EDM vai mesmo morrer?

Cada vez mais, questão entra em pauta e gênero é discriminado entre críticos e ouvintes

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A mesma coisa aconteceu com o Trance. Teve seu auge no final da década de 90 e início dos anos 2000. De lá pra cá, o estilo não traz nenhuma novidade, sua popularidade abaixou consideravelmente e seus DJs migraram para outros gêneros alegando estar procurando “crescer em suas carreiras”. Tudo é uma questão de adequação quando outros sons estão em voga, como é o caso do EDM, e que, na mesma proporção da Trance, também lotava estádios, movimentava uma economia e uma indústria musical. Hoje, apesar de grandes e notáveis DJs ainda segurarem a peteca, o gênero serve como uma memória do que foi uma época, não servindo para caracterizar em nada o que essa geração de hoje vive e escuta. O Trance é a prova de que nada é tão forte que não possa ser deixado pra trás.

Apesar do papo batido, muito se fala sobre a morte do principal gênero de música eletrônica atual: o EDM. A grande questão é que, mesmo que pareça distante, esse assunto não é, de forma alguma, batido e nem indiscutível. De alguns anos para cá, as críticas em cima do gênero eram somente em resenhas, fóruns, blogs. Porém, a quantidade e frequência desse tipo de comentário aumentou tanto que chegou até os maiores produtores do mundo e, mais do que isso, chegou no ouvido da massa, do público que ouve e sustenta o estilo e que começou a repensar o que ouve, o que gosta e o que deveria consumir. Nesse momento, vários DJs começaram a tentar mudar a realidade da cena, tornando as faixas menos intro-progressão com ruído branco-drop e trabalhando um pouco mais as estruturas, dando entrevistas criticando os produtores menos criativos e assinando DJs talentosos, mas apesar do EDM ter um dos mercados mais poderosos do mundo, investimentos massivos, festivais nascendo a toda hora, o gênero não foi o que mais faturou em 2014. Conseguimos ter aqui mais uma resposta pra pergunta do título?

Mas, como uma cultura tão forte quanto a do EDM se consagrou e agora se fala em disseminação? O EDM, antigamente, era sinônimo de tudo que se relacionava à música eletrônica dançante, assim como a tradução literal de sua sigla. Com o passar do tempo, o gênero foi ganhando identidade, muitos produtores, uma “cara” que agradou uma multidão que até hoje se mantém firme. O fato é que a “dança”, de uns anos para cá, ficou em segundo plano. As músicas são feitas no automático, geralmente com packs parecidos, e fórmulas iguais evocam sentimentos iguais. O público agora nos grandes festivais só pulam, não dançam. Eles não sabem mais diferenciar um artista pela música, todas viraram uma replicação. E, no final das contas, a música, que é uma arte e que se trata de sentimento, no EDM ficou tudo tão vazio.

Na mesma força que se cresceu, o EDM pode se apagar por um único motivo. O gênero agora não é sinônimo de música eletrônica dançante e sim de música proibida de se tocar. Seja no Deep House, no Trap, no Techno, no Electrohouse, a faixa se aproximou do estilo, automaticamente ela não se torna palatável nem audível. O produtor já é criticado pelo gênero antes mesmo de ser ouvido, sua música já é taxada como um produto de menor qualidade sem ao menos ser estudada e seus fãs são tidos como menos exigentes – o que não é verdade. Para que se aproxime qualquer trabalho do mundo comercial é necessário que se mastigue muita teoria. É óbvio que depois que muita gente talentosa respirou de influências do underground para construir o mainstream, muitos outros produtores apenas começaram a copiar a fórmula. Mas antes disso, sempre antes de criar qualquer tipo de trabalho para que se chegue às massas tem que ter passado antes pelo túnel do underground antes. As ideias foram entendidas, sugadas e mastigadas para criação de trabalhos de mais fácil assimilação, seja com vocais (no Pop, Hip Hop, etc) ou com estrutura mais fácil e repetitiva (como na música eletrônica). No EDM, o empenho não foi menor, afinal, como menosprezar um estilo que cativou e foi foi abraçado por tantos outros gêneros? Ou melhor, que salvou tantos deles?

E exatamente por conta disso que muitas pessoas conseguiram ter acesso a gêneros que nunca teriam em sua forma original, como foi o caso do Dubstep ou até o Deep House. Esse último teve a maior receita do ano passado sendo esse o maior motivo que nos leva também à pergunta desse artigo. O Deep House teve em 2014 o seu ano de glória, em que o mundo já aceitava artistas como Disclosure e AlunaGeorge – que estouraram lá em 2012 e 2013 – e se propuseram a ouvir agora nomes como Duke Dumont, Motez, Gordon City e toda uma nova leva de produtores que estão aproveitando bem a oportunidade que o EDM trouxe ao seu nicho. Houve uma POPularização na estrutura do Deep House para agradar aqueles que estavam desgostosos com o EDM e procurando coisas novas para ouvir. Acharam, então, um gênero respeitado, com artistas frescos e talentosos e produções criativas. O resultado disso? A volta do Deep House.

O EDM vai morrer? Não. Assim como o Trance também não acabou. Mas pode entrar sim para a caixa do esquecimento. Falo desse jeito repetitivo de produzir que mal dá pra se saber de qual artista a faixa é. Pode perder sua força e dar seu lugar para outro gênero que mostrar mais criatividade e inovação. A música eletrônica comercial pode encontrar seu espaço em uma estrutura mais inteligente, dançante e criativa. O Trance se acomodou em 8 anos consecutivos de liderança de público e não respirou, caiu no limbo, veio alguém com coragem suficiente para mudar o mercado inteiro. Enquanto a indústria da Electronic Dance Music não acordar e resgatar a alma em sua música é bem provável se afunde na mesma velocidade que chegou no topo do mundo.

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MARCADORES: EDM

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King