DFA e a Trilha Sonora Dançante da Última Década

Selo de James Murphy completa doze anos como um dos mais influentes de seu tempo, lançando além de The Rapture e LCD Soundsystem, muitos nomes novos e interessantes

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“O ano é 2001, o lugar é a cidade de Nova York, George Bush é presidente e uma sub-cultura de jovens adultos que vive com seus pais super-protetores tinha acabado de ganhar o apelido de ‘hipsters’.” – é assim que se inicia o mini-documentário sobre o selo DFA Records e é exatamente esse o contexto no qual James Murphy começou seus trabalhos com alguns amigos sob o codinome Death From Above. Eles mixavam áudio em festas e shows e eram conhecidos por gostarem dos volumes altos.

A partir daí, ele e muitos amigos começaram a fazer festas e produzir alguns singles próprios ou para outros colegas, até formarem o que conhecemos até hoje, como DFA Records, um selo americano, ou melhor, um selo nova-iorquino, ou ainda melhor, um selo de amigos nova-iorquinos. É exatamente essa a sensação que temos durante os pouco mais de 13 minutos de filme, amigos que decidiram fazer música com e para seus amigos e acabaram se tornando um dos nomes responsáveis por alguns dos principais lançamentos da última década.

Três nomes se destacam em sua breve e fértil história. O primeiro é o de Gavin Russom, que tocou em quatro bandas do selo, mas sua maior contribuição foi no backstage, contruindo instrumentos para diversos artistas, entre eles muitos sintetizadores analógicos para a finada LCD Soundsystem. Outro grande nome é do co-fundador, gerente e “faz-tudo”, Jonathan Galkin. No início, sua responsabilidade era dividida com James Murphy e Tim Goldsworthy. Esse último, ao que parece, não chegou a participar ativamente do dia a dia da empresa. Já James é o terceiro e, obviamente, mais importante nome da DFA. Ele costumava estar muito presente, mas foi se ocupando em excesso com sua banda que crescia exponencialmente ano após ano, portanto, tudo acabou ficando nas mãos de Jon.

Até aí, nada de tão interessante, mas tudo muda de perspectiva ao saber que, após o surgimento do LCD Soundsystem, toda a curadoria dos artistas trabalhados pelo selo sau da audição precisa e criteriosa de Jon Galkin, que, se não colaborou como Murphy para a popularidade do estúdio, tem uma importância crucial para sua sobrevivência até hoje e para a carreira de muitas dessas bandas.

Para os que ainda estão um pouco perdidos quanto aos trabalhos realizados pelo estúdio, ele foi o responsável por lançar trabalhos de nomes como The Rapture, Hot Chip, Hercules and Love Affair e seu grande nome, LCD Soundsystem, de seu fundador James Murphy. Sempre com o intuito de divertir o público, o selo trabalha mantendo sua qualidade ímpar com lançamentos que revivem a Dance Music, estilo nada bem visto no mundo do Indie Rock que dominava a cena independente na época. Esse Dance Punk, como alguns gostam de chamar, cuja percussão marcada e acústica se une aos sintetizadores, foi ganhando seu espaço de maneira bastante romântica para fãs de música, dominando pequenas festas, shows, passando de mão em mão, até se tornar um dos movimentos mais marcantes dos Estados Unidos com a DFA sendo seu nome mais importante e podendo ser considerado um dos selos mais importantes da última década.

Alguns nomes não são tão conhecidos do grande público quanto os outros acima, portanto vale citar alguns e entender onde anda esse movimento, após o fim do LCD. Pensando no pouco tempo do selo e ao mesmo tempo na importância que já conquistou, nada o descreve melhor como seu lema: Too Old To Be New, Too New To Be Classic.

The Juan Maclean

Apesar de pouco conhecido, The Juan Maclean é o projeto de Juan Maclean e que começou no selo logo em seu início, junto a The Rapture e antes do próprio LCD Soundystem. Aliás, James Murphy era engenheiro de som do projeto em seu início.

The Juan Maclean – You Are My Destiny

The Crystal Ark

Esse é o projeto do supracitado Gavin Russom com a cantora Viva Ruiz. Interessante por mesclar os sintetizadores conhecidos no selo com a voz mais suave de Viva, ao mesmo tempo que incorpora um ar mais Funk, para dançar mais devagar e de maneira mais perfomática do que no Dance Punk tradicional.

The Crystal Ark – Rain

Shit Robot

Talvez um dos trabalhos mais interessantes que já saíram do selo. O projeto é de Marcus Lambkin, que já colabora com a DFA desde seu início, mas foi lançar sua estreia apenas em 2010 com o ótim From The Cradle To The Rave que pode ser considerado um LCD Soundsystem em alguns momentos mais pesado e em outro mais etéreo, incorporando sons que lembram espaço e trilhas de ficção científica. O trabalho ainda contou com a participação de Juan Maclean, Aliexis Taylor do Hot Chip e James Murphy como produtor, validando ainda mais o ar de família do selo.

Holy Ghost!

Outro dos próximos grandes nomes do selo, Holy Ghost é um dos mais dançantes da DFA, incorporando elementos da Disco Music, criando singles viciantes e que com o perdão do clichê, não nos deixam parados.

O projeto ainda lançou hoje um novo single acompanhado de um ótimo clipe, Dumb Disco Ideas, e reúne tudo que o duo tem de melhor.

Holy Ghost! – It Gets Dark

Yacht

Este é um duo que incorpora algumas características do Electro-Funk característico da DFA, mas incorpora elementos fofos, como riffs de piano e harmonias vocais contando com a bela voz de Claire L. Evans. O duo tem ficado cada vez mais conhecido também por seus remixes, não é nada difícil que já tenha ouvido algum por aí.

Sinkane

Chega a ser inacreditável a coerência entre os artistas trabalhados por Jon Galkin e companhia. Dentre todos os citados anteriormente, faltaria apenas alguém incorporando elementos africanos que combinam perfeitamente com os sintetizadores e batidas de seus companheiros de selo.

Sinkane é do Sudão e se mudou com cinco anos para os Estados Unidos. Com 18, se envolveu com a cena de Punk Hardcore de Ohio e futuramente trabalhou como instrumentista em bandas como Yeasayer, Caribou e Of Montreal. Mas foi no Brooklyn que encontrou sua casa para lançar seu ótimo projeto solo que incorpora também elementos da Surf Music e um vocal que lembra o Dream Pop.

Sinkane – Jeeper Creeper

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.