Do rap à MPB, os caminhos de menino thito

Em “!Que Bom Que Chegou!”, seu mais recente EP, o músico paulistano consolida a vontade de fazer o som que deseja escutar

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Fotos: Divulgação

Cinco músicas produzidas ao longo de dois anos – esse é o resumo de !Que Bom Que Chegou!, mais recente EP do paulistano menino thito. A versão oficial da história, na real, é um tanto mais longa e explica muito bem por que o artista que lançou um álbum e três EPs entre 2019 e 2021 preferiu, ou precisou, pisar no freio em sua produção.

Thiago Campos, cria da Zona Leste de São Paulo, contou ao Monkeybuzz que ele não teve um momento na vida em que escolheu ingressar na música, mas brinca: “Sempre fugi dela”. “Minha família é da igreja, todo mundo canta ou toca alguma coisa, e sempre ouvi muita música em casa. Meu pai é fã de MPB e minha mãe, de black music. Comecei a ouvir metal muito cedo também”. Aos 10 anos de idade, decidiu que trabalharia com artes visuais e começou a se preparar para isso – ele hoje está no quinto ano da faculdade de História da Arte. Naquela época, em paralelo, aprendeu a tocar violão, guitarra, baixo e violoncelo, além de cantar no coral da igreja.

“Dizem que quando o bichinho da música, ou das artes, te morde, dificilmente você consegue fugir”, brinca ele. “Aí ele me mordeu em meados de 2018, quando uns amigos da escola me chamaram para participar de uma música do grupo de rap deles”. Esse foi o nascimento do grupo Leste 5, com o qual Thiago foi encorajado, ao lado do amigo e também membro Alleckz, a se aprimorar como produtor e compositor. Os dois estiveram juntos até poucos meses atrás, quando ele saiu do grupo para se concentrar de vez no trabalho como menino thito.

Foi ali naquela época de Leste 5 também que surgiram as músicas que formam Voyage Délirant, seu primeiro álbum solo, lançado em 2019. No ano seguinte, com o mundo parado pela pandemia, a cantora Céu publicou no Instagram para artistas enviarem seus trabalhos para serem transmitidos no programa do selo Lab Fantasma que ela apresentava na Twitch. Das centenas de envios, menino thito foi um dos três selecionados. Àquela altura, outros três EPs já tinham sido lançados, mas ter sido escolhido para a transmissão fez com que ele entrasse em uma nova fase da carreira. E foi ali que !Que Bom Que Chegou! começou a nascer.

“Esse EP foi um abraço para mim mesmo de um tempo que fiquei produzindo outras pessoas, sem lançar nada. Queria falar um pouco de mim, de coisas que acredito, de narrativas minhas. Cada música tem um pouco de coisas que eu vivi. Quis elaborar quase como um roteiro de filme, só que em música”

Após o lançamento do EP (2021), que também havia sido produzido mais “despretensiosamente” (nas palavras do músico), Thiago pensou que precisava “fazer algo de maior impacto”. “Mas que eu também curta”, lembra. “Eu escrevo desde muito novo, aí eu sinto que, como consumo muito tipo de música diferente, [meus primeiros trabalhos] ficaram um pouco como uma miscelânea de sons e experimentos que eu fazia musicalmente”, explica. “Hoje, estou me encontrando mais, vendo o que faz mais sentido para mim como menino thito. E sou muito amante de música, gosto daquele conjunto da obra que é mais conciso, tudo conversa entre si, e tentei buscar isso depois do primeiro disco”.

“Depois de um tempo que a gente fica ali só produzindo, tudo começa a ficar muito técnico”, conta Thiago, que decidiu tentar algo diferente para a obra e pensá-la como se fosse uma história de ficção. “Acho que esse EP foi um abraço para mim mesmo de um tempo que fiquei produzindo outras pessoas, sem lançar nada. Eu queria falar um pouco de mim, de coisas que eu acredito, de narrativas minhas. Cada música tem um pouco de coisas que eu vivi. Quis elaborar quase que como um roteiro de filme, só que em música”.

“Queria tentar fazer essa conversa para falar de afeto, para falar de amor, de uma forma política, porque eu entendo muito como, na cultura preta, falar de amor é como um ato político mesmo”

Mesmo em um trabalho calcado na MPB e no R&B, menino thito não abre mão de sua experiência com o Leste 5: “Não é a gente que escolhe fazer rap, é a rua. Todo esse movimento que acaba acolhendo a gente de alguma forma”. E isso está presente na história contada no disco. “Eu queria fazer a divisão entre um primeiro encontro, o momento quando você está mega apaixonado, com um misto de sensações pela pessoa, e aí você passa por todas essas nuances que um relacionamento tem – o conflito, os comuns acordos, o diálogo, a troca”, explica ele. “Queria tentar fazer essa conversa para falar de afeto, para falar de amor, de uma forma política, porque eu entendo muito como, na cultura preta, falar de amor é como um ato político mesmo”.

O desafio que menino thito se propõe hoje é dosar todo o conteúdo, entre mensagens e estéticas, que ele quer dialogar com seu trabalho a partir de escolhas que façam sua carreira ser sustentável em um mercado tão difícil. “Sinto que, nos últimos tempos, até mesmo no mainstream, muito que tem sido produzido é muito bom, mas é também muito pensado em caixinhas – ‘eu preciso lançar isso para que isso bombe’, etc.”, comenta ele. “Acho que esse EP foi um teste de pensar o que estou querendo de fato produzir, mas, ao mesmo tempo, vender. Mas também tentando fugir um pouco dessa coisa de fazer para vender, para explodir. Eu gosto de coisas catárticas, de trabalhos que mexam com as pessoas, e eu gosto de fazer música para mim também. Tem que ser algo que eu escute, que faça muito sentido para mim, que eu de fato queira escutar. É mergulhar nesses dois caminhos. Talvez daqui alguns anos eu ache o equilíbrio entre isso, ou talvez eu fique ainda mais maluco [risos]”.

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ARTISTA: menino thito

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.