Entrevista: Lianne La Havas

Em passagem pelo Brasil, cantora inglesa fala ao site sobre a produção do álbum “Blood”

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Pela primeira vez no Brasil, Lianne La Havas apresentará o repertório do show de seu segundo disco, Blood, na abertura da turnê que Coldplay fará por aqui (hoje, 7, em São Paulo e no domingo, 10, no Rio de Janeiro).

Com muita simpatia e falando baixo para poupar sua voz para a performance, a inglesa – filha de mãe jamaicana e pai grego – conversou ao Monkeybuzz sobre a produção do novo álbum e suas inspirações.

Monkeybuzz: Tenho a impressão de que houve uma mudança muito significativa na sonoridade de Blood em relação ao seu primeiro álbum, Is Your Love Big Enough?. Como você enxerga isso?
Lianne La Havas: Bem, logo que finalizei o primeiro, decidi que o próximo se chamaria Blood (“sangue”, em inglês) por causa da natureza das músicas que tinha começado a escrever. Elas eram muito sobre minha família, comecei a querer falar mais sobre minha herança. Daí, fui à Jamaica e pude ver e estar onde meus avós moravam. Eu fui com minha mãe, e eu estava com a idade que ela tinha quando eu nasci, o que foi uma jornada mentalmente muito significativa para mim. Tive um senso de pertencimento, de certa forma. Sei que sou muito inglesa, uma típica londrina, mas foi ótimo perceber o quanto era familiar estar lá. Meus avós moraram em Londres e fui criada com eles por perto, pude ver a cultura, a comida, a música em Londres, então foi ótimo testemunhar isso na Jamaica. Enquanto estava lá, pude escrever algumas músicas. Foi muito inspirador andar por lá e ouvir música por todos os cantos. É o modo de vida deles, todos têm alguma forma de ouvir música no seu dia a dia, como carros com grandes alto-falantes pelas ruas. Ir para a balada na Jamaica foi incrível! E, é claro, conhecer Stephen McGregor, com quem trabalhei no disco e seu pai, o cantor Freddie McGregor, foi muito inspirador. Eu queria de alguma forma injetar aquele ritmo no meu álbum, foi aí que veio a tal mudança.

Mb: É interessante, porque, se você parar para pensar, a maior parte dos artistas quer mostrar sua natureza, suas raízes, no primeiro álbum. Com você, isso parece ter acontecido duas vezes, porque, como disse, você é muito londrina e isso está no primeiro disco…

Lianne: Sim, exatamente.

Mb: Daí, você vai e encontra um pouco mais de si mesma, talvez outra versão de si mesma que é tão verdadeira quanto a anterior.

Lianne: Exatamente. Acho que vou continuar fazendo isso no terceiro álbum, vou querer mostrar um outro lado meu – o que não quer dizer que o que eu disse no primeiro ou no segundo se tornará irrelevante. São desenvolvimentos de quem eu sou, nós crescemos o tempo todo e não devemos ser necessariamente as mesmas pessoas o tempo todo. Seria triste se fôssemos sempre os mesmos. Então, ficarei feliz por compartilhar minhas novas experiências em um terceiro disco. E é claro que estar no Brasil será, tenho certeza, muito inspirador, assim como tudo o que aprendi nos dois discos me ajudará no próximo. Estou sempre em meu momento mais feliz quando estou criando no estúdio, quando encontro uma ideia nova. É o que me mantém em atividade, essa felicidade.

Mb: Por falar em uma carreira que está sempre em mudança, você trabalhou com Prince. Como foi essa experiência?

Lianne: Foi incrível. Ele é… (pausa) muito, muito bom (risos). Ele é muito profissional, dedicado, disciplinado, inteligente, criativo… Tudo o que eu espero ser um dia.

Mb: Além dele, você trabalhou com Aqualung, que também produziu seu álbum. O quanto você aprende quando colabora com outros músicos?

Lianne: Como eu disse, sinto que você cresce sempre como artista, dependendo dos seus encontros e das suas experiências. Me sinto muito sortuda por ter tido a oportunidade de trabalhar com pessoas que respeito e acho que é aí que você aprende algo, quando você admira o trabalho da outra pessoa. Sempre fui muito fã de Aqualung e ele se tornou uma das únicas pessoas em quem eu confio completamente no estúdio, seja com letras ou melodias, sei que ele vai escolher o melhor para as músicas. Ele me inspira a pensar diferente e eu aprendo a manter a mente mais aberta.

Lianne La Havas

Mb: Como foi voltar ao estúdio não como uma iniciante, mas como uma artista com mais experiência, quanto é diferente o processo?

Lianne: É uma ótima pergunta. De certa forma, é muito melhor porque eu sei melhor o que quero. Quando comecei, não sabia tanto, não tinha experiência com a forma com quem as músicas são construídas no estúdio. Eu não conhecia tantos sons e texturas, não sabia descrever algumas coisas tão bem quanto agora, dar detalhes sobre o que preciso e o que quero ouvir. Falo muito mais no estúdio agora, o que é uma sensação ótima. Adoro saber o que eu quero. Por isso, o processo é também mais rápido (risos), as músicas ficam melhores com mais facilidade. Há aqueles dias em que você não sabe o que dizer ou como chegar lá, mas, quando é um bom dia, dá para fazer uma música em duas horas e ficar satisfeita com ela.

Mb: Por falar nisso, a impressão é que todos os seus clipes de Blood te trazem mais à frente da tela, te expõem de uma maneira mais direta que os anteriores.

Lianne: Hmm. Acho que sim.

Mb: Isso tem a ver com o que você disse, com você estando mais direta sobre o que quer com seu trabalho?

Lianne: Sim, estou percebendo como tudo está muito conectado, a apresentação e o som, tudo o que quero mostrar como minha imagem está conectado. Então, quero que isso expresse honestidade, não quero algo que se iniba, quero algo que se encaixe bem com a música. Para meus vídeos, quero entender o que a música pede e qual a aparência que ela tem. Acho que essa é a forma mais simples de se alcançar o objetivo. No fim das contas, quero fazer imagens bonitas, quero que seja bonito de se ver.

Mb: Como surgiu o convite para excursionar com Coldplay?

Lianne: A banda me contactou recentemente: “Vamos fazer alguns shows durante o ano e queremos você conosco”. Fiquei muito feliz, tão animada para dizer sim. Não sei o que eles viram na minha música (risos), poderiam ter chamado qualquer um e resolveram me chamar. Fico muito honrada.

Mb: O que você espera para os shows no Brasil?

Lianne: É minha primeira vez no Brasil, então não sei o que esperar. Mas os fãs tem sido incríveis, tão simpáticos e amigáveis. É muito bom ter uma recepção tão calorosa como essa em um lugar novo.

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MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.