Entrevista: Bob Moses

Dupla canadense, que acaba de tocar no Brasil pela segunda vez, comenta seu som

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Bob Moses apareceu pela primeira vez no Monkeybuzz em uma situação interessante, como uma das surpresas do festival SXSW em 2015. Logo depois, a dupla canadense veio ao Brasil pela primeira vez como atração do nosso primeiro Tomorrowland e, pelo tanto sucesso que fez por aqui, acaba de retornar para uma pequena turnê no Sul e Sudeste do país.

Foi nesse contexto que trocamos emails com a dupla, que lançou o ótimo Days Gone By no ano passado. Se você ainda não ouviu, eis a oportunidade.

Monkeybuzz: Vocês possuem uma aproximação muito distinta com a música. Há uma pelo pop, mas também é original. É Eletrônica, mas o vocal é protagonista. De onde surgiu seu estilo?
Bob Moses: Basicamente por tentativa e erro. Nós passamos o primeiro ano trabalhando juntos, produzindo e compondo todo o tipo de som em todos os estilos. Nosso objetivo sempre foi o mesmo: Escrever as melhores músicas que poderíamos e produzir com os sons que amamos dentro de vários gêneros. Mas foi preciso experimentar muito para encontrar o som que mais gostamos e o que nos inspira a compor nele, e isso combinado ao que naturalmente queríamos fazer. É como entar encontrar sua própria voz no canto. Você começa a imitar as pessoas, a cantar desse ou daquele jeito e então, eventualmente, você percebe que “deixar sair” o mais naturalmente possível é o melhor jeito. Mas encontramos os ritmos que mais combinavam conosco, a vibe que mais curtíamos e escrevemos o que sentimos e o que estávamos inspirados a dizer dentro daquela estrutura sônica, por assim dizer. Agora, é tão natural quanto usar a voz com que falamos, e é assim que deve ser. Fazemos o que nos parece melhor e estamos aprendendo mais e mais sobre o que gostamos, o que também tem chance de fazer outras pessoas curtirem também.

Mb: Como vocês equilibram aquilo que é mais sintético (Eletrônico) com o que é mais orgânico (o vocal)? Bob Moses: Temos uma intuição pra isso. É como se você fosse um chef de cozinha e soubesse se tem tempero ou sal demais em um prato. Vamos no instinto, é uma questão de feeling.

Mb: Vocês poderiam nos contar um pouco sobre o processo criativo por trás do álbum Days Gone By? Bob Moses: Bem, nós estávamos em turnê enquanto fazíamos o disco. Tínhamos nosso próprio estúdio em Nova York, separado de nosso apartamento, e íamos até ele sempre que estávamos na cidade e passávamos o dia todo trancados compondo. Algumas das ideias apareceram pela turnê, durante o banho, logo antes de dormir ou no avião. Daí, levamos tudo isso para o estúdio, às veze separados e às vezes juntos, e fazíamos pequenas demos. Assim que fazíamos algo que nos impressionava, mostrávamos para o outro, ou mesmo cantaralorar a melodia. E se era algo que animava os dois, as comportas se abriam e nós íamos nela até algo ficar pronto. Às vezes, ficávamos empacados em umas letras, às vezes sentávamos no estúdio o dia todo e só conversámos sobre a vida ouvindo música, tentando se inspirar. Foi um processo desafiador, mas tudo muito agradável e recompensador, algo que não vemos a hora de fazer de novo.

Mb: A forma com que vocês observam a plateia durante os shows influencia a maneira de fazer música?
Bob Moses: Muito. Fazer a turnê durante o processo de produzir o disco ajudou muito, porque podíamos experimentar as coisas na estrada. Se estávamos trabalhando em uma ideia, poderíamos tocá-la ao vivo e ver como o público reagia, e ouvi-la em uma aparelhagem de som grande ajuda. Então, voltávamos para o estúdio e fazíamos os ajustes necessários.

Mb: E levar as músicas do álbum pronto para o palco, como foi? Bob Moses: Foi ótimo! A coisa mais interessante de ver é como as pessoas reagem diferente quando já ouviram alguma música antes. Quando você toca algo novo, e elas conhecem e amam as coisas velhas, mas não conhecem as novas (porque ainda não foram lançadas), elas ficam quietas e prestam mais atenção. Elas estão curtindo, dá para ver, e em momentos óbvios (como em grandes drops ou ganchos do refrão), elas ficam mais animadas e até gritam. Mas, às vezes, você toca uma música nova e não sabe se o pessoal gostou. Daí a música é lançada e você volta à mesma cidade, ou mesmo na mesma casa de shows, você reconhece as mesmas pessoas na multidão e, na primeira nota da música que agora todos já podem ouvir sozinhos, todo mundo enlouquece. É engraçado, mas é claro que entendemos, porque acontece com a gente também.

Mb: Qual é a diferença de tocar em um local pequeno e em um grande festival? Vocês acham que existe uma condição ideal para ouvir seu som? Bob Moses: Amamos tocar todos os tipos de show, seja em grandes festivais ou em pequenos lugares. A questão vai muito além do espaço. Tem a ver com a vibe no local, quem está lá, quem tocou antes, quem vai tocar depois, o horário da apresentação, o dia da semana etc. Muitas coisas afetam a vibe tanto quanto, se não mais, do que o local. Não sabemos se existe uma condição ideal para nossa música, ou talvez ainda não tenhamos tocado tanto para decidir. Já tocamos em salinhas minúsculas para fãs e foi incrível, mas já foi ótimo também tocar para milhares em um grande festival. O tamanho e o tipo do local não importa tanto quanto uma multidão composta de pessoas ótimas querendo se divertir. Nos alimentamos da energia da plateia mais do que qualquer outra coisa.

Mb: O que significa neste momento de sua carreira poder vir tocar no Brasil? Bob Moses: Nós amamos tocar no Brasil. Foi um dos primeiros países em que tocamos, e o primeiro na América do Sul, e sempre fomos muito bem recebidos aí. Temos ótimos amigos no Brasil, amamos a cultura e as pessoas, e sempre nos divertimos muito. O público é incrível e as pessoas tem muita paixão pela vida e pela música, e nos sentimos dessa mesma forma quando tocamos no país.

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ARTISTA: Bob Moses
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.