Entrevista: Bárbara Rodrix

Filha de um dos maiores compositores brasileiros, a cantora conta um pouco de sua trajetória, planos futuros e reflete sobre os benefícios e dificuldades de ser um artista independente no Brasil

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Bárbara Rodrix tem tudo para cravar seu nome no grupo de cantoras de música brasileira que se renova constantemente. Dona de personalidade musical marcante e herdeira de um dos maiores compositores da canção brasileira, Zé Rodrix, ela conversou conosco sobre seu trabalho, seus planos, a vida complicada dos artistas independentes no Brasil e, acima de tudo, traçou planos para o futuro a curto/médio prazo. Quando ela estourar e estiver sob os holofotes, você sempre saberá que leu primeiro aqui, no Monkeybuzz.

Monkeybuzz: Conte como foi o início da sua carreira musical.

Bárbara Rodrix: Tudo começou muito cedo. Quando eu nasci, meu pai tinha deixado sua carreira de cantor e compositor de lado e estava se dedicando exclusivamente à publicidade. Ele era dono da Voz do Brasil, uma das maiores produtores de jingles do país, junto com o Tico Terpins. Lá comecei a gravar inúmeros jingles. Eu amava cantar e gravar no estúdio, era a melhor brincadeira para mim. Dai em diante, tudo aconteceu muito naturalmente, não consigo nem apontar de fato aonde a minha “carreira” começou. Porque canto profissionalmente desde sempre, mas não sei se isso pode ser chamado de carreira. Com 15 anos entrei no estúdio para registrar minhas músicas. A princípio era só um registro, mas virou um disco produzido pelo meu pai. Um trabalho muito bonito pelo qual eu tenho um carinho imenso.

Mb: Você tem muita relação com a composição de músicas para publicidade. Esse é um caminho viável para quem compõe no Brasil?

Bárbara: Não componho para publicidade. Não consigo. Acho desperdício de criatividade. Tem gente que sabe lidar bem com isso, meu pai era um grande exemplo. Acho que publicidade e musica são artes completamente diferentes, apesar de estarem próximas. Não necessariamente quem compõe canções sabe criar jingles. E vice-versa.

A publicidade, aqui em são Paulo , tem um mercado bem grande. Amo cantar, simples assim. Escolhi viver disso, gravo jingles com todo o prazer do mundo, apesar de gostar mesmo de cantar minhas músicas, músicas que eu goste ou que falem algo que eu gostaria de dizer.

Mas não acho que a publicidade é um caminho para quem compõe no Brasil. Acho que é um caminho viável para quem compõe jingles.

Mb: Como era o convívio com seu pai em termos musicais? Qual a música dele que você mais gosta?

Bárbara: Meu convívio com meu pai era muito próximo. Sempre fui muito interessada pelo que ele fazia. O processo de criação dele, tanto pra jingles quanto para canções, me intrigava muito. Em 2000, quando ele se juntou novamente ao Sá e ao Guarabira, voltou a ter interesse em compor, cantar, tocar e eu estava sempre por perto. Sempre que podia ia nas viagens da turnê do disco Outra Vez Na Estrada com Sá, Rodrix e Guarabira. Viajava com a banda toda naqueles ônibus de dois andares, assistia a passagem de som, via o show sempre muito atenta. Adorava. Acho que foi aí que decidi o que eu queria ser. Nessa época começamos a frequentar um clube de compositores, o Caiubi, ele voltou a compor e eu comecei. Temos muitos parceiros em comum. A convivência dessa época foi a mais especial. Crescemos muito ali, juntos. Eu começando e ele recomeçando. Escuto muito meu pai. Sempre escutei. E é bem difícil dizer qual minha música favorita, seria mais fácil dizer as que não gosto muito. A obra do meu pai é inacreditavel e não é por ser meu pai. Ele é um dos compositores que mais admiro, de verdade.

Mb: Como funciona a rotina de um artista brasileiro sem gravadora na hora de pensar e lançar um disco?

Bárbara: A minha experiência nesse aspecto foi bem frustrante. Quando gravei meu disco, ainda estava no colégio. Além do colégio estava estudando na ULM (Universidade Livre de Musica- Tom Jobim). Assim que gravamos tudo, eu e meu pai decidimos esperar eu me formar para dar andamento nesse processo todo, de masterização, arte e prensagem. Quando decidimos retomar, faltou grana. Quando tínhamos grana, meu pai morreu. Aí tudo ficou pra depois. Esse processo todo teria sido mais fácil se tivesse uma gravadora envolvida, principalmente pela falta de dinheiro, porém é difícil encontrar alguma gravadora que te permite fazer as coisas do seu jeito, gravar o que você quiser, com os músicos da sua escolha. Ela se torna parceira no projeto, e isso nem sempre é bom.

Mb: Como você classificaria a sua música?

Bárbara: Não sei. Diria que é musica brasileira, mas nem sei muito bem o que isso que dizer e não sei se isso classificaria muito bem o que eu faço. É uma musica brasileira com bastante Blues no meio.

Mb: Você acha que existe uma cena musical independente no Brasil ou apenas casos isolados?

Bárbara: Com toda certeza existe. Com todo o avanço tecnológico que estamos enfrentando, a cada dia é mais fácil se produzir. Não é necessário uma estrutura que só uma gravadora é capaz de dar. A cada dia aparecem mais recursos, além do acesso ser muito mais fácil. A Internet é a grande responsável por isso. Tudo está ali, disponível pra quem quiser ouvir.

Ainda acredito que a força do rádio e da TV são muito grandes para a divulgação de um artista, mas não são mais as únicas maneiras e, na maioria das vezes, sendo um artista independente, o caminho para se chegar à televisão e ao radio são mais compridos e difíceis.

A Internet nos possibilita romper as distâncias, e chegar no mesmo lugar fazendo apenas um caminho diferente.

Mb: O que você acha do atrelamento dos artistas às estruturas de incentivo fiscal e demais mecanismos do Governo?

Bárbara: Esse e um assunto complicado.

Meu pai era totalmente contra a Lei Rouanet. Eu cresci vendo ele recusar ter participação em qualquer projeto financiado pela Lei, mas, sinceramente, acho um tanto radical. Acho que como tudo, existem casos e casos. Esses mecanismos facilitam muitos projetos que não seriam realizados sem essa colaboração. E se esse dinheiro está ali para ser investido em cultura, nada mais justo do que tornar possível um projeto cultural.

Mb: Quais suas influências musicais como cantora e compositora?

Bárbara: Escuto muita música, desde sempre e tudo o que eu escuto me influencia.

Poderia citar milhares de nomes que me como Janis Joplin, Billie Holiday, Elis, Gal, Zé Rodrix, Lenine, mas de fato, hoje em dia, minhas grandes influências são meus amigos. Tenho muita sorte de ter tanta gente boa perto de mim. E realmente os admiro muito. Paulo Novaes, Pedro Alterio, Bruna Moraes, 5 a Seco, Paulo Monarco e muitos outros, que ficaria difícil listar sem esquecer alguém.

Mb: Conte sobre o seu primeiro disco, Ninguém Me Conhece. Como as pessoas podem ouvir, baixar, comprar?

Bárbara: Depois da morte do meu pai, surgiram oportunidades para retomar esse processo de finalização do disco, mas já havia passado tanto tempo, que não era mais aquilo que eu queria dizer. Aquilo era um retrato do que eu era há 7 anos. Acredito que a música é do mundo e ela não existe enquanto estiver dentro da minha gaveta, apesar desse ser um trabalho diferente do atual, brevemente meu trabalho estará disponível pela Internet. Todo mundo saberá quando isto vai acontecer através da minha fanpage e do Facebook. Quem quiser matar a curiosidade, algumas faixas estão disponíveis no Youtube. É só ir lá em “Barbara Rodrix” e ouvir.

Mb: Como está o andamento da preparação do novo disco?

Bárbara: Estou bem no começo, escolhendo repertório, compondo, esse processo é bem lento e tem que ser feito com carinho. É difícil descobrir o que você quer dizer e como quer dizer. Acredito que no primeiro semestre do ano que vem vamos pro estúdio. Estou compondo algumas músicas com a Luiza Possi.

Mb: Qual o conselho que você pode dar para quem está começando nessa carreira?

Bárbara: Acho que a única coisa que posso dizer é: se for isto mesmo que você quer, se é o que você ama e que te faz feliz, vá nessa. Sempre encontramos muitas dificuldades no meio do caminho, mas se não encontrássemos, também não teria graça. Não faça sua arte pensando em agradar o outro. Agrade a você mesmo, uma hora seu público e você vão se encontrar.

Mb: Quando poderemos ver você no palco?

Bárbara: Por enquanto não tenho nada marcado. Estou com projeto novo com meu amigo Paulo Novaes e estamos para fechar alguns shows, mas ainda nada certo. Além disso tem o meu show, com musicas minhas, mas que ainda esta em fase de criação.

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MARCADORES: Entrevista

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.