MB

A cena musical está mais receptiva com as mulheres?

WARPAINT

Mais meninas estão vendo que é possível trabalhar com isso. Temos muita sorte. Nosso caminho já tinha sido desbravado por mulheres do início do punk, como Patti Smith – elas tiveram que realmente quebrar o sistema.

Se vivemos em um cenário musical – um pouco – menos masculinizado nas últimas décadas, tem a ver com o aparecimento do quarteto californiano Warpaint. Formado por Theresa Wayman, Emily Kokal, Jenny Lee e Stella Mozgawa, possuem três discos lançados ao longo dos anos, cada um trazendo experimentações musicais, aspectos diferentes delas mesmas e muita maturidade de estrada. Descontraídas e transparentes, passamos uma tarde com elas, desde o soundcheck até minutos antes do último show marcado no país – uma noite chuvosa e lotada no Hub, espaço de shows no Rio de Janeiro.

Além do trabalho em conjunto, cada integrante tem o seu próprio projeto solo. Theresa é TT e Jenny pode ser encontrada como jennylee. Já Stella, é responsável pela bateria em discos de artistas como Kurt Vile e Kim Gordon. Emily é DJ, faz duo com o músico deafmute e já emprestou os vocais para o Red Hot Chilli Peppers – escute com atenção o backing em “Desecration Smile”. No próximo mês, a banda é responsável por produzir duas noites de shows em Los Angeles, comemorando o aniversário de 15 anos dessa união.

Trabalhar em grupo não é tão fácil como parece, e elas reconhecem isso. Emily faz um balanço da dinâmica de cada uma delas e explica a importância de espaço com o passar do tempo: “Com certeza é mais árduo por ser uma jornada dupla, mas também é bom para a banda. Se cada uma tem sua individualidade, colaborar fica mais fácil, além de não precisarmos da gratificação pessoal e dar a volta por cima do ego.”

Apesar do contraste, o Indie e o Rap não estão tão longes assim. O Hip-Hop vem ganhando proporções cada vez maiores, inclusive, Theresa afirmou em outras entrevistas que já pensou em ser rapper e que a fórmula que eles usam fazendo é perfeita. Por exemplo, loops, repetições e ganchos podem ser incorporados no estilo de produzir em uma guitarra. “Nós ouvimos todos os tipos de música e usamos de inspirações nas nossas composições – independente do estilo.”

A explosão feminina também é perceptível no Hip-Hop, dê uma olhada no lineup de festivais como Primavera Sound (Cardi B, Solange e Janelle Monáe são headliners). “A mudança de quando começamos e do que vivemos agora é muito clara. Não são apenas as mulheres da cena Indie que estão nos holofotes. Em vez de bandas, artistas de Rap e R&B dominaram as últimas edições do Coachella. As antigas estruturas estão se abrindo para experimentações”, comenta Emily.

Por aqui, além dos incontáveis desafios da sobrevivência das mulheres na música, ainda é visível o escasso número de artistas headliners em festivais e eventos. Warpaint, mais uma vez, provou a situação contrária com três apresentações aclamadas e lotadas no país. Responsáveis pelo encerramento do Balaclava Fest (SP) e do MecaFestival (POA), fizeram ainda noite inesquecível em show solo no Rio de Janeiro.

Os shows foram marcantes também devido ao fato de que elas terminaram o ciclo de quase três anos do disco “Heads Up”. Depois da América Latina, voltaram para casa, para assim iniciar os trabalho de um próximo álbum. E elas dão a letra, para uma performance mais polida, a banda tem que sempre praticar e tocar. “Quando estamos ao vivo, sabemos o que funciona e o que não funciona. Algumas músicas são esquecidas por anos – o que é uma coisa boa – para refrescarmos o setlist no futuro.”

“Essa é a melhor época para ver nosso show. Tivemos uma pausa longa depois de anos de estrada, as músicas estão realmente polidas e perfeitas.”

Com os dois olhos no futuro, se sentem realizadas e orgulhosas das músicas que lançaram e pela trajetória da banda. Sem nunca perder o bom humor ou a vontade de experimentar novas coisas. Um dos últimos nomes que chamaram a atenção delas, infelizmente, ainda é pouco conhecido no Brasil. “Vocês já escutaram Brockhampton? Sei que eles criaram uma casa como um selo independente. Se conheceram em um grupo online de fãs do Kanye West, formaram a banda e todos os integrantes passaram a viver junto. Super jovens, fazem músicas ótimas, além de terem a parte visual alinhada. Acredito que temos algo poderoso se unirmos estilo a esse tipo de organização horizontal. Quão legal é isso? A tecnologia criar oportunidades”, celebra Emily. “Três discos bons em um ano sem parecer apressados – soam realmente orgânicos”.

MB

O que estão escutando no momento?

WARPAINT

Recentemente, estamos escutando bastante Portishead e Massive Attack. E começamos a entrar de cabeça em coisas mais antigas como Tina Turner e Cyndi Lauper. Descobrir coisas que você não conhece [independente do ano de lançamento] te faz sair de sua zona de conforto e transformar seu senso musical.

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ARTISTA: Warpaint
MARCADORES: Entrevista

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