Dez Anos de “LCD Soundsystem”

Disco representa início de um projeto despretensioso que superaria qualquer expectativa

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No último sábado, comemorou-se o aniversário de uma década do primeiro disco lançado por LCD Soundsystem. Qualquer um que conheça de leve a breve discografia da banda sabe que, entre os três lançamentos, o álbum autointitulado é o que tem menos força como obra completa e é menos fechado em um único conceito – apesar de conter, individualmente, algumas das melhores faixas da banda. Ao mesmo tempo, o disco não marca exatamente o início do projeto, cujo nascimento se confunde – alguns anos antes – com os trabalhos de James Murphy como engenheiro de som, e com o surgimento da DFA Records, ao lado de Tim Goldsworthy, participando da criação de alguns sons icônicos como o grande sucesso de The Rapture, House Of Jealous Lovers. Mas então por que perder nosso tempo refletindo sobre os dez anos desta obra?

James Murphy, assim como tantos outros ícones das artes nos últimos anos, é mais uma personificação dos conflitos e dos dilemas vividos por muitos de nós, integrantes de uma mesma geração. Sim, com seus 44 anos, ele está, formalmente, uma degrau acima da maioria de nós, e talvez por isso sirva tão bem como exemplo. LCD Soundsystem foi a ficha que faltava cair para que o rapaz entendesse a magnitude que seu projeto poderia tomar, culminando em ser considerado, por muitos, uma das mais importantes bandas do século 21.

O garoto cresceu em uma pequena cidade, sem se sentir fazendo parte da cultura jovem local e mergulhou em livros, filmes e principalmente discos, para escapar da rotina. Tudo isso acabou moldando seus gostos, ideias e crenças. Para os curiosos, suas prateleiras eram recheadas de nomes como Talking Heads, The Velvet Underground, Yes, David Bowie, Can e artistas relacionados. Ele cresceu morrendo de vontade de se mudar para Londres, um lugar que parecia respirar ares que tivessem mais a sua cara, e o lugar mais próximo que encontrou e que chegasse próximo do que procurava na capital inglesa foi Nova York.

Pulando alguns anos da vida de Murphy, encontramos um jovem aberto e cheio de vontade de sobreviver numa grande cidade, um dia após o outro, vivendo com pessoas que gostavam do mesmo que ele, em lugares legais que o inspiravam e estando perto da música, sua maior paixão. Foi assim que trabalhou na noite nova-iorquina como engenheiro de som, conheceu muita gente, entre eles o inglês Tim Goldsworthy, com quem começou a trabalhar em alguns projetos musicais, produziu algumas coisas e fundou o selo DFA Records.

Nesse período, Murphy começou a criar alguns sons e tocar em pequenas festas, mostrar pros amigos, até que decidiu gravar LCD Soundsystem com todo seu repertório artístico, sensibilidade e conhecimento técnico. Como inúmeras histórias de bandas independentes, o projeto cresceu demais, saiu de seu controle e se tornou a banda que conhecemos hoje.

Muito do impacto que LCD Soundsystem teve localmente, entre os clubes nova-iorquinos, mas que rapidamente se espalhou pelos Estados Unidos e pelo mundo, foi pela maneira transparente com que utilizava suas referências, mas transformando-as em um som totalmente novo. Era música que segurava uma festa, mas sobrevivia – e crescia – a uma audição mais atenta, com suas letras sinceras e que externavam certas preocupações profundas – e outras banais – de toda uma geração.

O disco LCD Soundsystem é aquela sua história de ficção científica abandonada numa pasta do seu computador, são as fotos inspiradas que você tirou e nunca fez nada com elas, são as aulas de balé interrompidas pra estudar pro vestibular e todas as outras paixões que temos ao longo da vida e nunca levamos pra frente. A história de James Murphy e de LCD Soundsystem é o conto de fadas pra todo jovem criativo que se vê meio perdido durante alguns anos e acaba encontrando a resposta pra tudo em um projeto aparentemente sem importância. Acho que só isso – tá bom, a genial Losing My Edge também – já seria um bom motivo pra comemorarmos este aniversário.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.