Entrevista: Bibio

Produtor comenta suas composições e produções, como do recente “A Mineral Love”

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Se os seus sonhos têm trilha sonora, há chances de ser algo como o que o britânico Bibio faz. Seus sons trazem camadas de instrumentos e ambientações de primeira de maneira lúdica e livre, do tipo que embala perfeitamente sonos, reflexões ou qualquer momento que mereça uma adição de beleza.

Por email, ele conversou ao Monkeybuzz sobre suas composições e produções, como as que vimos recentemente no recente A Mineral Love.

Monkeybuzz: A Mineral Love parece fluir naturalmente entre faixas mais dançantes e outras que você deveria ouvir de olhos fechados, preferencialmente deitado. Como você entende qual vibe cada música terá?
Bibio: A vibe define a si própria com o tempo. Eu não costumo definir uma ideia muito específica para um álbum, é mais um caso de compor as faixas e fazer playlists para ver quais funcionam bem juntas. Uma parte muito importante do meu processo é ouvir as faixas em que estou trabalhando fora do estúdio, no meu telefone na minha sala ou na casa de amigos, que é quando eu testo quais delas tem maior longevidade – em outras palavras, quais músicas eu posso ouvir centenas de vezes e ainda gostar.

Mb: Como é esse seu processo de composição?
Bibio: 99% das vezes, componho o instrumental e as palavras vem depois. Costumo gravar o instrumental no meu estúdio, ou às vezes só uma sequência de guitarra ou riff no meu telefone e cantar qualquer coisa por cima. Em algum momento, uma frase pode sair, algo que se encaixa na música e pareça lírico. Então, escrevo essa frase e começo a pensar em como ramificar a ideia.

Mb: E como você encontra o timbre certo para cada música?
Bibio: Tenho alguns métodos, mas tem a ver com instinto. Tenho um certo conhecimento de engenharia de som que aprendi sozinho, mas, quando estou produzindo, penso apenas no som e na textura, eu meio que sei instintivamente que processo aplicar às coisas, mas estou também aberto a experimentações e a descobertas, o que é muito importante. Não estou fixado em ideias de como as coisas deveriam soar, eu tenho apenas alguns gostos e preferências, como quanta saturação, EQ ou reverb adicionar a um som, ou que tipo de guitarra, que tipo de som de guitarra etc. É como cozinhar, você experimenta o molho e, se tem experiência com ingredientes, sabe adicionar um pouco de sal, doce ou tempero. Quanto mais você conhece o ofício, mais você sabe improvisar no processo. Gosto de cozinhar e sinto que tenho uma boa intuição para paladares e aromas, mas, quando estou na companhia de uma amiga que é chef, percebo o quanto ela sabe mais e o quanto ela é mais detalhista que eu. É o meu caso com música e produção.

Mb: De onde você tira inspiração?
Bibio: Lembranças, discos, lembranças de discos, lembranças de programas de TV. Gosto de trabalhar a partir da memória ao invés de sentar e analisar algo, porque, se eu faço referência a algo do passado, quero que isso seja filtrado pela minha personalidade, pela minha percepção. Não estou interessado na pureza ou no mimetismo exato. Gosto de usar estilos familiares do passado, mas fazê-los soar como meus.

Mb: No seu ponto de vista, quanto de sua música é sintética e eletrônica e o quanto ela é orgânica?
Bibio: Em A Mineral Love, a maior parte dos sons é de instrumentos “reais”, como guitarras e violões, baixo elétrico, bateria, pianos elétricos e clavinete. Uso sintetizadores analógicos, drum machines, microfones, fitas e equipamento analógico. Então, acho que é mais uma questão de ser “hardware” do que de ser eletrônico ou orgânico, porque eu uso da eletricidade para fazer minha música como qualquer um, mas os sons quase nunca são gerados em computador. Ele é mais uma ferramenta de gravação e edição.

Mb: Como você se sente em relação aos rótulos que as pessoas colocam em sua música? Você acha relevante categorizar a música, no geral?
Bibio: Os rótulos que usam para descrever minha música são bem diversos a eu costumo discordar. Odeio usar sub-gêneros, prefiro termos mais abrangentes, como Funk, Rock, Soul, Pop, Jazz ou Hip Hop. Termos como Chill Wave e Folktronica podem ser meio burros.

Mb: Você sente que a música que você faz é parte de alguma cena ou movimento? Vê alguma similaridade entre seu trabalho e o que outros artistas fazem hoje?
Bibio: Não me sinto parte de uma cena, nunca fiz nada para isso e tenho pouco interesse em ser parte de uma. É claro que me inspiro em outras pessoas, mas não me sinto conectado a outros artistas que são supostamente parecidos comigo. Acho que é porque eu me inspiro em vários artistas de diversas décadas, então minha música é sempre uma grande mistura.

Mb: O que você tem ouvido ultimamente?
Bibio: Muito Jazz do fim dos anos 1950 e começo dos 60. Bill Evans, Cannonball Adderley, John Coltrane, Art Pepper, Sonny Rollins, Stan Getz, Miles Davis. Também Prince, Don Blackman, Sly & The Family Stone. Descobri Shuggie Otis depois de duas pessoas dizerem que meu álbum parccia com Shuggie em algumas partes.

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ARTISTA: Bibio
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.