Ema Stoned: “Cada show nosso é de fato único”

Vídeo ao vivo de “Marroquino” mostra dinâmica do trio nos palcos

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Fotos: Oswaldo Corneti

Toda gravação revela não como uma música é, mas como ela estava naquele instante em que foi registrada. Isso vale para os discos feitos em estúdio e também para os registros feitos ao vivo – até porque, como muitas entrevistas no Monkeybuzz revelam, muitas faixas se desenvolvem com o tempo à medida em que os músicos conhecem novas nuances das composições e arranjos.

Não é à toa que Ema Stoned, pouco mais de um ano após mostrar um vídeo ao vivo para Volta 42, coloca no mundo hoje, 16 de agosto, uma gravação de Marroquino retirada de sua apresentação no celebrado SESC Pompeia, em São Paulo. Por mais que a faixa seja reproduzida com certa fidelidade em relação ao que ouvimos no disco Gema (2013), aquele momento específico – composto pelo trio, as projeções, luzes, palco e público – nunca mais se repetirá da mesma forma.

“Cada show nosso é de fato único”, contou Jéssica Fulganio (bateria, percussão e vocais) ao site por email, “desenhamos cada apresentação de uma forma, variamos o setlist, trazemos novos elementos e improvisamos. Vez ou outra, a gente ainda solta coisa inédita”. Para Alessandra Duarte (guitarra), isso vem também de uma maior segurança da banda no palco. “Algumas músicas estão ficando mais estruturadas e tem saído bem parecidas nos shows, enquanto outras mais abertas continuam saindo de maneiras diferentes em cada apresentação”, conta ela, “eu particularmente gosto dessa mistura, eu gosto de ser surpreendida a cada apresentação”.

Marroquino é uma música que sempre foi muito bem recebida nos shows e aqui temos um registro dela com a ambientação dos recursos visuais”, explica Jéssica, “não é em todo festival ou casa de show que conseguimos promover essa experiência do diálogo com projeções. Nesse sentido, esse vídeo se torna importante e ainda mais especial nesse quase um ano de tour”.

É natural também que o som da banda se desenvolva com o tempo porque ele é criado justamente de uma dinâmica de jams, ou de ideias que surgem nos ensaios. A baixista Elke Lamers comenta que as influências de cada uma delas “vão moldar o som, e temos a sorte de ter referências diferentes também, o que faz com que as composições sejam algumas vezes estranhas para nós mesmas. Isso é bom”.

“Como a nossa proposta é experimentar fundir as singularidades de cada uma, isso evidencia esse caldeirão de estilos musicais”, conta Jéssica, “acho que nunca fizemos exercício de pensar na estética sonora como algo a ser buscado. Para nós, chegou na forma de muitas jams, experimentações e liberdade criativa. Sem regras e preceitos”.

Ema Stoned faz parte do catálogo do selo PWR Records, que trabalha apenas artistas mulheres. “Para nós, sempre foi e continua sendo muito importante ter o cerne da banda composto somente por mulheres”, conta Alessanra, que continua: “Desde o início, somos uma banda 100% feminina e vamos continuar assim até o fim, independentemente dos parceiro/as que encontrarmos pelo caminho. Para mim, essa ação/comprometimento é sim um ato político e chega a ser mais potente do que qualquer discurso que possamos ter”.

“Gosto de uma guitarrista que escreveu que não saberia dizer como é ser mulher na música porque nunca foi um homem, e que ninguém pergunta a um homem como tocar numa banda só de homens. Mas acho que isso é prova de que, sim, é um ato político, porque ainda há estranhamento num processo que haja apenas mulheres envolvidas no meio. Temos parceria masculinas também, não estamos fechadas. Mas tem sido gratificante trabalhar com mulheres e saber que fazemos algum barulho”, conclui Elke.

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ARTISTA: Ema Stoned

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.