Entrevista: Autoramas

Prestes a lançar seu DVD, a banda bateu um papo exclusivo com a gente falando sobre que tem ouvido, shows e os rumos da banda

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Desde 1997 os Autoramas têm uma folha de bons serviços prestados ao rock nacional. Gabriel Thomaz, Bacalhau e Flavia Couri representam a ideia clássica do trio-sem-ser-power, movido pelo rock enquanto elemento primordial da dança e da alegria. Aqui não há espaço para firulas instrumentais desnecessárias ou nada que os desvie da missão sagrada de forjar cançonetas de dois, três minutos com irresistíveis apelos para a pista de dança ou para a simples audição solitária no quarto, enquanto pensamos numa maneira de dominar o mundo. Às vésperas de lançar o DVD Autoramas Internacional, batemos um papo com o trio, sempre solícito e simpático, que respondeu umas perguntinhas assim, de leve, de leve que é na contramão.

Vocês estão comemorando 15 anos de carreira com a Unchained Tour. Conta pra gente como será essa celebração na estrada.

Flávia – O que a gente mais gosta é estar na estrada, então não tem jeito melhor de comemorar! Mas na real 2013 tem sido um ano comemorativo desde o início, com a festa de debutante, a décima turnê na Europa e os futuros lançamento do DVD Autoramas Internacional e o show no Rock in Rio.

Bacalhau – Na verdade esse ano inteiro de 2013 estamos comemorando os 15 anos de carreira com várias ações diferentes.Fizemos a décima tour pela Europa, já estamos com DVD Autoramas Internacional finalizado em breve disponível para todos .Em setembro começaremos com o show no Rock in Rio junto do nosso grande amigo BNegão e na sequência vamos para estrada com a Unchained Tour com os Fabulous Bandits de Londrina serão uns 30 shows pelo Brasil com apoio da Jagermaster e Amplificadores Peavey.

Gabriel – Em 2013 fizemos também nossa décima turnê pela Europa e já vai sair nosso DVD Autoramas Internacional, com cenas de shows e viagens pelos países onde já tocamos, Fomos escalados para o Rock In Rio…tudo isso faz parte das comemorações dos nossos 15 aninhos…até fizemos uma Festa de Debutante, foi lindo.

Ao contrário da maioria das bandas em atividade no país, vocês fazem questão de manter-se com os dois pés no “rock”. Vocês acham que isso é atitude ou já faz parte do DNA dos Autoramas?

Flavia – It’s only rock n’ roll, but we like it! O mais legal foi descobrir que pra tocar lá fora não é obrigatório, como muita gente ainda pensa, colocar elementos brasileiros no som, como pandeiros, agogôs, enfim, “brasilidades”: O rock é a verdadeira linguagem universal. E o que fazemos naturalmente é rock brasileiro, com características próprias, diferente do rock feito em outros lugares do mundo.

Gabriel – Não sei de quais bandas vc está falando, mas de qualquer forma é sempre bom ser diferente, pelo menos na minha opinião…o próprio termo RRRRRRROCK fomos nós que inventamos, depois pegou, maior galera usa até hoje…nós simplesmente fazemos o q está no nosso sangue, juntamos nossas referências e preferências, tentamos dar originalidade ao Rock (uma das coisas q mais gostamos de tocar lá fora é q sempre dizem que somos originais, aumentou muito a auto-estima da banda). o q sempre nos propusemos a fazer foi Rock para Dançar.

Em algum momento vocês definem o estilo de vocês como pertencendo a um “futurismo retrô” ou ao “futuro do pretérito”. Expliquem um pouco melhor.

Flavia – A estética vintage sempre foi uma referência no som e visual da banda, principalmente o futurismo dos 60, com sua visão de um futuro – que agora é nosso presente e até nosso passado – muito louco de foguetes e carros espaciais, luminárias coloridas e penteados ousados.

Gabriel – Acho q é só uma referência estética…a gente acha q faz muito sentido hoje em dia a ideia antiga de como seria o futuro, q é bem dos anos 50 e 60. Quando eles sonhavam que a realidade seria meio Jetsons (naves particulares, robôs, vida no espaço) pra resumir…Faz sentido porque a época q eles retratavam é a que vivemos hoje, século XXI…2013 mesmo é um ano q sempre era citado…

O programa Som do Vinil exibiu um episódio recentemente sobre o último disco de vocês, Música Crocante, lançado em 2011. Vocês consideram este o melhor trabalho dos Autoramas?

Flavia – Sim! Eu sou um pouco suspeita, mas acho o Música Crocante o melhor disco da carreira do Autoramas, em termos de composição, arranjos, produção e arte

Bacalhau – Sim,realmente chegamos num trabalho muito coeso e com uma sonoridade sensacional!!

Gabriel – Consideramos sim, e acho que quem conhece a carreira da banda também considera, pelo que a gente ouve por aí. O repertório é o melhor que já reunimos num disco, estamos cantando e tocando muito melhor, ideias mais concisas e bem acabadas…a gravação e a sonoridade ficou do jeito que queríamos, ficamos muito satisfeitos em todos os quesitos, até a capa é a nossa melhor. O disco foi muito bem aceito em todos os países onde foi lançado e ainda estamos negociando pra lançar em mais outros…É muito legal também lançar nosso melhor disco depois de anos e anos de carreira, é muito bom viver do presente. O resultado pra nós aparece nitidamente na nossa agenda de shows, que nunca esteve tão cheia.

Desde o início da carreira vocês têm sempre turnês no exterior. Como isso se iniciou? Há algum lugar pelo qual vocês tenham um xodó especial lá fora?

Flavia – Na Alemanha e na Espanha as pessoas são as mais loucas, a recepção dos nossos shows nesses países é sempre muito boa!

Gabriel – A primeira vez que tocamos fora do Brasil foi no Japão, fizemos uma turnê com nossos ídolos do Guitar Wolf, que viram um show nosso no Mato Grosso do Sul, piraram no som e bancaram nossa ida pra lá. Desde então não paramos mais. No nosso DVD Autoramas Internacional essa história fica muito bem contada. Os países onde a gente mais se diverte com certeza são a Espanha e a Alemanha…é sempre emocionante chegar na Inglaterra…e é muito gratificante sempre tocar na Argentina e no Uruguai, os países onde mais temos público.

Vocês são um trio, sempre com uma menina baixista (antes Simone e desde 2008, Flávia). É um fetiche por meninas roqueiras?

Flavia – Tem sido um prazer tocar com o Gabriel e o Bacalhau esses anos todos e poder contribuir e evoluir com eles, sempre. O rock tem uma tradição de boas baixistas como Carol Kaye, Suzi Quatro, Tina Weimouth, Kim Deal… Sempre achei bacana o lance do Autoramas de ter mulheres na formação, ainda mais por ter uma razão musical pra isso, e não apenas estético

Gabriel – É claro que eu e Bacalhau sempre fomos fãs de meninas roqueiras (alguém no mundo não é? -risos ). Mas existe uma razão para isso: desde o início da banda queríamos fazer um trio, mas com vozes masculinas e femininas…sendo assim, é necessário termos uma menina no baixo. Hoje com a Flavinha e toda sua técnica, conhecimento, carisma e presença estamos sem dúvida alguma no nosso auge artístico e ativístico!

Como vocês vêem a situação de shows e viabilidade de uma banda no Brasil, atualmente?

Bacalhau – Melhorou muito mas ainda sinto falta de casas de shows intermediárias!

Gabriel – A verdade é que nunca foi muito fácil ser músico no Brasil, seja de qualquer gênero…Hoje o que é bom é que você consegue achar seu público com muito mais rapidez dependendo da sua objetividade. Nós do Autoramas não temos do que reclamar, já que fazemos muitos shows e vivemos da nossa música numa boa, viajando muito e sempre materializando nossas ideias. Com certeza hoje é bem mais fácil do que na época que começamos nos anos 90, que tudo era tosco, amador e precário.

Flavia – Concordo com o Bacalhau, no Rio, por exemplo, muitas casas de médio porte fecharam… mas ficar só reclamando da falta de espaço não leva à nada. Cada banda tem que achar sua própria maneira de fazer sua carreira, como o Gabriel colocou.

O som de vocês mantém-se como uma bela mistura de rock dos anos 60, Jovem Guarda e new wave dos anos 80. Desses ingredientes, qual é o preferido de vocês?

Flavia – Rock dos anos 60, do Brasil – como a Jovem Guarda – e do mundo.

Bacalhau – Difícil, gosto de todos esses ingredientes.

Gabriel – Sou todos eles juntos Como falei antes, esses lances estão no nosso sangue…acho que também tem muito mais coisa nessa mistura; a energia do punk rock; sempre gravamos nossas Guitarradas, que curto muito; e tem aquela coisa dos anos 90 que não tem como negar…um Pixies aqui, um Pulp ali…não é verdade?

O que vocês têm ouvido da música atual, aqui e lá fora?

Flavia – No Rio, tem o Lê Almeida, os Azuis, o The Alberto…. Vi esse ano um show das Savages, banda inglesa e gostei muito. Ouvi o do QOTSA novo, está muito bom! Gosto de tudo que o Jack White lança, adorei o disco solo dele e os lançamentos de seu selo, o Third Man, Records como as Black Belles. Na Europa as últimas boas descobertas foram Columbian Neckties, da Dinamarca, e o incrível one man band francês Fredovitch.

Bacalhau- Sword, Arctic Monkeys, QOTSA, Prince, Vivendo do Ócio, Vespas Mandarinas, Canastra, The Baggios.

Gabriel – No Brasil, The Baggios é sem dúvida a melhor banda. Gostei muito do show do Vespas Mandarinas que participei, o Felipe Cordeiro é um baita guitarrista, gosto muito do Gilber T, do Fabulous Bandits, do Lendário Chucrobillyman, do Uh La La, e no quesito “suspeito pra falar” estaria mentindo se não dissesse que não estou louco pelo novo disco da Érika Martins “Modinhas” que está excelente…até música inédita do Tom Zé tem, mas ainda não saiu. Lá fora tem muita coisa boa…da Alemanha curto muito o World Domination, belas letras e senso de humor, o chileno Perrosky que está melhor a cada disco, em Portugal temos nosso querido Nick Nicotine com seu milhão de projetos, de lá também vem o Legendary Tiger Man, um dos maiores talentos da música atual, temos a gran de promessa Dirty Coal Train, tsmbém de Lisboa (acho que nunca teve tanta música boa feita lá). Dessas paradas que estão na moda lá fora, sou fãzão do Thee Oh Sees (tocamos com eles em Berlin) e o Arabian Mountain do Black Lips eu ainda não enjoei…não sei se já lançaram coisa nova…ainda não tive tempo de ouvir o último do QOTSA, mas é uma banda que curto bastante.

Vocês estão disponibilizando a venda do picture disc do Música Crocante pelo site da banda. Vocês acham que o caminho é mesmo o do it yourself turbinado pela internet?

Gabriel – Eu acho que a gente precisa trabalhar bastante nossa presença na internet ainda…nosso do it yourself é bem old school…nós gostamos de vinil porque nós gostamos de vinil antes de existir cd…sobre o Música Crocante, a versão picture disc já a segunda edição que o album recebe em vinil, a primeira em gatefold ficou lindona também, a que apareceu no Som do Vinil

Flavia – A internet ajuda muito, desde a venda de discos até atualização do que a gente anda aprontando… mas concordo com o Gabriel, somos meio old school ainda nesse quesito. E nosso Do it Yourself vai além da internet, somos Do it Yourself gravando e lançando discos, fazendo turnê, participando de programas de tv, etc.

Nesses 15 anos de estrada, qual foi o show mais memorável dos Autoramas?

Bacalhau – Show em São Bernardo de baixo de chuva torrencial e galera não arredou pé e curtiu o show até o fim!!

Gabriel – Festival Primavera Sound em Barcelona e Porto Musical em Recife

E, pra equilibrar, ao longo do tempo, qual foi a maior roubada em que vocês já se meteram em termos de show?

Gabriel – Foi também em Recife…estávamos programados pra entrar meia-noite mas subimos no palco às 6 da manhã, o equipamento era pior que nos anos 90, tocamos para umas 8 pessoas e uns 50 seguranças e no dia seguinte quando o cara nos pagou começou a chorar…lamentável…pelo menos fomos pagos… nesse show o Fresno também tocou, outro dia encontrei com o vocalista deles na Augusta e ele falou que até hoje não viram a cor do dindin.

Flavia – Escapei desse de Recife! To pensando aqui mas tá difícil barrar essa história…

Quando poderemos ouvir novo disco do Autoramas?

Flavia – Nosso DVD em breve estará pronto. E logo começaremos a pensar no próximo disco. Mas temos feito gravações para um projeto novo, com música inédita… não vou falar mais pra não estragar a surpresa!

Gabriel – Vamos lançar nosso DVD Autoramas Internacional agora, depois disso começaremos a trabalhar num novo projeto.

Bacalhau – Com certeza mas tem muita coisa pra fazer ainda antes do disco novo, não perca o Música Crocante em picture disc, pré-venda exclusiva pelo link: http://bit.ly/135Bugf

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ARTISTA: Autoramas
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.