Entrevista: E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante

Banda conversa sobre sobre ótimo momento em sua carreira

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Prestes a fazer um dos maiores shows de sua carreira, como abertura para Deafheaven, o quarteto paulistano E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante está vivendo um turbilhão de acontecimentos em sua carreira, com apresentações em palcos cada vez maiores e cada vez mais longe de sua própria casa, lançamento de EPs e os preparativos para um novo álbum, que deve ser lançado somente em 2017.

Durante uma chuvosa tarde em São Paulo, conversei com os dois guitarristas da banda, Luden Viana e Lucas Theodoro, que me falaram bastante sobre o momento que estão vivendo com o grupo e as perspectivas pro futuro.

Monkeybuzz: no começo do ano, vocês lançaram o EP Medo de Morrer/Medo de Tentar. Como vocês têm percebido a recepção dos fãs em relação aos anteriores?

Luden: Em relação ao Vazio foi melhor, já em relação ao primeiro acho que nem tanto. Mas a recepção dos fãs é sempre boa.

Lucas: Acho que a grande diferença é que no primeiro a gente não era ninguém. Mas, no geral, foi melhor, tem mais pessoas ouvindo a gente agora. E sei lá, recepção é sempre um negócio meio subjetivo. Ainda mais pelo fato de não termos letra, não existe aquela coisa de medir no show se tem gente cantando.

Mb: Em relação as experimentações eletrônicas que vocês fizeram no novo EP, qual foi a reação das pessoas?

Lucas: Foi só um triscado no negócio novo, só uma música tem isso. Mas o que eu li de críticas, foram bem positivas.

Mb: Vocês pretendem continuar com essas experimentações?

Luden: Eu diria que sim, mas depende. Depende muito do que as músicas pedirem agora, porque não queremos nos repetir e fazer o mesmo disco. Tudo que fizemos sempre foi estruturado em cima das guitarras e isso deixa as músicas relativamente previsíveis pra quem já conhece o som. Talvez, mudar isso ajude.

Lucas: Medo de Morrer foi um negócio que aconteceu meio sem querer. O Luden tinha trazido esse riff e eu falei que não queria tocar guitarra, não caberia outra ali, então começamos a pensar no que fazer. Todo mundo na banda toca várias coisas, então quisemos aproveitar isso, só estamos esperando o tempo certo de fazer. E sempre compusemos do mesmo jeito e sempre pra um mesmo formato curto, um EP ou single. Acho que pra ir para algo mais coerente e cheio, temos que nos propor a compor de outro jeito.

Mb: O que é melhor: produzir ou disco ou tocar ao vivo?

Luden: Eu prefiro o estúdio, já o Lucas prefere o show. O estúdio é tudo uma reação controlada. É você ali com suas ideias e suas limitações. E eu me dou bem com as minhas limitações, eu não lido bem com as limitações que me são impostas.

Lucas: Eu vi uma entrevista do Taylor Hawkins no YouTube esses dias e ele fala nesse vídeo que tende a achar que é o pior baterista do mundo toda vez que ele começa a gravar e depois vai se desenvolvendo. Eu sou o cara que geralmente fica batendo a cabeça na parede do estúdio. É um processo de eu achar que estou tocando muito mal quando começamos a gravar.

Mb: Mas é inegável que o show tem uma vibe diferente. Ouvir as músicas ao vivo gera nelas um poder bem diferente.

Lucas: Acho que é algo do grave, um som que bate peito. É uma parada que você tem que estar ouvindo num PA grande ou num sub gigante pra mexer como você do jeito que ela foi feita pra mexer. Isso é uma coisa que a gente já percebeu. As músicas ao vivo vão soar de um jeito que é difícil chegar no disco. E essa é a intenção. O disco é pra soar de um jeito e o show é pra ser outra coisa.

Mb: Continuando no assunto shows, vocês se imaginavam três anos atrás tocando em tantos lugares diferentes e levando sua música cada vez mais longe?

Lucas: Essa é uma parada que já falei em monte de shows e sempre bate isso. É muito louco como isso está nos levando pra um monte de lugares novos e nos fazendo encontrar um monte de gente que jamais conheceríamos se não fosse a música que a gente compôs em casa, gravou e botou no mundo. E é um pessoal muito próximo mesmo. Já levou a gente pra dormir no chão de casa e quando a galera vem pra cá fazemos a mesma coisa.

Luden: Esse é o tipo de coisa que te comprova de alguma forma que existe uma “cena”. É meio complicado falar em cena no Brasil, mas existe sim um grupo de pessoas se ajudando. Não necessariamente nosso som é o mesmo, mas tá todo mundo se ajudando, sabe? Acho que é isso que faz tudo ter sentido. É uma coisa de empatia mesmo. E a gente parte do pressuposto que quase ninguém vive disso, então todo mundo sabe dos perrengues do outro (risos).

Mb: Como foi chegar a tocar num palco como a Virada Cultural?

Luden: Foi um dos shows mais de boa que a gente já fez. Quando eu ainda era pivete e comecei a tocar com o Rafa, eu ficava muito ansioso antes do show, sempre achando que ia ser uma bosta e quase sempre era. Já com E A Terra, pela primeira vez, eu fiquei muito seguro com os shows.

Lucas: Isso é um reflexo das coisas terem subido de forma muito natural. Foi rápido, mas foi muito natural. Tivemos bons saltos de palco no último ano e o Circuito de Cultura de São Paulo nos colocou pra tocar em teatros, onde ficamos mais confortáveis com esse tipo de show. É óbvio que foi foda tocar na Virada. É um negócio meio besta, você pegar a programação do evento e estar lá o nome da sua banda ou, sei lá, pegar o crachá. Mas são coisas bestas assim que são legais.

Mb: E por falar em ansiedade, qual a expectativa pro show com Deafheaven?

Luden: Acho que vai ser um dos palcos mais loucos e pro maior público que a gente já tocou. Tem tudo pra ser uma noite muito massa. O negócio da Nvblado tocar junto vai ser foda também.

Lucas: Esse é um show que a gente iria de qualquer jeito, é um som que a gente gosta muito. E tem também esse cuidado deles com as bandas de abertura e que que rolou esse aval com a gente, de vocês terem mostrado nosso som e eles terem aprovado. Ficamos sabendo de bandas nos outros países que não foram aprovadas.

Luden: Eu fico mais feliz dos caras terem chapado na Nvblado, por quê é muito visível a influência. Uma banda que é uma influência direta no som dos moleques deu um aval de “bora tocar junto”. É como, sei lá, se a gente fosse chamado para abrir um show pro Tortoise.

Mb: Vocês já ajudaram na promoção de um show da Nvblado em São Paulo, não?

Lucas: Produzimos os shows deles tudo na unha, desde alugar o espaço, pagar a locação, produzir pré-venda e ficar maluco o mês todo antes do show. Eles já viriam pra SP na sexta, para ver alguma banda gringa que eu não me lembro qual foi, e depois já iam tocar no Rio. Então chegaram e falaram com a gente de tentar produzir algo em São Paulo. As duas noites esgotaram e já na pré-venda, conseguimos bancar a estrutura. Conseguimos fazer um show pro público se sentir confortável, num preço e num horário bom.

Mb: Já estão pensando no disco novo?

Luden: Queremos fazer diferente do que fizemos das outras vezes. Nos outros, gravamos tudo ao vivo, então é uma dinâmica de estúdio muito específica. Queremos dessa vez ter a paciência de ouvir tudo e falar que está uma merda. Acho que a gente chegou num certo estágio de banda que a temos uma base de fãs relativamente consolidada, as pessoas que gostam desses três primeiros trabalhos provavelmente vão gostar do quarto, então isso nos bota numa posição relativamente confortável, na qual podemos demorar um pouquinho mais para lançar uma coisa que melhor represente o que queremos. Até então, a gente tinha o trabalho de chegar no estúdio, mostrar as músicas pra todo mundo e só quando cada um tivesse redondo na sua parte a gente gravava. Agora, queremos ter o trampo de se ouvir e poder falar: “dá pra fazer isso de um jeito diferente” ou “dá pra fazer isso melhor”.

Lucas: Essa é ainda uma questão que temos com o Vazio. Toda vez que escutamos o EP, pensamos que poderíamos ter feito melhor. Pra mim, tem muito do disco soar ainda em processo de construção. Nem sempre você quer lançar um disco que você acha que ainda não está pronto.

Mb: Mas vocês não gostaram do resultado? O que levou vocês a “apressarem” o lançamento?

Luden: Todas as faixas poderiam ser melhores do que elas são. Eu sou o cara chato da banda com isso e o Vazio é muito previsível. Sabe quando sua mãe está fazendo comida na cozinha e só pelo cheiro você já sabe o que ela que está fazendo? É bem isso. Esse EP tem muito da questão da viagem do Mama (ex-baixista do grupo), que iria ficar fora por um tempo e estaríamos sem baixista, então precisávamos gravar antes dele ir embora. Se não gravássemos naquela hora, íamos atrasar o EP em mais seis meses pelo menos. E ficar um ano e meio sem lançar nada depois de só ter feito um EP não dava. Então ele é meio precoce.

Lucas: Não sei se soa assim para as pessoas, mas a gente sabe o que ele poderia ter sido. Ao mesmo tempo, foi o disco que nos levou pra tocar em monte de lugares, então acho que não fizemos errado. Talvez, se a gente tivesse demorado mais e feito um disco melhor, não tocaríamos tanto.

Mb: Vocês veem rótulos de Post-Rock que as pessoas colocam em vocês influenciando de alguma forma os próximos passos da banda?

Lucas: De jeito nenhum. Acho que rotular é o jeito mais fácil das pessoas acharem o que querem ouvir. Mas, para a gente, não faz tanta diferença. E já nos propusemos a experimentar com beats eletrônicos, colocar violino e trompete pra fazer algo que a gente goste. Claro que tem um peso, musicalmente e intelectualmente, dessa leva de bandas de Post-Rock como nossas influências, mas a nunca vamos deixar de tocar uma música porquê ela não está Post-Rock suficiente.

Mb: Voltando ao Vazio, como foi ter um financiamento coletivo para fazê-lo?

Lucas: Essa foi a parada mais legal do Vazio. Tudo que não envolve exatamente nossa angústia com a gravação e mixagem do disco, foi uma parada muito foda. Naquele momento, a gente percebeu que que tinha um pessoal olhando pra gente, gente querendo ouvir nossa música e que daria dinheiro pra fazermos um disco que eles não tinham ideia do que iria sair.

Luden: O financiamento ajudou muito. Foi uma grana que veio na hora que estávamos precisando. Mas a gente se fodeu muito com os brindes (risos), sem ter noção das taxas de entrega e em como conseguir as paradas no meio do ano. Mas foi muito bom, porque, caso façamos outro, já sabemos como fazer.

Mb: Vocês pensam em fazer de novo?

Lucas: A gente já pensou em fazer um financiamento de novo, mas teria que ser algo muito específico. Talvez algo muito maior.

Luden: É muito possível que a gente precise pro disco (risos), mas, até lá, temos que ver como vamos estruturar isso.

Mb: Como vocês analisam o momento que o E A Terra neste está vivendo?

Luden: Acho que a gente já chegou naquele momento de “beleza, temos três EPs e as pessoas conhecem a gente”, então chegou a hora de fazer disco cheio e mostrar a que viemos. Agora é o momento de ser pretensioso. não o de se apequenar.

Lucas: Nós sempre falamos de como queremos daqui a dez anos estar tocando juntos, então acho que muito vem desse pensamento. Vivemos muita coisa em pouco tempo, então acho que continuar se esforçando pra fazer o melhor disco que a gente pode fazer e entregar o melhor show que a gente pode entregar continua sendo a grande parada. E isso vem muito da autenticidade que a gente vai botar nisso.

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Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts