Entrevista: Bear Ceuse

Cameron Matthews, vocalista da banda, conta sobre mudança pra Nova York e nostalgia pelos anos 90 – fonte de inspiração pro som do grupo

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Bear Ceuse é uma daquelas bandas que todo mundo pra quem você apresenta curte”. Meu amigo Nik Silva me disse isso outro dia e não teve como discordar, até porque essa foi a experiência que eu tive ao sussurrar esse nome para alguns amigos que queria ouvir novas bandas e o mesmo aconteceu comigo quando ele me sugeriu que ouvisse Don Domestique.

Curiosos sobre seu trabalho, nós dois trocamos alguns emails com Cameron Matthews, vocalista da banda, e o resultado você vê publicado aí, logo após o play no álbum.

Monkeybuzz: As coisas começaram a acontecer de fato na carreira quando você se mudou de St. Louis para Nova York. Você acha que a música independente de hoje em dia ainda precisa de uma “cena” para dar certo?
Cameron Matthews, da Bear Ceuse: Sair de St. Louis me ensinou muito sobre a indústria musical. Mesmo com as bandas se beneficiando com a Internet, uma “cena” é agora mais importante do que unca. Nós, artistas, não existimos em um vácuo. Desde a era do MySpace, a indústria inunda com milhares e milhares de bandas novas. Então, é difícil descobrir quem é importante. As comunidades de música e arte de Nova York funcionam com ações colaborativas. Se uma pessoa em um grupo pode ser bem sucedida, então o resto de nós também pode. As cenas musicais vem e vão, mas, além disso, é importante que cidades menores (como St. Louis) tenham uma devoção rica e contínua a seus artistas locais. St. Louis está abraçando o Indie Rock agora e eu acho que ela será um modelo para o resto do país em breve.

Mb: Como uma mudança de cidade afeta suas composições?
Cam: Estou escrevendo sobre meu estado-natal (Missouri) mais do que nunca. Então, me mudar pra Nova York retroativamente me deixou mais Midwestern (daquela região do país). É meio estranho, mas meio legal, eu acho. Eu ainda escrevo sobre as pessoas e lugares com que eu cresci. Mesmo já morando em NY há três anos, eu ainda não sei onde nada fica na cidade. Então, é por isso que você provavelmente vai ouvir muito pouco sobre a cidade nas músicas da Bear Ceuse.

Mb: Me parece que muitas das suas músicas em Don Domestique são sobre coisas que existiam e não existem mais. Você acha que isso também é por causa da mudança de cidades ou é parte de crescer? E que papel que a nostalgia pelos anos 90 presente no seu som tem em passar essa mensagem?
Cam: É uma pergunta muito interessante. Sim, minha infância se foi. Me mudei de minha cidade-natal – o único lugar que eu conhecia. E meu relacionamento com minha namorada passou por sérias mudanças nos últimos anos. Mudar é bom. Se você não muda, você não cresce. A nostalgia dos anos 90, entretanto, é diferente. É porque os anos 90 eram muito foda. A tecnologia era abundante, a economia americana estava mais forte do que nunca e bandas como Nirvana, Mudhoney, Superchunk e Pavement comandavam o som. Eu tinha sete anos em 1995, então o gosto musical da minha infância era ditado pelo que estava na rádio. Bandas como The Wallflowers, Fastball, Tal Bachman, Natalie Imbrugila, Backstreet Boys – esses grupos e artistas eram os ouvidos nas rádios populares dos anos 90. Sou um purista do Indie Rock, mas eu amo o pop dessa década. Digo, não dá pra competir com Shania Twain da época. Quando comparada a Lady Gaga é tipo – que merda aconteceu com a cultura popular? Por que estamos usando duas notinhas em cada música? Por que tanta percussão? Nós todos estamos ficando mais burros ou eu que vivo no passado?

Mb: Quando você está escrevendo uma música, o que vem primeiro: A letra ou a melodia?
Cam: Eu diria que, em 80% das vezes, eu escrevo uma progressão de acordes ou um riff primeiro, daí escrevo as letras. Mas, no resto do tempo, escrevo as letras e a melodia simultaneamente na minha cabeça e deixo a música girar no meu cérebro por algumas semanas antes dela nascer em um gravador de fitas cassete.

Mb: Quando que vocês se deram conta de que era dessa forma que seria o som da Bear Ceuse e do álbum?
Cam: Bem, a maior parte das músicas em Don Domestique foi escrita cerca de quatro ou cinco anos atrás, então o “som” já tinha sido desenvolvido. Yes Man, My Friends, Entertain Me e All Out of a Hat foram escritas em Nova York e são todas meio parecidas. Esse álbum é um monte de singles que não tem tanta conexão entre si. É um bom álbum pra começar. Mas estamos trabalhando em um novo disco agora e ele terá muito mais coesão e estilo.

Mb: Como você vê o papel de cada um na banda para que ela tenha o som que tem?
Cam: Todos os caras na Bear Ceus (tirando eu) tem alguma formação em música. Danny Sher, nosso baterista, é um jazz man incrível, você tem que vê-lo tocar. É doido. Ele é louco, loucamente bom e sempre perfeito. Jordan James, nosso baixista, está no momento fazendo seu mestrado em trompa na Juilliard. Ele é um baixista foda, mas a gente tinha que tê-lo tocando trompa em Don Domestique. Dá pra ouvi-lo em My Friends e Yes Man. Adam Horne, nosso guitarrista, era a última peça em nosso quebra cabeças. Ele teve sua educação em jazz e toca como o frontman de uma banda japonesa de Power Metal. Eu nunca preciso falar pra eles o que fazer quando estamos escrevendo as músicas. Eles sabem intuitivamente. Eu sou sortudo pra caralho.

Mb: Você se influencia facilmente pelas coisas que ouve e precisa tomar cuidado na hora de escolher aquilo que vai escutar?
Cam: Sim, essa direção subliminar é muito forte. Tenho ouvido muito de Drive-by Truckers e Uncle Tupelo agora. Mas, em cerca de um mês, eu vou escutar só música clássica. Depois de um mês desse sorbet auditório, eu vou ter uma paleta limpa pra trabalhar. É um velho truque eu que aprendi com nosso produtor, Pat Crecelius.

Mb: É importante que novas bandas se relacionem bem com outros grupos?
Cam: Como eu disse antes, eu não vivo em uma bolha. Se você está em uma banda e não faz amigos em outras bandas, ou não vai vê-los tocar, ou não faz nada pra ajudar outras bandas, então você vai ter muitas dificuldades. Mas, se você está simplesmente falando de bandas que dizem “Nosso som é tipo Weezer” ou “Nosso som é tipo uma mistura de Pavement e Wilco”, tudo bem também. As pessoas precisam de uma ideia quadradinha de como seu som é. Só não suporto as bandas que escrevem merdas em sua página do Facebook sobre como sua música é. Como “parece chuva”, “parece todos os meus amigos morrendo”, “parece fotos em sépia”. Eu vou pessoalmente encontrar você e te socar no saco. A matéria não é criada ou destruída. Seu som parece com o de outra pessoa, então escreve essa porra direito.

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ARTISTA: Bear Ceuse
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.