Decepções De 2014: O Que Faltou Nestes Álbuns?

Alguns dos discos mais esperados do ano acabaram nos surpreendendo negativamente

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2014 está sendo um ano de ótimos lançamentos e creio que você pode listar uma dúzia deles sem muitos problemas. Se há os bons, há também os ruins e é deles que vamos falar nessa pequena lista.

Se esses discos foram até certo ponto decepcionantes, é porque muita expectativa precedeu seus lançamentos. Digo, não ligaríamos para eles caso não fossem de bandas que conhecemos e gostamos tanto. A propósito, duvido que um disco como Tyranny, de Julian Casablancas + The Voidz, causasse tanto alvoroço se fosse feito por qualquer outra banda nova e desconhecida.

Mais um ponto que une esse cinco álbuns que separamos é que parece ter algo faltando neles, algo que poderia ter deixado a decepção um pouco menor ou mesmo feito deles bons lançamentos. E é sobre isso que falaremos em seguida.

Pixies – Indie Cindy

O que faltou para Pixies? Basicamente, soar como Pixies. Ouvir Indie Cindy, primeiro álbum do grupo em mais de 23 anos, nos traz uma sensação no mínimo inquietante, como se algo ali estivesse errado ou faltando. Com faixas fracas (apresentadas ao longo da série de EPs EP1, EP2 e EP3), o álbum se torna uma pobre imitação de si mesmo, uma tentativa de emular seu próprio som desatualizado em duas décadas. Não me entenda mal, as composições antigas do quarteto se mantém contemporâneas até hoje, isso é inegável. Porém, nessa época, elas se construíam a partir da tensão entre Kim Deal e Black Francis. Com a saída da baixista, pouco resta além da arrogância de um músico autoindulgente e, pelo que parece, saudosista com seu próprio trabalho, que foi revolucionário há pouco mais de 20 anos.

“Assim, aquela sujeira sarcástica e arrogante dos primeiros lançamentos da banda, irreproduzível para quaisquer outros que não o próprio Pixies, dá lugar a um certo tipo estranho de autoparódia de guitarras distorcidas, como na introdução de What Goes Boom, no estranho viés Hard Rock de Blue Eyed Hexe ou mesmo na inusitada cara de Hardcore Melódico de Another Toe In The Ocean.”

Wolfmother – New Crown

As altas expectativas vindas com o lançamento surpresa de um álbum de Wolfmother logo foram por terra ao dar o primeiro play e foram substituidas pela atonicidade por parte do ouvinte (e lhes garanto que isso não aconteceu só comigo). Infelizmente, esse é o trabalho mais amador já lançado pela banda até então e digo isso não por ele não ter saído em uma grande gravadora, mas por tropeçar em diversos fatores técnicos básicos, como gravações mal feitas, vocais ruins e baterias estouradas em diversos momentos. Não fosse só isso, as faixas não empolgam em nada com suas melódias fracas, letras medíocres e até mesmo os solos de guitarra bem abaixo do que se espera de um músico como Andrew Stockdale. Ao que tudo indica, o álbum foi construído às pressas e o resultado está bem longe da alta qualidade exibida em discos como Wolfmother (2006) e Cosmic Egg (2009). O que faltou? Vergonha na cara, talvez. Porque talento esses músicos tem de sobra.

New Crown é até agora o ponto mais baixo da tal ladeira, e a impressão de ser uma continuação da obra solo de Stockdale só aumenta ao saber que o álbum conta com a mesma banda que gravou Keep Moving, que foi produzido pelo próprio músico e promovido também por ele – ao contrário dos outros discos que ganhavam o respaldo de uma grande gravadora.”

Bombay Bicycle Club – So Long, See You Tomorrow

Jack Steadman e companhia tentavam, ao que tudo indica, criar sua própria fórmula Pop, tentando encontrar nos meandros do estilo algo que coubesse em sua proposta musical e que somasse de fato ao que estava sendo feito na cena Indie Pop desde o lançamento I Had the Blues But I Shook Them Loose (2009). Depois de encontrar a tal receita em A Different Kind Of Fix, o grupo pareceu perder o interesse em tentar agregar algo novo a ela e, como resultado, fez um disco que ambiciona pouco musicalmente, por mais que Steadman cobiçasse assumir o papel de referência dentro do seu estilo. Algumas tentativas de hits e outras tantas músicas inexpressívas compõem esse disco, que parece se preocupar demais com a estética e pouco em soar atrativo como suas obras anteriores.

So Long, See You Tomorrow soa como uma repetição de fórmulas criadas pela própria banda, principalmente herdadas de seu último e mais interessante trabalho, A Different Kind Of Fix, misturadas com as estruturas Pop e refrões grudentos de outras bandas do gênero. Isto não torna estas músicas ruins por completo, de forma alguma, apenas superficiais e menos interessantes.”

Kaiser Chiefs – Education, Education, Education & War

Com uma banda como Kaiser Chiefs, é simplesmente impossível não comparar seus lançamentos e, mais que isso, usá-los como argumentos. Essa comparação surge principalmente pelo histórico da banda em não só fazer bons singles, mas também em produzir bons discos – o que, infelizmente, não foi o caso em seu mais recente lançamento. A falta do principal letrista da banda, o baterista Nick Hodgson, pode ser notada facilmente ao se ouvir a obra e verificar que por mais que o teor Pop, assim como as melodias radiofônicas, continuem bem presentes, a forma de mostrar seu conteúdo e de passá-lo ao ouvinte se perdeu no caminho, pelo menos em parte. Ainda que empolgante em alguns pontos, o disco me parece efêmero e, sem dúvida alguma, sem momentos tão memoráveis quanto The Angry Mob em Yours Truly, Angry Mob (2007).

Education, Education, Education & War soa também como se tivesse sido pensado para essas ocasiões, ou seja, nada do que já não tenha sido visto nos últimos quatro discos da banda. De certa forma, o teor Pop parece aumentar para compensar esse “buraco” lírico causado pela falta de Hodgson e isso é visto na suavização de algumas características idiossincráticas da banda. Ainda assim, o Indie Rock de Arena continua com tudo e faixas como Coming Home, Misery Company e One More Last Song provam isso, porém não impressionam tanto quanto os hits antigos.”

Julian Casablancas + The Voidz – Tyranny

Creio que esse foi um dos discos mais falados (e esperados, por parte de alguns fãs) do segundo semestre de 2014. Capaz de polarizar ainda mais os ouvintes de The Strokes ou mesmo do projeto solo de Casablancas, esse álbum é mais uma decepção para quem esperava um novo Is This It, mas talvez uma luz no fim do túnel para quem esperava ver Julian saindo dos lugares comuns que parecem tê-lo prendido como areia movediça nos últimos anos. Longe de ser um bom disco, a obra está igualmente longe de ser ruim. Eu explico: o que o torna tão “difícil”, ao contrário do que se pode imaginar, não é seu experimentalismo, mas sua falta de coerência ao englobar tantas coisas diferentes de uma forma que faça sentido. Há aqui muitas idéias boas, melodias pegajosas e de até mesmo certo frescor visto na primeira fase do Strokes, porém há também a sensação vertiginosa de se estar navegando através de um redemoinho em que todos esses bons atributos colidem e transformam a obra em uma bagunça generalizada. No fim das contas, Tyranny se mostra uma boa surpresa mesmo sem se consagrar como um bom disco. Ao menos estamos vendo o ícone de uma geração finalmente conseguindo se desprender de suas antigas limitações.

“Se antes, quando o vocalista havia se lançado em aventuras solo, ele brincou bastante com os anos 1980 e suas referências “bregas”, agora um dos símbolos sexuais de uma geração e o primeiro Rock Star da era Indie tenta ser garageiro, barulhento e muito experimental. Se existe um elo que consegue dar coesão a toda a obra, ele é o experimentalismo: The Voidz constrói formas musicais complexas, joviais muitas vezes, e viajadas que dão a base de apoio para o maior escapismo que Casablancas alcançou.”

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Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts