Getting High: FJAAK

Aproveitamos a passagem da dupla pelo Brasil para falar sobre música, maconha, festas e outras brisas

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Fotos: Ali Kanaan

Se o papo é sobre ser “maconheiro de carteirinha”, é preciso falar do produtor alemão Felix Wagner. Desde o final do ano passado, ele pode circular suave por todo território europeu sem muquiar seus baseados antes de entrar no avião. A autorização libera até 15 gramas de erva transportada, além de obrigar a todas farmácias da Alemanha a disponibilizarem cannabis, ao ponto dos estabelecimentos serem obrigados a fazer entrega delivery, caso falte no estoque. Ostentando um provável título de “primeiro DJ alemão com licença médica canábica”, ao lado do amigo Aaron Röbig, eles formam uma versão “Cheech and Chong” do Techno, o FJAAK.

Quem pensou que a sigla poderia ser o nome de uma variação gringa da erva, errou. Como bons maconheiros que se prezem, a complicação é zero na hora de escolher o nome do projeto musical. FJAAK é formado pelas iniciais dos integrantes originais: Felix Wagner, Johannes, Aaron Röbig e Kevin Kozicki. Johannes ficou pouco tempo no grupo e Kevin desligou-se do projeto em janeiro para se dedicar a outras empreitadas musicais. O rompimento é compreensível. Afinal, são anos de convivência intensa: eles são amigos de infância e tocam juntos desde os 15, o que lhes rendeu outra alcunha no Techno, a de “boy band”. Os rapazes já dividiram o mesmo apartamento em Berlim por um bom tempo. Juntos, eles moraram até provisoriamente no estúdio do Moderat, repleto de sintetizadores e máquinas espalhadas nos cômodos.

Todos se conheceram em Spandau, bairro afastado das regiões cool de Berlim, cujo número antigo de código postal era 20 antes da reunificação. Por isso, eles escolheram o nome de Spandau 20 para o selo e plataforma audiovisual que formaram com os amigos da antiga vizinhança, que promete causar em 2020, o ano deles. Foi nessa região que Felix, então adolescente, comprou o primeiro vinil, chamado In The Streets, na loja Musicland, na ativa até hoje. Spandau foi cenário de festas ilegais que os garotos armavam no meio da floresta porque ainda não tinham espaço em clubes para tocar. Mas, depois de um flagrante da polícia, o próprio Felix rodou e ainda teve que comparecer a um tribunal por conta das raves improvisadas. Às vezes, eles promovem a festa “Machine Vibes”, dedicada a long sets de vinil em esquema bastante informal longe da pressão das gigs internacionais. 

Aliás, as brisas com os camaradas do bairro estão expostas em faixas enérgicas. “Netto” é uma referência a um supermercado local de preços baixos, local preferido deles para comprar suco de manga, que são cheios de terpenos e por isso dão um grau a mais quando ingeridos junto com o baseado. Já “All My Friends Are In The Bathroom” (Todos Meus Amigos Estão no Banheiro) dispensa comentários. Na noite berlinense, é comum que várias pessoas dividam a mesma cabine do banheiro para usar drogas. No manual de regras clubber local, é muito malvisto quem fica na fila batendo na porta para apressar a turma.

Alheio a rótulos, no começo, o FJAAK tocava e produzia com desconhecimento sobre selos ou gêneros. Aos poucos, foram visitando clubes em Berlim onde tocavam os sons que eles curtiam. Vale destacar que a primeira gig só rolou porque eles mentiram ao produtor do  Rekorder dizendo que já tinham tocado no clubes antes. Mas, eles mandaram tão bem no som que se tornaram residentes.

A combinação altamente dançante de Techno com Breakbeats característica do FJAAK se deve às fortes influências de Hip Hop do duo, que já disse em entrevistas preferir ouvir sonoridades old school de Hip Hop durante o tempo livre, como Thugs-n-Harmony ou o rapper alemão SSIO. Aficionados por hardwares e synths, os caras do FJAAK são sinônimo de máquinas para produzir música. Na lista deles está uma interminável seleta de equipamentos: AKAI MPC60 RYTM, OCTATRACK, 303, Nordlead 2x, Roland SH-101, Sub 37,TC 2290, ,Moog Voyager XL, Lexicon 300, Urei 1176LN REV F, Edentide H3000 SE e muitos outros, pois eles adoram se desfazer e caçar outros aparelhos. Curiosamente, eles já fizeram rolo de equipamento até com os produtores do DJ David Guetta.

Recentemente, eles soltaram três faixas batizadas de “Fjaak 005” na própria label deles. Donos de lançamentos em selos como o  Baalsaal Records, pertencente ao clube alemão de mesmo nome, Klasse Wrecks, capitaneado por Luca Lozano and Mr. Ho, a fama mundial se alastrou após caírem nas graças do 50Weapons de forma inusitada, em 2014. Depois de terem mandado um e-mail com as demos, receberam uma proposta do Gernot, um dos caras do Modeselektor, responsável pelo 50Weapons e Monkeytown Records. Ele apareceu pessoalmente na casa deles 10 minutos depois de perguntar se poderiam marcar uma reunião e também depois de uma intensa sessão de baseados do trio, que o recebeu desacreditado no sofá da sala. O encontro com Rodhad também foi memorável. Eles ficaram amigos após se encontrarem em uma gig, em Londres, e depois, durante o mesmo voo, uma corrente do ar desestabilizou a aeronave e máscaras caíram. Assim começou a amizade que rendeu uma faixa no 50Weapons.

Com mais de 100 gigs por ano, a dupla FJAAK já tocou em 40 países só em 2018 e sempre está ligada no rolê canábico local. Confira a entrevista do Monkeybuzz com o duo mais brisado do Techno, que veio ao Brasil para se apresentar no Photon, projeto audiovisual do Ben Klock (Klockworks), e na versão carioca da festa ODD.

Esta é a terceira vez que vocês vem ao Brasil. Já fumaram prensado?

Sim, nós tentamos. Ficamos chocados (risos). Pessoas disseram que misturam mijo durante o processo de secagem [do prensado] para evitar mofo. Para ser honesto, não tenho certeza do que menos queremos em nossa maconha: mofo ou mijo (risos)! Mas também fumamos um pouco de crema no Brasil. Existe crema em todos os lugares se você conhece as pessoas certas.

Vocês já visitaram feiras de maconha? Quais? O que encontraram de mais legal?

[Sim] Existe uma feira famosa em Barcelona chamada “Spannabis”, e outra em Berlim, a “Marry Jane”. A diferença entre as duas são as leis [que regulam o uso de Cannabis em cada país]. Vimos uma espécie de “camisinha de bong” que as pessoas prendiam na ponta para fumar os bongs de desconhecidos sem precisar tocar no bocal. E vimos também um cristal de THC quase transparente, que era tão grande quanto nossos dedos polegares!

A música é o nosso lugar, com nossas regras, é nosso esconderijo. A música liberta sua cabeça, seu corpo e sua alma. Desintoxicação mental é o que estamos falando aqui. A música nos fez esquecer e curar muitas coisas em nossa vida. – FJAAK

Quando foi a última vez que fumaram “cemitério” (restos de pontas)?

Deve ter sido há uns 10 anos. Naquela época, ainda fumava com tabaco, porque não tinha grana nenhuma. Nós teríamos feito o que quer que fosse por alguns gramas. Apenas as pontas das blunt (blunt – aquele beck feito tipo charuto com um papel diferente do que a seda tradicional) que fumávamos naquela época. E guardávamos para uma ocasião especial.

Dry Ice Hash ou Bubble Hash [extrações de haxixe]?

Mesmo gostando do Bubble, preferimos Dry Ice e Rosin. Alguns tipos de Dry Ice você pode usar no dab imediatamente, sem precisar de filtro!

Bong ou baseado?

EXTRAÇÕES são o futuro! Mas, entre esses dois, [preferimos] baseado.

O que é pior: um amigo que baba no baseado ou o que fica falando e deixa o beque na mão queimando sem fumar?

O segundo amigo é pior, porque ele deixa queimar tudo. O cara que está babando apenas corta um pouco a brisa do beque (risos)!

Sabemos que vocês cresceram em Berlim. Quais clubes e festas frequentaram mais quando eram adolescentes? Qual era mais especial?

Existem muitos especiais, a maioria deles estão fechados ou os coletivos [das festas] não existem mais. Fizemos uma série ilegal de festas rave que levou Felix ao tribunal e tivemos que parar. Como éramos jovens demais para entrar na maioria das raves, sempre tínhamos que procurar “backdoors” ou cercas escaláveis ​​que não fossem muito altas

Vocês têm uma rotina para fazer música? Ritual ou hábito?

Além de fumaça de maconha e fjaaking loud bass? Não!

Existe algum artista brasileiro que vocês ouvem? Qual é o favorito de vocês?

Ravis Davis é um irmão de verdade para nós. Um cara legal, com paixão e muito amor pelo que está fazendo. Estamos compartilhando palcos ao redor do mundo. É sempre um prazer encontrar esse cavalheiro. Existem muitos artistas brasileiros, mas de quem lembramos agora? Mesmo os ouvindo poucas vezes, curtimos o grupo Teto Preto, por exemplo. Confira a música “Pedra Petra” – sua nova abordagem à música e também aos videoclipes dizem tudo.

Estamos vivendo um momento político muito difícil no Brasil com um governo ultra-conservador. De que forma o techno ou a música em geral podem ajudar nesses tempos difíceis?

Por um certo tempo, [música] é o seu próprio espaço. É o nosso lugar, nossas regras, nosso esconderijo. A música liberta sua cabeça, seu corpo e sua alma. Desintoxicação mental é o que estamos falando aqui. A música nos fez esquecer e curar muitas coisas em nossa vida. A cena de Berlim é cultivada a partir de ruínas dentro de casas abandonadas. Em todo lugar há problemas, além de que todos possuem diferentes problemas pessoais que nos cercam toda hora… Vamos esquecer isso por um momento. Respire fundo e liberte seu corpo e sua alma!

Que tipo de cannabis vocês mais gostam de usar para produzir música?

Em geral, é mais sobre a maneira como [a erva] é cultivada. Deve ser feito corretamente, da forma mais limpa possível. Geralmente, nós preferimos híbridos/indicas. Basicamente, adoramos todos os tipos de cruzamentos Kushes, Chems, Cookie, Dawg e assim por diante. Alguns tipos que realmente gostamos no momento:

Kosher Kush/ Purple Kosher (DNA Genetics)

Gelato 33 (Larry Bird Cut by Elev8 Genetics)

Headstash  (Karma Genetics)

Scotts OG (Rare Dankness)

SFV OG

Triangle Kush

Biker Kush 2.0 (Karma Genetics)

Headbanger  (Karma Genetics)

Starkiller OG (Rare Dankness)

Di Frutti (Karma)

Blue Lime OG

Sugar Mill

Sour Diesel BX2 ( Karma)

e quase tudo de misturas genéticas!

Também tem bastante coisa frutada aparecendo recentemente:

Tropicana Cookies

Purple Punch

Fruit Cake

Rare Dankness #1

Qual é o artista com quem você gostaria de colaborar?

Todo mundo do Spandau20! Tem alguns talentos incríveis chegando por aí!

Por favor, diga-nos três músicas que devemos ouvir e três tipos de maconha que deveríamos fumar

Três músicas:

Drexciya – “Black Sea / Wavejumper (Aqualung Versions)”

The Martian – “Stardancer”

FJAAK – “Snow”

Três tipos de maconha:

Kosher Kush 

Gelato 33

Sour Diesel BX2

Maconha ou hash? Roland 808 or 909? 

Maconha mais Hash misturado, 808 e 909 juntos.

Live ou DJ set?

Ambos! Nós também nos apresentamos de forma híbrida, live com DJ set.

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ARTISTA: FJAAK
MARCADORES: Entrevista