Em ritmo de fuga

Destacando a produção eletrônica feita na América Latina, coletânea “Escape From São Paulo Vol. II” reúne KENYA20Hz, ACAPTCHA, Frontinn, Amanda Mussi, Diaz, Kamila, Govorcin, Victoria Mussi, Disociacion, Gawk & Zelada, Tin Man, Davis, Zopelar, Ramenzoni, _TTO, X-Vandals, Demian, White Prata, Pianki, TJOR e My Girlfriend

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Fotos: Divulgação

Produção eletrônica feita na América Latina é o destaque da coletânea Escape From São Paulo Vol. II, um compilado de 25 artistas idealizado pela gravadora In Their Feelings. As brasileiras estão representadas por KENYA20Hz, ACAPTCHA (Amig), Frontinn (ODD), Amanda Mussi e Diaz, projeto live PA solo de Laura Diaz, vocalista do TETO PRETO. Elas dividem espaço com a chilena Kamila Govorcin, Victoria Mussi, do Paraguai, e Disociacion, jovem produtora argentina. Outros talentos da cena sul-americana, como Zelada, Gawk, Ramenzoni, _TTO, X-Vandals (Davis e Martinelli), W hite Prata, Demian (LPZ), Pianki, TJOR, My Girlfriend também agregam sonoridades interessantes ao projeto.

A curadoria é assinada por Davis (ODD), um dos criadores do selo junto do produtor Zopelar (ODD). A dupla participa do álbum com a track “Incarne”, feita em parceria com Tin Man, músico tão aficionado por sonoridades Acid a ponto de  integrar um curioso projeto chamado The Acid Symphony Orchestra.

2020 é o ano recorde de produção em formato “vários artistas” no Brasil, uma onda de alívio perante às crises internas de ansiedade e incerteza.  V.Acina (Gop Tun), Salva Rave, Convid-19 (Bicuda Records), Goma.rec, C Lacraia Estivesse Viva (Tormenta), Projeto Anexo e muitas outras são igualmente excepcionais – afinal, é difícil tirar forças criativas em meio à angústia da pandemia.

Mas a Escape From São Paulo Vol. II traz ainda uma outra característica especial.  É a primeira vez que as primas de segundo grau Victoria Mussi e Amanda lançam tracks juntas em um álbum. Curiosamente, apesar do mesmo sobrenome, cidade de origem e círculo de amigos, elas se deram conta do parentesco apenas cinco anos atrás, relata Amanda à reportagem do Monkeybuzz, que trocou ideia com as duas.

“Encontrei no Soundcloud uma DJ chamada Victoria Mussi, de Assunção, no Paraguai. Fiquei curiosa e fui ouvir o que ela tocava, era também música eletrônica. Resolvi adicioná-la no Facebook quando vi que tínhamos vários amigos em comum, ela tocava com o pessoal do LPZ. Na hora, eu pensei: como assim, eles nunca falaram que conheciam uma mina DJ com o mesmo sobrenome Mussi? Mussi não é um sobrenome fácil de encontrar. E também existiam poucas mulheres DJs paraguaias. Eles falaram depois: ‘Nossa, é verdade, nunca prestamos atenção’ [risos]. Consegui falar com a Victoria, ela perguntou se eu era Mussi [de ascendência] libanesa. Eu respondi sim. Ela perguntou quem era o meu pai, eu disse o nome. Quando ela falou sobre o pai dela eu lembrei que o meu tinha realmente um primo com o mesmo nome. A Victoria respondeu: ‘Estava na casa do seu pai semana passada, ele falou sobre ter uma filha no Brasil, que trabalhava com música, mas o papo ficou por aí. Ele não disse nada a respeito de ser DJ’. Olha, foi uma situação muito sequela dos nossos pais e amigos [risos]. Começamos a trocar ideia e nunca mais nos desgrudamos. Naquele ano, eu fui ao Paraguai após um bom tempo sem ir até lá. Eu fui tocar no Sequence, clube do Ariel Soler (LPZ) e Alex AQ, onde vários DJs internacionais tocavam durante turnês pelo continente sul americano. Cheguei para tocar na pista do jardim e foi um acontecimento, pois foi a primeira vez que nos encontramos pessoalmente. Todos estavam esperando pelo encontro, foi muito especial. Desde então, começamos a trabalhar juntas, abri a Alt Bookings e fizemos muitos projetos, turnês, nos complementamos profissionalmente, além do gosto musical semelhante, é sempre muito legal quando tocamos B2B”

Victoria também não poupa palavras carinhosas para falar a respeito da trajetória musical da prima “meio paraguaia, meio brasileira”: “Quando o assunto é DJ set, Amanda é uma das pessoas mais carismáticas que conheço. Eu realmente admiro sua maneira de fluir com o momento e se conectar com a multidão em todo lugar que toca. Ela possui uma maneira admirável de transmitir e difundir sua bela energia por meio de sua personalidade e seleção musical. Quanto à produção musical, gosto muito de como ela brinca com a dinâmica da faixa na parte percussiva e como integra o recurso da repetição sincopada em linhas melódicas para unificar o conceito holístico que desenvolve em cada track”.

Outros lançamentos estão nos planos das primas. Amanda participa de uma coletânea de remixes do Philipp Gorbachev com participação de Marcel Dettmann, Barnt e outros artistas. Victoria prepara novos trabalhos que sairão pelos selos Jujuka, Noctem Klang, Inbetween e Nott Records.

Múltiplas similaridades percorrem a história de ambas, como a forte atuação além dos decks em suas cenas locais. Inaugurado em Assunção no ano passado, a boate Tango tem Victoria e P. Lopez entre os sócios. “Acredito que sejam os mesmos desafios de qualquer empreendimento com muitos parceiros: tomar decisões unânimes que respeitem o ponto de vista de todos; sob o compromisso de contribuir para o crescimento e ampliação cultural do nosso país. Outro desafio é manter a estabilidade na média de atendimento e aplicar constantemente flexibilidade quanto às estratégias utilizadas” afirma a DJ, ao ser questionada sobre as dificuldades de manter um clube. Ela também é uma das idealizadoras do Inbetween, iniciativa de eventos, selo, rádio e produção de conteúdo musical. “O conceito Inbetween nasceu com a ideia de divulgar a música e os artistas que, independentemente de gênero ou época, deixam para trás obras que nos inspiram e influenciam na hora de ouvir, tocar e criar; das raízes dos sons com os quais nos identificamos até a tendência vanguardista. A rádio cobre um amplo espectro de gêneros e artistas; é uma forma de liberar talentos de todas as partes e homenagear toda música que faz parte do ecossistema da cultura clubber. Dependendo do formato do evento, em nossas festas propomos House, Techno, Disco, Hip Hop, Jazz, junto do P.Lopez dos residentes. Convidamos artistas da gravadora, artistas emergentes e artistas oriundos da cena local e internacional para fazer parte de cada evento”. A aposta do selo para o mês de setembro é a estreia de LP de Victoria, influenciado por Techno e House, intitulado None of your Business.

Amanda Mussi é uma das idealizadoras do Rave Radar, uma iniciativa de conteúdo clubber ideal para ficar por dentro da agenda de lives. O projeto foi desenvolvido após um debate do evento ¼ em Quarentena, no Zoom, sobre a cena, e deve se desdobrar em uma plataforma musical underground, além de residir um programa na rádio Veneno.

Indicações de mulheres da cena paraguaia, por Victoria Mussi

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