Entrevista: Warpaint

Banda chega ao país nesta semana para shows em SP e RJ

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Fotos: Divulgação

“Nunca pensei assim, mas é isso mesmo: Quando você participa de um momento inspirado, você se empodera, e o que acontece depois é sempre positivo” – o que a guitarrista Theresa Wayman disse ao Monkeybuzz ali na hora do tchau, depois de vários minutos de conversa, sintetiza muito da conversa e do porquê desta sua nova vinda ao país ser tão significativa.

Warpaint chega neste fim de semana para dois shows – um em São Paulo no Balaclava Fest e outro no Rio de Janeiro, com produção Monkeybuzz. Na reta final da divulgação de seu Heads Up, Emily Kokal, Jenny Lee Lindberg, Stella Mozgawa e Theresa mostrarão mais uma vez aos brasileiros por que a banda é um dos maiores destaques do Indie mundial.

Monkeybuzz: Quando falamos com Stella há dois anos, ela comentou que vocês entraram em estúdio para gravar Heads Up com uma ideia muito específica para o que queriam para essas músicas. Após tantos shows, como elas se desenvolveram no palco?
Theresa Wayman, Warpaint: Nesse disco, trabalhamos com muitas camadas. Às vezes, as pessoas entram em estúdio com todo o processo muito pré-planejado, daí gravam com todos da banda tocando juntos e tal? Então, não foi assim. Nosso processo foi de home studio, parte por parte sendo incorporada. Pegar essas músicas e levá-las ao palco foi… divertido. Deu para experimentar um outro lado, criar uma versão só para o ao vivo. Eu acho isso muito prazeroso. Esse álbum tem também muitos elementos eletrônicos, como synths, e foi legal pensar em como transportar isso tudo pra guitarra. Deu uma nova vida às músicas.

Mb: Fazendo turnês e tocando com outras bandas, eu imagino que você enxergue uma certa cena da qual Warpaint faz parte. Você acha que pertencer a um cenário específico encoraja sua criatividade ou faz algum tipo de pressão para você se limitar a algumas características de gênero ou estilo? Theresa: (Risos) É… Acho que, depois desse tempo todo, nossos fãs já sabem que fazemos parte de uma cena Indie, mas também corremos por fora dela. Não somos uma dessas bandas de uma cena específica, tipo “banda Pitchfork”, sabe? Você nunca sabe direito o que esperar de nós, e nós também não sabemos exatamente o que vamos resolver fazer (risos), porque nos inspiramos em músicas muito diferentes, ouvimos muita coisa – e eu gosto de acreditar que nossos fãs também são assim. Sei que, quando começamos, tínhamos uma cara mais específica, baseada em guitarras, e decidimos simplificar um pouco. Essa foi nossa jornada. Sei que alguns fãs sentem saudades daquela época… mas, como uma pessoa que faz arte, é importante não se sentir presa. É o meu conceito de arte, achar expressão e liberdade ao explorar quem você é, sem importar o que os outros pensam. Essa é minha experiência, eu tento não ficar dentro dessas caixinhas, sempre que possível.

Mb: Considerando isso da arte ser uma expressão de quem você é, sabemos que, no seu caso, você produz em coletivo. Como é para você realizar esse processo criativo em grupo? Theresa: Às vezes, pode ser difícil, porque nem todo mundo concorda sobre o melhor caminho de chegar do ponto A ao ponto B. Na maior parte do tempo, nós chegamos juntas ao mesmo lugar esteticamente, o que é ótimo. Depois do nosso terceiro álbum, entendi como resolver o “quebra cabeças” de uma música sozinha, ou de me dar o direito de passar o tempo que eu precisar para fazer isso sem ter que levar em conta o tempo dos outros. Mas, ao mesmo tempo, sei que aquilo que fazemos juntas, sempre vale a pena, mesmo se o processo for mais difícil, porque o que produzimos em coletivo não poderia ser feito por uma só. Depois de catorze anos na mesma banda, acho que já sabemos também como ser democráticas e diplomáticas umas com as outras. Estamos compondo novas músicas e tem sido legal voltar a esse processo.

Mb: Vendo a sua discografia e sabendo como cada álbum surgiu, aonde você acha que a banda vai se direcionar no próximo?
Theresa: Acho que ainda não fizemos o melhor disco que podemos fazer, e isso é muito legal. Acho que ainda temos muito para oferecer. Gosto do fato de que nós mudamos, amadurecemos e melhoramos ao longo do tempo. Na minha opinião, não éramos a melhor das bandas quando começamos, mas fomos nos aperfeiçoando a cada álbum. Sempre teve algo especial em nós, mas acho que nosso melhor disco ainda está por vir. E depois disso… não sei. Acho que já estamos nessa há um bom tempo, pode ser que precisemos dar uma pausa para explorar outras coisas… mas não é nada certo, não posso afirmar que vamos continuar fazendo discos depois ou não. Vamos fazer o próximo e, daí, ver o que acontece.

Mb: Vocês chegarão ao Brasil em um momento muito delicado da nossa história, e eu imagino que não seja a primeira vez que vocês chegam a um país em situação política complicada. Como é para você ter a oportunidade de levar sua música a quem está em um contexto tão difícil?
Theresa: Tenho uma pergunta para você então: Você acha que a música é importante nesse caso? Porque eu fico pensando às vezes que é legal a gente poder tocar e o pessoal curtir, ter uma noite legal, ver alguém se expressar… a música comunica emoções, então podemos nos conectar nesse nível… Mas que que isso significa? Eu me pergunto sobre o valor de estar em uma banda em tempos assim. Nosso presidente também é de extrema direita, meio fascista, muito machista e misógino. Então talvez tenha coisas mais importantes para se fazer do que música. Mas, ao mesmo tempo… Sei lá, que você acha? (risos)

Mb: Acho que a gente faz o que pode. Se você tem música, venha e traga sua música. Theresa: É, eu entendo. Acho que faz bem poder promover algo do bem, sabe? Eu faço parte de algo que é por si só progressista, porque acreditamos em ser quem você é e queremos espalhar sentimentos bons. Se mais gente fizesse isso, talvez teríamos menos problemas. E sim, eu gosto de poder viajar e levar música para quem não está se sentindo bem, de poder trazer algum alívio.

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ARTISTA: Warpaint
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.