Sexta-feira, 18 de maio, às 15h. Essa era a data marcada para o Monkeybuzz encontrar a norte-americana Band of Horses para um bate papo exclusivo na cobertura de um hotel no Rio de Janeiro.
O quinteto nem parecia estar na correria de muitos compromissos em tão pouco tempo no país – talvez por uma calma causada pela deslumbrante vista de Ipanema – para uma segunda visita em menos de dois meses, na qual marcaram dois shows, um na final do WCT no Rio (no sábado, 19) e outro bem menor em São Paulo, no Beco 203, (segunda-feira, 21). O novo convite aconteceu para aproveitar o bom momento da banda com os brasileiros, após ter feito um dos melhores shows do Lollapalooza e seu álbum Infinite Arms (2010) finalmente aportar nas prateleiras nacionais.
Foi sobre isso que conversamos com Ben Bridwell (vocal e guitarra), Bill Reynolds (baixo), Tyler Remsey (guitarra), Ryan Monroe (teclado e guitarra) e Creighton Barrett (bateria), que nos contaram também sobre o quarto disco, produzido pelo lendário Glyn Johns, com lançamento previsto para o segundo semestre. Veja como foi o bate papo com os caras nas fotos ao fim da entrevista (postaremos mais em nossa página do Facebook).
Monkeybuzz: Vocês vieram pela primeira vez ao país há 40 dias e já estão de volta. Que loucura é essa? Ben Bridwell: É uma loucura, é muito louco. Nós moramos aqui agora (risos) Estamos tentando aproveitar a oportunidade. Pareceu que nós estávamos em um bom momento, visto pelo show no Lollapalooza, e nossa produção entendeu que era uma boa voltarmos e darmos continuidade a isso, promover mais nosso trabalho, porque nós não tivemos muita chance de fazer isso na última vez, então estamos aqui tentando fazer com que o maior número de pessoas possível nos conheça.
Mb: Como vocês nos explicariam o som da Band of Horses? Ben: Eu diria que vocês estão em boa companhia (risos). Nós não sabemos ao certo, é um monte de coisas mesmo. Tem influência de Roots, Rock’n’roll, Indie Rock dos anos 90… Creighton Barrett: É tudo isso misturado. Ben: É, nosso som é mais ou menos a mistura de tudo isso sem ficar em um só estilo, eu acho. Pelo menos na minha cabeça é assim, talvez outra pessoa ouça e diga: “olha, é música de branquelos”. É difícil definir, pelo menos pra nós.
Mb: No Lollapalooza, vocês tocaram durante o por do sol para milhares de pessoas, foi muito bonito. Como foi a experiência para vocês? Tyler Remsey: Foi um daqueles shows que se destacam. Era a energia certa na hora certa, todos nós sentimos isso juntos, foi muito bom. Ryan Monroe: Foi uma recepção muito positiva do público. Estávamos animados por ser nossa primeira vez aqui, mas parecia que já tínhamos vindo umas dez vezes antes, sabe?
Mb: Sim, muita gente veio para ver o show, não coube todo mundo naquela área. Ben: É, não devia ter mais ninguém tocando naquela hora (risos). Ryan: Sabe, quando você vai tocar em algum lugar pela primeira vez, você não tem expectativas a não ser para si mesmo, que você vá e faça o seu melhor na esperança do público responder bem. No Lollapalooza, mesmo antes da gente entrar no palco, nós já percebíamos que a festa ia ser boa, sabe? Então estávamos bem animados. Ben: Esse elemento faz metade do trabalho para nós, quando você sabe que eles estão mandando entusiasmo na sua direção. É como uma incrível partida de tênis, tipo: (faz gestos com as mãos mostrando um lado de cada vez) “Vocês estão curtindo? Nós também estamos curtindo?”.
Mb: O que vocês aprenderam sobre os brasileiros com essa experiência? Creighton: Que nós queremos fazer isso de novo. Todos: Yeah! (risos) Ryan: Boa resposta! Bill: Muitas e muitas vezes. Ben: São incrivelmente entusiasmados. Não sei se isso vem de terem sido ignorados por tanto tempo, sabe, com muitas bandas americanas e britânicas talvez não tendo condições de vir, de não fazer muito sentido para elas economicamente, pelo menos para bandas do nosso tamanho. De onde nós viemos também era assim, não pudemos ver muitas bandas, então há um elemento de empolgação. É diferente tocar em Nova York e em South Carolina, por exemplo, talvez o povo fique muito bêbado por estar muito animado, ou é um outro elemento que não existe em outros lugares porque talvez algumas pessoas estejam um pouco “mimadas” de certa forma. Talvez seja isso, [o público brasileiro] tem um entusiasmo cru, não mimado, por música.
Mb: E como serão seus próximos shows depois de tanto entusiasmo brasileiro? Bill Reynolds: Nós teremos um pouco de tempo livre antes de fazermos shows de novo, nós voltaremos com a turnê no fim de julho. A sensação vai ser tão boa quanto sempre é estar no palco. Ben: E nós estamos com um álbum novo embaixo do braço, então vai ser uma boa hora para trazer o novo material à luz e começar a nos preparar para quando o disco sair. Ryan: A impressão é que esses shows no Brasil são os últimos de um ciclo, é o fim de um capítulo. Ben: Com certeza. É engraçado, o Infinite Arms acabou de sair aqui, mas nós estamos fechando o capítulo com esses últimos shows. E, sim, um novo capítulo começa com um novo álbum. Tyler: Ou seja, estaremos de volta aqui duas semanas depois de irmos embora (risos). Talvez três.
Mb: Vocês já devem tentar um passaporte brasileiro, então. Creighton: Nós estamos tentando que alguém da banda se case com uma brasileira (risos). Ben: Com certeza já temos filhos por aqui (risos).
Mb: Vocês estão aqui desta vez para tocar em duas cidades, Rio e São Paulo. Vocês tem expectativas diferentes para cada um dos shows? Creighton: É difícil dizer, nós nunca fazemos nada com expectativas, estamos apenas super gratos por podermos estar aqui e tocar é a melhor parte para nós. Ben: É, aqui [no Rio, o show] é em um festival para o torneio de surfe, e em uma atmosfera assim você tenta manter as pessoas animadas. Em São Paulo é um show em uma casa menor, então você tem a chance de tocar outro tipo de material e deixar o setlist fluir com algumas músicas mais lentas, entrar em músicas mais profundas. Você fica com medo de entediar 20 mil pessoas no Lollapalooza, você não quer tocar nada muito calmo. Cada show é diferente para nós, nunca seguimos o mesmo roteiro. Ryan: Nós somos uma banda “nova”, tudo depende do dia. Nós ainda estamos aprendendo sobre tudo: o jeito que tocamos juntos, onde tocamos, as diferenças entre países e coisas assim. Então, eu não acho que podemos esperar nada a não ser daqui uns 35 anos, quando vamos saber exatamente o que vamos tocar. Agora, ainda estamos descobrindo tudo.
Mb: E vocês terão algum tempo livre desta vez no Brasil? Ryan: Temos o domingo de folga aqui no Rio. É um sonho estar aqui, nós nunca pensamos que viríamos ao Brasil. Você pensa “sim, eu vou viajar com a banda um dia”, mas eu, pessoalmente, nunca pensei que chegaria aqui. Ben: Você chega em São Paulo e tem toda aquela urbanidade, ela parece uma prisão – do ponto de vista de alguém de fora. Chegar no Rio hoje é ver o que todos nós imaginávamos que seria estar no Brasil. Ao menos é o que “parece” ser o Brasil na nossa imaginação (risos), então parece real agora.
Mb: Vocês conhecem música brasileira? Creighton: No círculo musical em que eu estive a minha vida toda, eu nunca ouvi o que é chamado de world music. Ben: É assim que nós americanos burros chamamos tudo o que vem de fora, “world music” (risos). Creighton: Mas agora que estamos mais velhos, nos interessamos mais em descobrir novas coisas. Eu me lembro de ouvir a trilha de A Vida Marinha com Steve Zissou do Seu Jorge e achar incrível. Ben: No meu conhecimento, Bossa Nova era só o título de um álbum do Pixies (risos). Bill: Eu sempre ouvi muito Antônio Carlos Jobim e sempre fui muita fã da Astrud Gilberto. Uma das músicas do novo álbum foi baseada numa canção dela que foi uma grande influência pra mim e, de alguma forma, isso apareceu na minha composição. Eu mostrei pra eles e eles não notaram, mas aquela música me influenciou bastante. Ben: Os Mutantes, eu amo aquela banda. Tyler: Teve uma fase em que a Tropicália estava em alta e eu trabalhava em uma loja de discos na época, então eu ouvia bastante disso.
Mb: Sobre o novo álbum, o que já podemos saber sobre ele? Ryan: Ele é provavelmente o nosso disco mais “cru”, não é um som como a gente sempre faz. Ben: Foi também o processo mais “cru” que já gravamos: direto em fita, com o mínimo de overdubs, não passou nem perto de um computador. É a maneira mais “pré-histórica” de se fazer um álbum. É muito diferente, não é como os anteriores, mas há elementos nas músicas que eu acho que podem ser identificados nos outros discos. Acho que no último álbum nós tivemos que usar algumas faixas mais aceleradas para equalizar a vibe dele, enquanto neste a gente teve que colocar músicas mais lentas só para dar um respiro. É muito agitado e talvez tenha mais Rock’n’Roll, e não apenas Rock, mas com a influência do produtor (Glyn Johns), que já trabalhou com The Rolling Stones e The Who e coisas assim, muito veio dele, isso de ser Rock’n’Roll… mas, também, ser Rock. Isso faz sentido? Acho que tem uma pegada mais Roots, mas tem também a nossa versão do que é Indie Rock.
Mb: Como foi trabalhar com Glyn Johns? Ben: Foi fantástico. Foi o processo de gravação mais divertido e fácil que eu já participei. Acho que ele tira aquilo de ser muito perfeccionista – o fato de não termos a opção de editar ou consertar alguma parte foi libertador, de certa forma, porque você precisa apenas ir em frente e conviver com seus próprios erros. Creighton: Eu não consigo imaginar alguém que nos deixasse tão livres para gravar quanto ele. Tudo o que ele queria era que a energia continuasse não importa o que acontecesse. Se a energia estivesse boa e nós mijássemos no microfone ele falaria: “Yeah!” (risos). Bill: A gente tinha que acreditar nele, se ele dissesse que estava bom. Ele teve a palavra final em todos aqueles álbuns incríveis que ele fez. Ben: Foi um pouco assustador, porque estamos acustumados a fazer as coisas de um certo jeito para deixar um disco com cara de Band of Horses, então tivemos que ter certeza que estávamos prontos para desencanar disso. Com certeza, tivemos que sair da nossa zona de conforto, mas essa é uma das coisas que nós mais gostamos nos álbuns que ouvimos a vida toda, como um disco do Pavement, ou um dos Rolling Stones, em que eles cantam a letra errado em alguma parte e você diz “esta é a minha parte favorita!”. Tem coisas nesses discos que podem ser desconfortáveis para os artistas, mas talvez da perspectiva de um fã de música, podem ser ótimas. Veremos (risos). Ryan: Lembrando agora, coisas assim aconteceram. Não fazíamos de propósito, ele não mandava a gente errar de propósito para ter uma certa energia, mas às vezes acontecia. Nós tentamos fazer perfeito, mas com certeza não ficou (risos). Ben: Até onde sabemos, pode ter ficado um desastre (risos).
Mb: Essas escolhas todas na direção do álbum foram feitas por que as composições que vocês fizeram pediam isso ou por sugestão, ou influência, do produtor? Ben: É uma ótima pergunta. Nós entramos em estúdio com umas 50 canções, talvez mais, em demos que fizemos. Quando começamos a trabalhar com o Glyn, com todo seu legado e o pedigree do Rock que ele tem, nós pensamos “vamos mostrar essas que são mais Rock’n’Roll para ele e, quando ele não estiver olhando, nós fazemos algumas do nosso jeito” (risos), mas nós nunca conseguíamos. É difícil perceber quais são as músicas boas e quais as ruins para um disco, é tudo especulação e uma questão de gosto. Talvez aquele cara ache que esta música é boa, mas em nosso coração a gente não acha que é uma música para o Band of Horses. Então, honestamente, o nosso conceito do que era bom ou não para o disco era o que concordávamos naquele dia. Ao mesmo tempo, tinha músicas que nós gostávamos, mas ele não. Nós pensávamos que alguma certamente estaria no álbum, aí nós entrávamos no estúdio com ele e ele diria que não via o propósito naquela canção. Daí você pensa: “talvez ele esteja certo, mas talvez ele esteja totalmente errado”. É um processo muito confuso. Basicamente, nós tentamos deixar todos felizes com a música em que trabalhávamos naquele dia, e em algumas vezes nós começávamos a trabalhar em uma canção que não gostávamos e, no fim do dia, estávamos pensando: “talvez ele esteja certo, é uma música divertida de se ouvir”. Ryan: Ele foi nos ver tocando ao vivo em Washington DC quando tivemos a primeira reunião com ele e acho que o que ele quis foi capturar a essência de nosso show. Ben: E ao vivo nós não tocamos tanto as músicas mais lentas, só uma ou outra de vez em quando para respirar, mas, na maior parte do tempo, é um show de Rock agitado. Então, foi assim que ele nos conheceu, sem ouvir os nossos álbuns antigos, ele não liga para nossas músicas como The Funeral, ele nem as conhece.
Mb: E Infinite Arms tinha tantas músicas mais lentas, como Evening Kitchen… Ben: Sim, ou a própria canção Infinite Arms… Essas músicas mais Pop são um jeito de você dizer: “por favor, Deus, mande uma música agitada!”, mas agora é exatamente o oposto. Ryan: O produtor não ouviu muito dos nossos trabalhos anteriores a não ser o que tinha escutado ao vivo, então isso acabou o direcionando para a maneira com que ele trabalhou o álbum, que é o jeito que ele nos vê. Ben: Sim, é um álbum de Rock’n’Roll agitado. Bill: Tem a questão de nós termos uma influência da música Soul, mesmo sem ser uma banda Soul, e isso fica claro em nossos shows, mas nós nunca conseguimos colocar isso num disco. Dessa vez, nós conseguimos revelar melhor nossas influências, dá para ouvir melhor cada uma neste álbum. A música americana é um caldeirão de muitas coisas diferentes e ele nos ajudou a focar nas direções certas nas quais achávamos que estamos indo, mas não sabíamos como ir.
Mb: Sabemos que vocês não tem muito tempo para ouvir novas coisas, mas quais os novos artistas que vocês tem escutado ultimamente? Ben: Meu álbum favorito é o do Michael Kiwanuka. Eu o ouço umas três vezes por dia, é fantástico. Ryan: O disco do Alabama Shakes também. Creighton: E Father John Misty. Bill: Eu ouço muito A. A. Bondy. Ben: Mas, tanto novos quanto velhos, nós sempre ficamos obcecados por álbuns e o ouvimos muitas e muitas vezes. Nos ajuda, como fãs de música, a escrever melhor.
(Colaborou Lucas Repullo)