Entrevista: Maglore

Banda comemora o primeiro aniversário do disco “Todas as Bandeiras” com sucesso nos palcos

Fotos: Azevedo Lobo

Qual outra banda como Maglore você conhece? Podemos aqui traçar alguns paralelos em popularidade e história com uma ou outra, citar um som que até se parece um pouco com isso ou aquilo outro, mas, no fim, a trajetória do grupo baiano mostra-se única no cenário independente brasileiro, ainda mais como um caso de banda que faz jus ao termo “Pop” que encontramos ali em “popularidade” tanto em um som acessível, ainda que muito caprichado, e em um público – não à toa – consideravelmente maior que quase todos os seus contemporâneos.

Comemorando o primeiro ano de lançamento do ótimo Todas as Bandeiras, o quarteto segue firme com sua agenda nos palcos, passeando por diversos terrenos do Brasil. Às vésperas de sua apresentação no Vento Festival (em São Sebastião, SP), onde Maglore toca no dia 08 de setembro, Teago Oliveira falou ao site por telefone sobre a jornada que o álbum percorreu nos últimos meses.

Monkeybuzz: Todas as Bandeiras comemora agora seu primeiro ano de lançamento. O que vocês aprenderam sobre essas músicas ao longo dos últimos doze meses no palco? Teago Oliveira, Maglore: A gente tem a sensação que esse disco é um pouco mais adulto – obviamente, porque a gente ficou mais velho – do que o III. A gente sente uma receptividade do público mais cativa com esse novo. O III espalhou mais, foi uma coisa mais difusa pra todo mundo, esse foi mais pra quem é mais fiel ao som da banda. E, graças a Deus, ele deu muito certo ao vivo. A gente foi tocar agora em Brasília, no festival CoMA, pensamos “estamos na turnê do disco novo, sem tocar na cidade há quatro anos, vamos ser trucidado pelo público, que vai querer as músicas antigas” (risos). A gente chegou lá, o público basicamente cantou todas as músicas novas. A gente ficou bem feliz, ele é um disco que pega muito ao vivo também. É bem homogêneo na resposta do público, mais que o anterior, que tem partes muito pontuais, como Mantra, Dança Diferente, Ai Ai e Café com Pão, que são as que o pessoal canta mais. Esse não, todo mundo curtiu todas as músicas, a galera ouviu mais como disco do que como mp3 solta, sabe? A gente ficou com essa sensação. É muito bacana, é o inverso do que a gente vê hoje em dia.

Mb: Logo que ele saiu, dava pra sacar que ele ficaria muito bem ao vivo. Como foram as escolhas que vocês fizeram desde o estúdio, ou até antes dele, pro álbum ter essa cara? Teago: O mais engraçado da Maglore é que eu sou quem impulsiona a parada, mas a coisa tem muito a cara dos outros da banda. Eles são muito expressivos. É o que acontece quando Giovani [Cidreira] faz show, a banda dele é Maglore sem eu, e fica muito clara a cara da Maglore ali no show dele. Quando a gente entra hoje em estúdio, a gente tem um pouco mais de maturidade pra desenvolver as ideias, a gente se conhece há muito tempo. Banda é isso, né, é uma parada que, por mais que eu componha a maioria das músicas, o negócio não fica só com a minha cara não, fica um Frankenstein. É interessante.

Mb: É interessante notar o tamanho que Maglore ganhou ao longo do tempo, um midstream muito distante dos gigantes, mas anos luz à frente da maioria das bandas com que convivemos, né? Teago: É, para o bem e para o mal (risos). Não somos Skank, não temos o público nem o dinheiro do Skank – que é maravilhoso, mas é uma outra realidade. Nosso lance é viver o cotidiano da nossa vida hoje enquanto músico no Brasil, é você saber que as coisas mudaram bastante. Viver esse midstream é gozar de algumas sensações de reconhecimento de público, e felizmente Maglore consegue ter um reconhecimento também de crítica – que não é unânime, é claro (se fosse, eu estaria fazendo algo errado). Ao mesmo tempo, a gente faz o corre de pagar conta, sabe estar na função de músico independente, essa coisa esquizofrênica entre você ser um artista que termina o show e carrega as suas coisas pra casa, conta o cachê e divide, faz projeção, e você tá no programa do Bial conversando com ele e o Erasmo Carlos ao seu lado (risos). Essas experiências são novas para os músicos de hoje em dia, dão uma nova dimensão. Eu acho gostoso, acho motivador. É bonito, apesar de ter tanta coisa desigual, errada, tem coisa que é muito legal de viver. A gente gosta muito de fazer música independente de qualquer coisa, curte criar, curte ver o público da gente envelhecendo com a gente – tem quem acompanha a banda há cinco, sete anos -, a gente vê a galera casando, com filhos, com cabelo branco aparecendo. Isso, pô, é impagável, coisas que a gente tem muita sorte de viver.

Mb: Pra você, o que que Maglore tem de melhor nos palcos? Teago: Cara, durante muito tempo, a gente buscou ter um nível de dinamismo dentro do nosso show. A gente tem muita letra reflexiva, você acaba não pulando tanto, diferente do mercado de hoje que pede sempre uma música muito pra cima e dançante. Então, a gente foi desenvolvendo com o tempo um show em que a gente se sentisse confortável pra gente curtir também. A gente experimenta, cola uma música na outra. É um show que consegue ser festivo. O Foca, do Festival Do Sol, falou isso e eu achei interessante, que Maglore hoje consegue fazer um show que as pessoas conseguem participar observando e, ao mesmo tempo, pulando. Pela quantidade de músicas, quando a gente quer fazer um show pra cima, de festival, a gente consegue fazer a galera dançar e, ao mesmo tempo, ficar ali na sofrência (risos), com muita letra que pega às vezes uma crise existencial – principalmente nesse disco novo. A gente vai fazer um show na Casa Natura Musical com metais, fica mais festivo ainda, um clima de celebração, sem que saia do que é nosso, sabe? E quando a gente faz em teatro, a gente muda a vibe, coloca umas músicas mais lentas. Afinal, são 45 músicas, né? (risos) Temos essa sorte de ter vários shows.

Mb: Com essa experiência na carreira, não é estranho a gente esbarrar em novas bandas que citam Maglore como referência. Como é para você lidar com esse tipo de informação? Teago: Que loucura. Acho que eu tô ficando velho (risos). É que a gente fica velho e não percebe, né? Mas é isso, eu tô ficando velho e, com toda a felicidade, tô servindo de referência para as pessoas fazerem música – para o bem e para o mal (risos). É muito legal ser inspiração para alguém, a minha música é inspirada em diversos outros artistas que são contemporâneos meus ou não, eu bebo de todas as fontes, desde os anos 1970 até Negro Léo. Não que eu vá fazer um som parecido, mas me abastece mesmo no sentido lírico da coisa, do fazer artístico que se move. Se minha banda consegue fazer isso para outras, pode ser Forró, Sertanejo, Funk, qualquer estilo que seja, eu me sinto um cara muito realizado.

ARTISTA: Maglore
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.