DJ Mag e o Quarto Lugar de Martin Garrix

Em premiação mais importante da EDM, atenções estavam voltadas para holandês de 18 anos

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Mais uma vez: Hardwell. O bicampeonato soou como frustração a quem acompanha a revelação dos 100 melhores DJs da revista DJ Mag, famosíssima e “conceituadíssima” há anos. O sentimento, que é compartilhado a finco por xiitas da música Eletrônica, vem questionar muitas falhas do sistema, algumas delas velhas conhecidas do próprio público. O holandês apareceu na 24ª colocação em 2011, partindo para a sexta no ano seguinte, não dando espaço para ninguém em 2013 e nem neste ano – o que foi estranho; Estranho ele ter vencido a competição no ano passado diante tantos nomes fortes com a preferência; E mais estranho ainda se estabelecer no lugar em uma época em que tanto material é lançado e que seu nome não é tão trabalhado no marketing quanto outros.

Não me entendam mal. Hardwell é um bom produtor de Dutch. Se esforça e faz bem mais faixas notórias do que boa parte da lista dos dez melhores, mas, nos últimos dois anos, mostrou identidade no EDM diante de uma cena que está tão saturada? É um produtor que realmente consegue se diferenciar de seus amigos Afrojack, R3hab e Nicky Romero, por exemplo? Em 2013 veio o single que estourou Jumper com W&W e Dynamo com Laidback Luke. Já neste ano, tivemos Young Again e The Dancefloor is Yours, nada muito superlativo comparado ao barulho da temporada anterior. Mas a discussão que fica pendente é se esses quatro singles têm força para elevar um artista no ranking mais importante do EDM mundial.

A lista, porém, de 2013 para 2014 não teve mudanças significativas. Dimitri Vegas & Like Mike sairam da sexta colocação para a segunda, Armin Van Burren desceu uma posição. Mas quem mais chamou atenção aqui não foi o bicampeonato de Hardwell, nem Deorro conseguindo seu lugar ao Sol na décima nona posição, Vicetone chegando na trigésima sexta ou os brasileiros Felguk fechando a lista em número 100.

Martin Garrix, o holandês de apenas 18 anos, foi o nome mais novo de toda a lista. O autor de Animals já era esperado e as atenções já estavam sendo viradas para a sensação de 2013. Desde que a Spinning Records resolveu assinar com o DJ, foi feito um trabalho pesado de marketing em cima do produtor, a começar pela forma que saiu do anonimato. Seu primeiro single foi disseminado sem nome de autoria e estourou dessa forma nos festivais. A especulação de quem acompanha o gênero era dos grandes nomes que o selo abraça, mas a surpresa veio logo em seguida. Revelar o nome de um DJ até então desconhecido, mas já com uma faixa amplamente estourada, foi a jogada certa e quem pensa que isso foi obra do acaso se engana forte. Animals já foi considerado o EDM mais tocado do ano passado. Todo mundo queria ver Martin Garrix, em pouquíssimo tempo estava nos palcos dos maiores festivais do mundo inteiro. Tive a oportunidade de assistir alguns deles e vi o quão fraco estava suas performances. Falta de identidade era o pilar mais frágil do holandês. O set de pouco mais de 30 minutos era repleto de músicas de outros artistas, mais parecia balada da Rua Augusta. E quem poderia julgar? Um produtor que acabou de sair do anonimato com o mínimo esforço (diga-se de passagem: uma só música) como pode fazer um set com identidade? Pois bem, não tem. O desespero de seus agentes em fazer que o rapaz corresse atrás do tempo perdido era absurdo. Mês pós mês, Martin lançava música nova, sem deixar seus fãs respirarem, sem até mesmo manter a identidade que cativou tanta gente com Animals e seus sintetizadores que fogem da mesmice.

O objetivo disso era a Mag. Era consolidar o nome de Garrix de uma vez por todas na cena. É muito importante que ele se consagre para que o investimento de milhões de dólares que empresários e a própria Spinnin’ Records fizeram nele volte. Nenhum artista é assinado às escuras. Nenhum artista é descoberto às escuras. Nenhum artista surge sem trabalhos e sobe tão rapidamente dessa forma. Garrix é resultado de uma aposta em conjunto e isso faz com que a credibilidade da DJ Mag se comprometa. Esse caso é tão escancarado que pode ser usado como exemplo, mas imagina quantos Garrixes existem e quantos mais vão existir agora que esse deu certo? O quão mecânica e calculada pode virar a indústria quando “os caras do dinheiro” resolverem ditar o que vai ser tendência, como vai ser e quando vai ser.

Enquanto tem muita gente contorlando marionete no quarto lugar, tem gente ali seja na nona ou na 32ª, 39ª ou 53ª que trabalham pesado pra trazer um conteúdo inédito dentro do que é real. Artistas de pele, que nasceram com música no sangue, que lutaram desde cedo pra chegar onde estão, que assinam outros artistas da mesma forma e que movimentam uma cena que forma o que é hoje o “lado bom do EDM”, que entendem a Electronic Dance Music como uma vertente não mecânica e sim sinestésica e muito identitária, com suor pra fazer música. E música, meu caro, é sobre sinceridade. A DJ Mag deveria saber disso.

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Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King