Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.
Ecos Falsos – Descartável Longa Vida
Era uma vez uma geração de novos músicos brasileiros que surgia no começo dos anos 2000, um grupo de artistas que revitalizaria o Indie Rock do país. Influenciados pelo Rock que despontava nos Estados Unidos no começo dessa década (de bandas como The Strokes, Interpol e Yeah Yeah Yeahs), essa leva de novatos foi responsável por levantar novamente a bandeira do estilo e começar a desbravar a interação entre música, público e Internet, que em 2002 ainda engatinhava no Brasil.
Ecos Falsos estava no meio desse grupo e se destacou na época por suas letras satíricas e jocosas que brincavam com quaisquer temas que passassem pela sua frente. Seu primeiro disco, Descartável Longa Vida, foi lançado em 2007 e foi para muitos o primeiro contato com a banda – no caso, o meu também.
O que mais me impressionou logo de cara, foram os versos cheios de um humor ácido e intenso. Um retrato debochado do dia-a-dia, paixões, amor, fama, inspiração e outros temas que cabem em 14 ótimas faixas deste debut – um Indie Rock potente e divertido completava a receita.
Conquistando a atenção não só de público e crítica, mas também de outros artistas, o quinteto ganhou muitos elogios na época. Um deles de ninguém menos que Tom Zé, que participa de uma das faixas do disco e que disse: “Em vez de estar escrevendo isso, eu preferia estar produzindo um disco dos Ecos Falsos. Por quê? Porque quando eu fui ouvi-los todo orgulhoso com a farinha da minha experiência, eles vieram com um bolo inesperado, e eu comi até mais do que queria. Esses profanos, esses agnósticos, esses heréticos são bons pra diabo!”. Fernanda Takai (Pato Fu) e Sérgio Serra (Ultraje a Rigor) também se envolveram com o projeto e contribuem em algumas canções do disco.
Separei sete estrofes que ilustram muito bem essa fase da banda e que mostram com categoria o porquê do quinteto ter se destacado naquela fervilhante cena de começo de década.
A Revolta Da Musa
“Minha musa não tem ideia o quanto é difícil/ Dedicar-se à arte requer um sacrifício/ Mas se não for o dela, sobre o quê vou criar?”
O disco se inicia já com uma história no mínimo absurda, uma pequena narrativa de um artista que busca recuperar sua tal musa fugitiva. Repleta de muito bom humor e de situações inusitadas, a faixa conta com a participação de Tom Zé.
A Última Palavra em Fashion
“Você disse que teria o que podia me ajudar/ As pessoas, as tendências e os lugares pra ficar/ Eu só tinha que investir na reengenharia pessoal”
Em um retrato do queo mundo da moda (e da música) passava – e ainda passa -, o grupo escarnece pessoas que buscam a fama a qualquer custo e a necessidade de se sentirem superiores nesse meio. Uma sátira cheia de contemporaneidade e acidez.
Dois a Zero
“E eu vou lhe dar razão/ Mudo até de opinião/ Não que eu goste da ilusão/ Antes ela à solidão”
Até mesmo o amor pode ganhar um tom mordaz nas mãos do quinteto paulistano. Um casal que vê seu relacionamento sendo destruído vira pauta para o grupo em uma das faixas mais interessantes de todo o álbum.
Primeira Página
“Meu tempo é curto, meus quinze minutos/ Não podem ser gastos à toa/ Se o ibope mede e o público pede/ Eu posso ser outra pessoa”
Mais uma vez, a fama é posta em cheque pelos músicos, porém agora no papel do veículo jornalístico que busca no sensacionalismo o seu ganha pão. Mais uma vez ,um dedo apontado, porém com muita inteligência e critividade em sua crítica.
Eu Nunca Ganho
”Mas será que sou só eu que nunca ganho nesse mundo?/ Quando jogo paciência eu só fico em segundo/ Eu nem sei porque estou lhes contando a minha vida/ A história é muito chata e não vale as feridas”
O absurdo é usado novamente como ferramenta para expressar o bom humor do grupo. O pessimismo extremo da faixa leva seu personagem a situações desesperadoras, porém extremamente engraçadas.
O Bom Amigo Inibié
“Com coragem chega longe /Pelo caminho da fé/ Sou o Verbo e a Palavra/ Sou O Bom Amigo Inibié”
Surgida de uma corruptela da frase “Quem avisa amigo é”, a faixa mostra um ser messiânico, apresentado na canção como o detentor de profunda sabedoria e profano em sua própria essência. Uma figura que subverte o senso de um ser todo poderoso.
Bolero Matador
“Amor, Você quer acertar nossas contas/ Mas vejo no punhal que me apontas/ Que não queres conversar”
Mais uma vez o amor entre cena, agora como um bolero sensual e perigoso que retrata a violência de um casal e de se estar em um relacionamento destrutivo. Mais uma vez uma sátira pontual e cheia de excessos, porém certeira em seu tom crítico e cômico.