Dez Bandas Obscuras 80’s

Listamos dez famosas bandas desta década, que ficaram nessa época

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Há poucos dias, Monkeybuzz fez uma pequena expedição arqueológica aos anos 90, desencavando daquela década, algumas bandas que fizeram sucesso limitado, às vezes uma única canção ou disco, mas que marcaram época e ainda podem ser lembradas hoje. Repetimos o processo hoje e miramos nosso Túnel do Tempo portátil para a chamada “década perdida”, os famigerados anos 80 e procuramos seguir o mesmo princípio, que é resgatar algumas bandas e artistas legais que, por motivos estranhos, não chegaram ao estrelato total, parando antes do fim da corrida. Novamente o critério não repousa apenas na excelente qualidade do material, mas, também na curiosidade, na novidade e em como muitos desses artistas ainda podem soar atuais. Faça sua mala, aperte os cintos, limpe os ouvidos e venha com a gente.

Big Country

Banda de Dunfermline, cidadezinha do norte da Escócia, onde foi parar Stuart Adamson, nascido em Manchester, mas filho de pais escoceses. Ele recebeu o honroso epíteto “a resposta inglesa a Jimi Hendrix” do radialista e descobridor de talentos John Peel. Descontado o exagero desmedido, Adamson criou um estilo guitarrístico que imprimiu a marca registrada do Big Country: guitarras que soavam como gaitas de fole. Sua primeira banda foi o Skids, mas o Big Country trouxe fama internacional. O conceito do grupo foi montado com o amigo e também guitarrista Bruce Watson em 1982. O primeiro disco veio no ano seguinte, The Crossing, que arremessou a banda para o mundo. No Brasil era tocado pelas emissoras alternativas de rádio, como a Fluminense FM e adquiriu certo status de “música para surfistas”, algo inexplicável ao pé da letra, mas que significava um certo status de novidade. Estamos preparando um guia mais pormenorizado de Big Country, onde falaremos mais sobre esta banda que quase foi uma espécie de U2 escocês.

Matt Bianco

Houve na Inglaterra do início dos anos 80 uma onda de bandas que haviam crescido e se formado na aurora do pós punk britânico, mas que haviam enveradado por outro caminho, atitude que era referendada de certa forma, pela existência do Style Council, formação que Paul Weller montara logo após sua carreira no The Jam. A ideia era montar algo que não era exatamente bossa nova, mas que juntasse, além do ritmo brasileiro, um pouco de jazz, um pouco de Soul, um tanto de elegância musical. Matt Bianco veio nessa onda, formado pelo guitarrista e vocalista Mark Reilly, Mark Fisher e a cantora polonesa Basia. O primeiro disco do Matt Bianco, Whose Side Are You On, fez sucesso relativo no Brasil, chegando a emplacar o hit More Than I Can Bear e o sambinha de gringo Half A Minute.

Level 42

Quando estourou por aqui, em 1985, o Level 42 já tinha uma carreira razoavelmente solidificada na sua Inglaterra natal. O conceito de Mark King (baixo, voz), dos irmãos Phil e Boon Gould (bateria e guitarra), Mike Lindrup e do produtor Wally Badarou, era misturar Pop com levadas levinhas de jazz e funk, sem abrir mão de uma certa habilidade nas composições. O primeiro sucesso ultramarino do Level 42 foi Something About You, que invadiu as rádios do mundo, Brasil incluido. O disco seguinte foi grande Running In The Family, de onde saíram mais dois belos hits: Lessons In Love e a gloriosa faixa título, cheia de metais sintetizados, baixos sintetizados, totalmente datada hoje em dia, mas que batia um bolão. Os integrantes da banda sempre brigaram entre si e empreenderam uma carreira de idas e vindas, que nunca repetiu sua fase áurea entre 1985/87.

Hothouse Flowers

Liam Ó Maonlaí e Fiachna Ó Braonáin eram dois amigos que se conheciam há algum tempo em Dublin. Tocavam na rua, andavam pelas ruas da capital irlandesa, sempre pensando que era possível montarem uma banda que revisitasse aquela mistura sensacional de música da Ilha Esmeralda, meio soul, meio celta, meio gospel, tudo fazendo sentido. Encontraram mais um transviado das ruas, Peter O’Toole (homônimo do grande ator inglês que fez Lawrence das Arábias, O Último Imperador, entre outros filmes) e formaram o Hothouse Flowers. A despeito do talento da banda e de alguma projeção local, a sorte lhes sorriu quando Bono Vox os viu na televisão e, após ficar encantado com o estilo do grupo. Dois anos depois, em 1988, o primeiro e sensacional disco do Hothouse Flowers, People, veria a luz do dia. Canções belas como Hallelujah Jordan, Don’t Go e, no disco seguinte, Home, a cover de I Can See Clearly Now, sucesso setentista de Johnny Nash mantiveram o Hothouse Flowers vivo. Após o lançamento do terceiro disco, Songs From The Rain, em 1993, a banda se dispersou, mas Ò Maonlaí continua usando o nome e excursionando pelo Reino Unido.

Cutting Crew

O inglês Nick Van Eede e o canadense Kevin Scott McDonald se encontraram em Halifax, Canadá, durante as férias do primeiro. Chegaram a compor alguns rascunhos, mas Nick retornou para a Inglaterra. McDonald vislumbrou a possibilidade de sucesso em forma de uma banda e rumou para o Reino Unido, onde, após alguns ensaios e a entrada de Colin Farley e Martin Beadle, formou-se o Cutting Crew. A banda teve um bom disco lançado logo no ano seguinte, 1986, Broadcast. Vieram dois sucessos transatlânticos: a baladinha açucarada I’ve Been In Love Before e a épica *(I Just) Died In Your Arms Tonight”, que levou o CC a frequentar as paradas americanas. A banda, no entanto, nunca conseguiu repetir esses feitos e, em 1993, encerrou suas atividades. Van Eede usa o nome da banda atualmente.

Zero

Uma das formações brasileiras mais identificadas com a idumentária e sonoridade new romantic, o Zero surgiu em 1983, em São Paulo. Guilherme Isnard, ex-Voluntários da Pátria, juntou-se a Fabio Golfetti, Nelson Coelho, Claudio Souza e Gilles Eduar, conseguindo lançar um compacto com a canção Heróis, sem muito sucesso além dos redutos undergrounds. Dois anos depois o Zero é totalmente refeito, mantendo apenas Isnard, contando com as presenças de Eduardo Amarante, Ricky Villas-Boas, Freddy Haiat, e Athos Costa, pisando mais fundo na sonoridade derivada de Duran Duran e afins. Surge a oportunidade de lançar um mini-LP pela EMI, Passos No Escuro. Dois sucessos nacionais vêm desse disco: Agora Eu Sei, com participação de Paulo RPM Ricardo e Formosa, que cravam o Zero como uma banda de projeção nacional, chegando ao Disco de Ouro no fim de 1985. Dois anos depois a banda lança o segundo disco, Carne Humana, dos quais mais duas canções despontam como hits, ainda que em proporção menor: Quimeras e A Luta e o Prazer. Dois anos depois, após novas divergências e mudanças na formação da banda, o Zero encerrava atividades, para retornar em 1999, permanecendo viva desde então.

Tokyo

Esta é a famigerada banda que Supla, ou melhor, Eduardo Smith de Vasconcellos Suplicy. O rapaz, após morar nos Estados Unidos, retornou ao Brasil completamente fascinado pela cultura punk. Montou bandas, tocou sozinho, até que, uma de suas formações, Zig-Zag, desembocou no Tokyo, após o encontro de Supla com o guitarrista e produtor Eduardo Bidlovski. Já como Tokyo e com a presença de Andrés Etchenique, Conde, Marcelo Zarvos e Rocco Bidloviski, conseguiram um contrato com a Som Livre e lançaram um compacto chamado Mão Direita, que caiu nas graças da censura de 1985 por tratar-se de masturbação. Pouco depois, já contratado do selo Epic, o Tokyo lança Humanos, que também daria nome ao primeiro LP. A canção, mas Garota de Berlim e Metralhar E Não Morrer fazem sucesso, mas Supla jamais se livrou do rótulo de punk de boutique. Encerram a carreira em 1987, após lançar um segundo disco que ninguém ouviu.

GUETO

Assunto da coluna Cadê de 18/09, o Gueto é uma banda cujo trabalho é muito mais admirado do que se supõe. Veja um trecho da coluna: “Com a produção de Pena Schmidt e Geraldo D’Arbilly, toda a engrenagem da periferia é captada ao longo das canções e, logo na abertura, G.U.E.T.O a banda se apresenta: Márcio, Marcola, J.C (Júlio César) e Edson-X se põem a serviço da mistura e do retrato daquela cena que começava a expressar-se. O Gueto não esquece de misturar elementos brasileiros à sua mistura. Há percussões de samba em Esse Homem É Você, além do trombone de Raul de Souza. Em Uma Estória há swing dançante tipicamente malandro e algo que poderia ser chamado de primo americano do samba de breque dá as caras em Emoção. O outro grande hit do disco, Borboleta Psicodélica, traz os teclados de Paulo Calazans e as percussões de Geraldo D’Arbilly e Luiz Batera e Você Errou mantém o clima de festa baile de subúrbio no ar. ”

Sundays

Fonte de pequenos sonhos adolescentes de uma década distante, a figura da vocalista dos Sundays, Harriet Wheeler, surge como uma lembrança feliz. O Sundays foi formado em Londres e surgiu quando a moça e seu colega de faculdade, David Gavurin começaram a compor, ainda em 1987. Sua primeira apresentação, já como Sundays, se deu em um clube de Camden, gerando buchicho suficiente para que a Rough Trade se interessasse no grupo, devidamente aumentado pela chegada de Paul Brindley e Patrick Hannan. O primeiro disco, Reading, Writing And Arithmetics surgiu na virada dos anos 80/90, fazendo uma síntese bela e sutil do Rock independente inglês, usando os Smiths e suas guitarras como motor. Em 1992 lançaram outro disco, Blind e, em 1997, o terceiro, Static And Silence. Depois, nada mais veio da banda.

Waterboys

Falar dos Waterboys é falar de Mike Scott, o bardo escocês que formou o grupo em 1983 em Edimburgo. Apesar de sucesso no Reino Unido a partir de uma mistura impressionante de Dream Pop, canções dylanescas, guitarras, teclados e tudo a serviço de uma sonoridade maior que a vida, o Waterboys fez sucesso mundial com o terceiro trabalho, The This Is The Sea, de 1985, do qual o maior hit foi The Whole Of The Moon, uma espécie de odisseia no espaço com menos de cinco minutos, na qual há tantas metáforas e belezas poéticas que o ouvinte corre o risco de ficar com o sorriso permanente na face. Ao longo da década de 1980 e início dos anos 90, o Waterboys, sempre com uma formação mutante, gravou belos discos como Fisherman’s Blues, Room To Roam e Dream Harder, que você deve procurar logo, jovem. A banda também é alvo futuro na nossa auspiciosa seção Redescobertas.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.