Entrevista: Holger

Em nova formação, banda comenta sobre a recente coletânea, próximo álbum e a cena alternativa

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Fotos: Samuel Esteves

Para uns, Holger é sinônimo de diversão em músicas animadas, com letras sacanas e percussão marcante. Para outros, além disso, é uma banda que virou ícone do cenário independente paulistano nos últimos anos.

Recentemente, o baterista Arthur Britto precisou deixar a banda para estudar fora do país. Para celebrar o fim de uma era do grupo, foi lançada a coletânea Lados-B 2006-2013, com raridades, covers e parcerias nunca antes mostradas.

Com uma nova formação (o batera Charles Tixier (Charlie e os Marretas) assume as baquetas do quinteto), convidamos a banda para uma entrevista sobre seu histórico, o lançamento da coletânea e o próximo álbum (em outras palavras, Holger em passado, presente e futuro). Marcelo Altenfelder, mais conhecido como Pata, nos contou tudo.

Monkeybuzz: Com tanto tempo de banda, dava pra imaginar que vocês teriam bastante material guardado. Quando vocês decidiram organizar tudo em forma de Coletânea?
Pata: Fomos guardando materiais e, de tempos e tempos, lembrávamos do que tínhamos guardado. Sempre tivemos vontade de lançar todas essas coisas, nunca juntas, mas parecia que ainda não era o momento certo. A saída do Arthur e o início dessa nova fase do Holger, foram a oportunidade ideal de mostrarmos tudo isso até para lembrar tudo que o Holger foi e poderia ter sido. Esta coletânea carrega um pouco de homenagem ao Arthur, mas principalmente uma celebração de todos esses anos juntos e, de certa maneira, marca o fim de um primeiro ciclo da banda.

Mb: Vocês comentaram que tinham a ideia de um lançar um EP Eletrônico, mas isso acabou ressaltando seu lado mais orgânico. Como foi esse processo de reencontrar essa característica? Pata: Sempre fizemos música de acordo com o que estamos vivendo. Teve uma época, depois do Ilhabela, que estávamos imersos em musica Eletrônica; nessa mesma época, passamos a fazer musica em programas de computador, entrando em um novo processo criativo. Não precisávamos mais da presença física de todos para executar e criar as musicas. O que era para ser Eletrônico, acabou virando um novo processo de composição em que conseguimos incluir influências diferentes ao nosso som. O disco foi montado de forma Eletrônica, mas, quando fomos para o estúdio em janeiro, quisemos transformar tudo que era sample ou batida em algo realmente “tocado”, incorporando ainda mais o nosso jeito Holger às composições que tínhamos criado.

Mb: Holger é uma banda que viu o cenário independente ser transformado nos últimos anos. Na perspectiva de vocês, quais foram as maiores mudanças da época em que o grupo começou para agora?
Pata: Na época que começamos, era tudo bem diferente, a começar pela presença da Abrafin e da rede de festivais que acontecia pelo país todo. Não que os festivais tenham deixado de existir, mas, sem dúvidas, perderam força. Existia uma união entre bandas, coletivos, festivais, blogs em um crescimento muito significativo. Todo esse sistema que estava em ascensão não teve a continuidade merecida e, assim como nessa rede um puxava outro, com a queda dela um puxou o outro para baixo. Acho que o Facebook também tem uma parcela de culpa significante na história. O Twitter entrou em queda, MySpace acabou, Trama Virtual também. Ficava mais fácil ver em um post de um amigo ou direto da página do artista as novidades de bandas ao invés de buscar sites de referencia. O filtro de busca passou a ser dependente do Facebook, que nunca exerceu bem essa função. A MTV em 2009 também tinha um programa diário de bandas ao vivo…e tinha o VMB. Fora tudo isso, shows em baladas passearam a ser inconvenientes de certa forma, uma vez que a musica eletrônica parece ter invadido todas as casas. O espaço para shows em casas de shows diminuiu, a figura do DJ ganhou mais força.

Mb: Ainda no assunto de “cena”, como vocês veem a oportunidade de trabalhar a gente como Karol Conká, Selton e Bonde do Rolê? Qual a importância de “unir forças” com outras bandas?
Pata: Não existe cena de uma banda só. Isso me soa bem óbvio, mas sei que para muita gente as coisas não funcionam bem assim. Na verdade, não existe cena só de bandas; uma cena envolve, festivais, casas de shows, produtores, bookers, designers, selos, bandas e, principalmente, público. Assim como um ecossistema, sem qualquer um desses acima a cena fica instável, perde força e, muitas vezes, deixa de existir. Uma vez que as forças se unam a cena passa a ser mais forte, se comunica mais, se retroalimenta. Fora tudo isso, é muito muito legal trabalhar com gente que se admira. Sempre um aprendizado, sempre se evolui nessas parcerias.

Holger

Mb: Sobre o financiamento coletivo para o clipe, como foi o processo de escolher o crowdfunding como a maneira de viabilizar a produção?
Pata: Investimos todas nossas economias para gravar o disco novo. Quando veio a Fabi com toda ideia do clipe, sabíamos que tínhamos que fazer. Mas não havia dinheiro. O Catarse surgiu como alternativa ideal. No começo, foi um pouco estranha a ideia de pedir dinheiro, mas, no final das contas, ficou claro que na verdade estamos oferecendo algo em troca e, além disso, o crowdfunding foi uma maneira de nos aproximarmos do nosso público e falar sobre o disco novo. Deu certo, atingimos a meta. Gravamos o clipe ontem…vai ficar muito muito foda.

Mb: Com a saída do Arthur, o que vocês acham que Charles acrescentará à banda?
Pata: O Charlie é um baterista extremamente técnico e sensível. Acho que a bateria é o fio condutor de uma banda, e com ele junto ganhamos mais segurança. A renovação sempre empolga muito. Fizemos esse final de semana nossos primeiros dois shows com ele e estamos muito felizes. Acho que ele também hehe

Mb: Holger já tocou desde palcos imensos como o do Lollapalooza como lugares bem mais discretos, como Casa do Mancha (e todos os intervalos entre as duas escalas). Qual é o tipo de show que vocês mais curtem fazer?
Pata: Ah, gostamos de qualquer tipo de show, a experiência de tocar é sempre muito foda. Mas, obviamente, é muito diferente tocar na Casa do Mancha e no Lollapalooza, cada um tem sua vantagem, seu prazer e seus defeitos. Mas nunca fomos de reclamar. Tendo show, estamos felizes.

Mb: Pra acabar, o que mais podemos esperar do próximo álbum, além do seu aspecto mais orgânico?
Pata: O álbum vai chamar Holger. Acho que achamos um caminho comum que podemos chamar de nosso no disco. É um álbum divertido, mais um retrato do que a gente é. Temos história, passamos por vários caminhos do que Holger é ou poderia ter sido e sentimos agora mais do que nunca que nos reconectamos com a nossa essência. É a nossa volta pra casa Assumir o que somos, e nos divertir com isso. Infelizmente, nunca seremos uma banda de Axé, apesar de grandes fãs, também nunca vamos ser uma banda de musica Eletrônica. Ficou muito claro depois desses discos e tempo de banda que somos ainda a mesma banda de Indie Rock do Green Valley.

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ARTISTA: Holger
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.