Dingo Bells desplugado

Enquanto prepara o terceiro disco, banda gaúcha lança EP com versões acústicas e apresenta a faixa inédita “Antes de Dormir”

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Fotos: Vinícius Angeli

Sete anos após o single de estreia, a banda gaúcha Dingo Bells decidiu que era o momento de revisitar algumas canções de seu repertório de uma maneira diferente. No último dia 1º, o grupo lançou um EP acústico com sete faixas retrabalhadas, além de outra inédita em um show pocket online realizado em parceria com a Casa Link.

Em meados de 2019, surgiu a ideia de circular com alguns shows acústicos, como uma forma de transição, já que a banda está em processo de produção de seu terceiro disco de inéditas. O projeto caminhava e o Dingo Bells chegou a fazer apresentações em Porto Alegre e até a gravar algumas dessas canções no estúdio em São Paulo, tendo em vista o lançamento de um EP. Pouco depois, o grupo fez, em Santa Maria, o último show antes de ser decretada a pandemia.

Embora o plano inicial de viajar pelo Brasil tenha se tornado impossível, a proposta do EP acústico se transformou em acalento aos fãs da banda gaúcha, simbolizado, principalmente, pela inédita “Antes de Dormir”. Definida pelos membros do quarteto como “uma canção de ninar para adultos”, a música (já lançada como single antes da estreia do EP) remete perfeitamente ao nosso tempo atual, vivido entre o sonho de um mundo de volta ao “normal” e a forte nostalgia de um tempo antes da pandemia.

A “canção de ninar” veio acompanhada de um criativo e esmerado clipe – composto por 3000 desenhos de aquarela e pintura digital –, dirigido por Eduardo Stein Dechtiar (também baixista da banda ítalo-brasileira Selton). Eduardo produziu os desenhos em um processo muito intenso, quando estava em pleno lockdown na Itália.

Felipe Kautz (baixo), Diogo Brochmann (guitarra e voz), Rodrigo Fischmann (voz e bateria) e Fabrício Gambogi (guitarra) já haviam sinalizado o gosto por animações quando lançaram o clipe do principal sucesso do grupo, “Dinossauros”, em 2016. “A gente adora clipe de animação, acho que é uma coisa que tem como representar muito bem esse universo onírico e principalmente ‘Antes de Dormir’. A gente queria pegar bastante a ideia de música de ninar e de levar para um lado da imaginação. Não à toa, ‘Dinossauros’ é também uma música que o clipe dela original é uma animação, que consegue captar bem o conceito de imaginação e de sonhos”, explica Rodrigo Fischmann.

“Dinossauros”, composição também presente nesse novo trabalho, recebeu um trato todo especial e introspectivo nos arranjos e ainda contou com a participação especial da banda Tuyo. A parceria com outros artistas contemporâneos é recorrente no trabalho do Dingo Bells, que já realizou shows com a própria Tuyo e Giovani Cidreira, fez turnê com a Maglore e gravou single com Hélio Flanders (Vanguart), por exemplo. “São parceiros de caminhada. Cada vez que eu olho uma banda como a Tuyo, Maglore e o Vanguart, ali, lançando música, se comunicando e a galera se emocionando, isso nos dá energia e força”, comenta Fischmann.

“A música é muito viva. Vai passando o tempo e você ressignifica a letra, encontra outra forma de cantar, tocar e interpretar. Rolou um processo meio mágico aí”

O projeto acústico, contudo, não se escorou apenas em intimismo e introspecção – “Eu Vim Passear”, por exemplo, ganhou uma versão mais dinâmica e entusiasmada, com referências a Gipsy Kings. Como numa celebração feita em uma roda de amigos, a releitura com o violão acelerado ganhou contornos ainda mais festivos pelo acréscimo de falsetes de Rodrigo. Um clima efusivo e nostálgico.

Segundo Fischmann, o processo de escolha das oito músicas veio a partir de dois critérios.  “Pelos shows que já havíamos feito, a gente tinha uma noção de quais músicas estavam funcionando legal nessa versão acústica, então o critério foi partir entre as que já têm toda uma história com o público, além de algumas em especial que realmente ficaram bem diferentes da versão original”.

Mais do que rememorar o repertório da banda, o EP representa o processo de acrescentar significados e novas camadas a músicas que já tinham uma história consolidada entre os fãs. “A música é muito viva. Vai passando o tempo e você ressignifica a letra, encontra outra forma de cantar, tocar e interpretar. Rolou um processo meio mágico aí”, relata Fischmann.

EP acústico X terceiro álbum

Embora o acústico marque novas temáticas e sonoridades na trajetória dos gaúchos, Fischmann diz que o mais recente trabalho não pontua uma tendência do que será o novo disco e as canções, em sua maioria, retratam um diferente capítulo da banda. “Talvez só ‘Antes de Dormir’ faça parte, talvez, de um outro momento que não é nem do primeiro e nem do segundo disco, por isso que ela iria ser lançada como single”.

Algumas inspirações clássicas para o trabalho que virá, no entanto, o vocalista adianta. “O novo disco tem outras coisas, como já tiveram no segundo, de Gilberto Gil e Caetano, talvez um pouco mais presentes, porque também são artistas que tiveram muitas fases e uma obra gigante ao longo de décadas. Tem algo do Djavan que a gente já notou também”. Ainda sem previsão de lançamento, o novo disco, segundo o quarteto, deverá sair só quando for possível voltar a viajar fazendo shows pelo Brasil.

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ARTISTA: Dingo Bells