Uma verdadeira máquina de lançar discos, Phillip Long não viu motivos pelos quais não lançar mais um álbum neste ano. Seu recente Seven explora novas sonoridades, se configurando como o mais diverso da discografia do compositor. Phillip reservou uma tarde para nós do Monkeybuzz, para contar um pouco sobre o processo de composição e sua relação com o processo criativo.
Mb: Vemos em Seven, assim como por toda sua obra, uma mudança constante de sonoridades. Se em Gratitude tínhamos algo mais acústico, neste novo registro vemos algo mais dinãmico. Ao compôr o disco, você se preocupa que ele seja necessariamente diferente do anterior ou isso é algo mais natural?
Phillip: Isso não passa muito pela minha cabeça. Na verdade, minha onda é Folk e Acústica, sendo uma coisa que eu compreendo bem. Mas já tinha algum tempo que eu queria fazer alguma coisa que flertasse com algumas coisas que eu ando escutando , principalmente sons da década de 80. Eu queria dar uma nova cara à minha música, já que eu trabalhava com música acústica há muito tempo.
Mb: Já que você citou os anos 80 como referências, o que você tem ouvido?
Phillip: Cara, eu tenho ouviido The Smiths praticamente o dia inteiro, e aí vou até Morrissey. Também tenho escutado bastente Echo And The Bunnymen e isso tem refletido muito no meu trabalho. Acho que para frente muita coisa pode mudar ainda: estética, som e tal.
Mb: Parece que o campo é um lugar muito prolífico para se compor. Você acha que a diferença de lugares acaba influindo no processo de composição?
Phillip: Eu acho que sim, muito pela dinâmica de vida. Se bem que se eu tivesse vivendo em qualquer metrópole do mundo e continuaria sendo um cara intimista e interiorizado, afinal isso está em meu código genético. Mas, de qualquer forma, a cidade altera sim o processo de composição e seu campo de visão, em parte porque ela respira de uma forma diferente, seja isso para o bem ou para o mal. Por exemplo, se eu tivesse composto o Seven em São Paulo, ele provavelmente teria alguma nuance diferente, mas a mensagem continuaria sendo a mesma de relação, estar bem ou mal que está presente em quase toda a minha obra.
MB: Essa questão de “relações” e de “passionalidade”, que você diz estar presente em toda sua obra, acompanha mais outros elementos comuns a todos seus outros registros?
Phillip: Sim, claro. Em geral, são sempre questionamentos sobre a minha conduta perante as coisas, como por exemplo sobre relacionamentos e como eu enxergo a vida. É que eu sou uma pessoa muito fechada, então a música acaba funcionando como um “diário de bordo”.
MB: Hoje, vemos muitas bandas produzindo algo mais para o mercado da música e menos pessoal, porém, vendo sua extensa obra, não há como discutir que se trata de algo muito confessional e próprio. Como que é produzir tanto de algo íntimo?
Phillip: Acho que isso tem direta relação com minha relação com a música, afinal ela me salvou em diversos momentos da minha vida. Sei lá, cara, parece uma coisa muito brega dizer que a música é uma terapia, sinto que é algo tão batido. Mas, é a verdade. Eu consigo me entender melhor quando produzo um disco, é como se olhar em um espelho: eu me enxergo melhor. Eu dou vazão àquilo que estou sentindo e eu consigo olhar para isso que expresso de uma forma diferente. Considero muito como um processo de salvação.
MB: Nos havíamos comentado no [Buzzers](http://www.youtube.com/watch?v=6fs9DovAK3g) um tempo atrás sobre a relação letra e música, e de que forma os artistas compõem (primeiro a letra e depois a música, ou vice-versa). Como é para você? Você segue uma fórmula, rotina, na hora de escrever?
Phillip: Não tem fórmula, pelo menos não para mim. Na verdade, ainda é algo bem misterioso, as coisas vem para mim de repente. Mas eu confio muito neste misticismo que envolve a composição. Música, para mim, é conduzir mensagens e, através da minha salvação, poder passar algo para alguém. Para falar a verdade, eu odeio fórmulas. É bem simples, é só música. O que sair saiu. Ela quis dançar comigo e eu quis dançar com ela.
MB: Também comentamos aqui no site um pouco sobre a relação entre capas de disco e música. Como sua música é bem diversa, dá para notar que não há um padrão para as capas, ou predileção por forma de expressar a arte. Como é sua preocupação com a identidade visual do seu disco e a forma com a qual ela se relaciona entre o conteúdo?
Phillip: Eu tinha planos de fazer discos com capas que fossem retratos de artes plásticas. Mas, no fim, acabei sendo conduzido por outras coisas. Mesmo a capa do Gratitude, que foi fotografada pelo meu amigo Ciro, não foi algo muito pensado, diferentemente da capa do Atlas que teve um puta conceito por trás. Mas a gente acabou vendo significado depois que a foto foi tirada, que mostra um filhote de gato no meu pé. Acabamos vendo uma leitura irônica, porque o gato não é sempre o animal mais grato, criando um relação antagônica entre esse sentimento e o mistério. Acho que essas leituras vem muito do fato de meu pai ser artista plástico e eu ter acompanhado o processo artítstico de criação desde cedo. Mas, para a capa do Seven, realmente não tem nada de pensado. Nós tentamos três vezes propôr alguma coisa, não deu certo e aí meu pai apareceu com aquele sete estilizado e falei: “É isso, simples e bom”.
**MB: Tem uma pergunta que é inevitável fazer. Você é um cara que produz para caramba. Como é que vai ser o próximo disco?
Phillip: (risos) Cara, eu estou completamente obcecado por fazer o próximo, muito mais do que eu já estive antes. No decorrer do processo de finalização do Seven, eu comecei a ter as melhores ideias da minha vida, muito nessa de beber do The Smiths. Acho que o oitavo disco vai ser muito nessa linha.
MB: Se formos olhar sua discografia inteira até agora, quais são as maiores características do Seven?
Phillip: Seven é o meu disco mais equilibrado em termos de inserção e público. Ele tem o melhor de mim “intimista” (na faixa de abertura e encerramento), com canções que tem refrão. Ele acaba sendo de mais fácil digestão – acho que eu estava fazendo muita coisa cabeçuda, no sentindo de complexidade de arranjos, que é uma coisa que sempre gostei, mas isso acabava distanciando um pouco a mensagem do registro. Seven tinha que ser algo que mostrasse um equilíbrio com o que eu queria fazer antes e o que eu quero fazer agora. Tive muita ajuda do Eduardo, que é meu parceiro para a vida toda. Não tem como ser Phillip Long sem ele.
MB: Tem alguém com quem você gostaria de trabalhar algum dia? Não necessariamente um produtor, um outro músico em geral.
Phillip: A maioria dos músicos com os quais eu gostaria de trabalhar são velhos demais ou estão mortos (risos). Eu não escuto muita coisa nova e eu fico até meio envergonhado com isso, porque eu quero que as pessoas me escutem e eu sou um artista novo. Mas, se eu pudesse, trabalharia com o Dylan (embora isso seja uma blasfêmia).
MB: Do pessoal novo que tem surgido na nova cena brasileira, quem que você recomenda?
Phillip: Igor De Carvalho. As pessoas ainda não sacaram que ele é um dos melhores compositores da nova cena, o que é completamente natural. As pessoas demoraram para entender quando o cara é muito bom. Também escuto coisa gringa, sendo Fleet Foxes uma das melhores banda atualmente.