Deadmau5 e sua Incessante Crítica

Saiba o que tem por trás da máscara do produtor mais polêmico das redes sociais

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Se você é minimamente antenado nas contas digitais de seus ídolos, é possível perceber interações amigáveis e até alfinetadas entre eles. Mas, se você é fã de música Eletrônica, dificilmente iria passar despercebido a presença de Deadmau5 no Twitter. Sua conta já foi deletada uma série de vezes, mas, todas as vezes em que voltou, dividiu muita opinião entre a cena, fazendo fãs rirem e concordarem com suas críticas e também revolta de quem vestiu a carapuça. Joel Thomas Zimmerman usa uma máscara de rato em suas apresentações, mas dá a cara à tapa quando está conectado.

Dillon Francis no humor, Azaelia Banks na arrogância, sua teimosia e ousadia chega a um ponto de ser visto como rebelde por muitos semelhantes, mas a visão que se tem de Zimmerman é de um soldado que luta fervorosamente contra a superficialidade. Seja em caráter pessoal ou profissional, Deadmau5 deixa claro seu desgosto pela falta de conteúdo, com uma opinião mal pensada, como foi a de Tricia Evans, ou de comodidade musical, ou como a troca de tweets com DJ Sneak. Enquanto a primeira fez uma piada sobre o massacre em Colorado, o segundo foi acusado de “viver no passado” pra produzir seu trabalho.

E isso não é nem 20% do que já aconteceu. Deadmau5 já encrencou de Madonna a MTV. A rainha do Pop se embaralhou quando foi fazer uma pergunta ao publico do UMF, e acabou questionando se as pessoas teriam visto “Molly”, a música. O que talvez vocês não saibam é que a palavra também remete também droga MDMA, e levou um esporro – vamos combinar, bem hipócrita – do produtor. Já com a MTV, depois de ser nomeado para o prêmio europeu, perguntou no seu próprio Twitter se, “de alguma forma”, ele poderia sair da categoria. E aí a lista segue: já bateu boca com Afrojack falando que o produtor de Dutch não faz esforço algum para surpreender seu público com “novas coisas, sons e composições”, pediu que Justin Bieber vestisse roupa e ficasse fora de boates até crescer e até apagou tweets por receber ameaça de morte dos “little monsters” por criticar o nu-artístico de Lady Gaga feito com Marina Abramovic. Obviamente, tudo feito com bastante arrogância e uma dose caprichada de palavrões.

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Paralelo a isso, tivemos uma das discussões mais interessantes da rede, dessa vez com o, então, novato Porter Robinson. Após o garoto demonstrar empolgação por ter tocado em Miami, Deadmau5 aproveitou para declarar sua insatisfação com o Club. O que ninguém esperava é que o americano iria usar de deslizes do canadense na discussão. No meio de tweets, Robinson praticamente perguntou com que credibilidade iria ouvir alguém que já propôs casamento pelo Twitter, mencionando o ocorrido de 2012.

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Mas nada bate o que aconteceu esse ano no Ultra Music Festival. Publicamente cansado da febre do EDM, Deadmau5, que havia sido convidado para substituir Avicii que estava doente, trolou Martin Garrix ao vivo. Pediu para ser avisado caso o produtor tocasse Animals ou alguma contagem regressiva. Dito e feito. Na hora de sua apresentação, tocou uma versão editada do hit de 2013 do produtor holandês. O que poucos esperavam é que ao invés do tradicional drop, tocasse em mashup versão de Old MacDonald Had A Farm.

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A crítica nunca esteve tão ao pé da letra. Enquanto muitos criticavam e até pediam que Deadmau5 fosse banido de festivais, o canadense apenas provou sua teoria: no EDM ninguém presta atenção no conteúdo, dança-se qualquer coisa. Poucos ali perceberam de fato que se tratava de um apelo e é exatamente por isso que o gênero é tão críticado. Respondeu no seu Twitter que poderia até ser banido, mas que ele levaria toda os produtores que tocam exatamente a mesma coisa junto. Faz todo o sentido. Thomas poderia simplesmente deixar o garoto, de apenas 18 anos, curtir seu momento áureo, aceitar que óbviamente iria botar seu hit responsável por discos de platina em seu set, perceber que tudo isso é resultado de trabalho e que ele já esteve empolgado por ter uma grande plateia diante de si pela primeira vez. Mas era necessário usar uma faixa famosa para conseguir provar seu ponto. Martin Garrix só foi o azarado da vez.

Seu nível de excentricidade é tão grande que já causou revolta, inclusive, por customizar sua ferrari com um viral da internet, Nyan Cat, ou até por usar uma camiseta estampada com o número de celular de Skrillex. Esse talvez seja o motivo de tanto vai-e-volta de Deadmau5 de seu Twitter. Poucos entendem esse “senso de humor” e rebatem com uma onda de críticas o produtor. O que eles não percebem é que o barulho que causa tudo isso é proveniente do trombone da nossa própria consciência. Quando eu digo “nossa”, eu quero dizer dos amantes da música. Se gera polêmica como estratégia de marketing e branding pra própria marca (ou lançamento do futuro álbum), não é possível afirmar, mas de qualquer forma tá funcionando.

deadmau5

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Mesmo petulante e até sincero demais, pelo menos Deadmau5 se botou no patamar acima por entender que, da nova gama de artistas do EDM, ele sabe que não faz parte. Integra um pequeno nicho de músicos que realmente vê música como arte e uma forma de transmitir diferentes sensações, se esforça para trazer fórmulas diferentes – o que, definitivamente, não acontece no EDM. Entendo também que criando esses alardes em cima de tudo serve acaba conseguindo a mesma fama superficial que a Electronic Dance Music defende, mas tem o aval de fazer um trabalho excepcional que não é fruto de um ou dois hits com a mesma estrutura.

A liberdade de quem já construiu carreira e já fez seu nome na música possibilita que Zimmerman possa ser sincero com suas verdades a todo tempo, mexendo, na maioria das vezes, com quem está quieto. Sua indiferença quanto às consequências dessas atitudes demonstra muita segurança no seu trabalho e suporte de seus fãs. Não que esteja certo, mas diante de um cenário tão “diplomático e político” chega a dar alívio ao ver que alguém se impõe e tem coragem de vomitar algumas verdades e o melhor de tudo: ser ouvido. Mas ele faz isso com sorriso na cara. Enquanto muitos acham que ele leva a sério demais o que é falado nas redes sociais, o que acontece é exatamente o contrário. Muito do que é falado ou tratado pelo próprio Deadmau5 não passam de devaneios verbais, afinal o que esperar de um cara com uma tatuagem de Space Invader no pescoço? Enquanto isso, muita carapuça é vestida e muita gente se estressa, Deadmau5 continua sorrindo, ironicamente, por ser uma das contas com mais seguidores do Twitter.

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ARTISTA: Deadmau5
MARCADORES: Discussão

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King