Entrevista: Washed Out

Ernest Greene fala ao site sobre seu processo criativo e sua nova vinda ao Brasil, no Balaclava Fest

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Quando o Monkeybuzz surgiu, lá na virada de 2011 para 2012, o termo Chillwave ainda era muito frequente como um dos estilos mais genuínos desta geração criada na Web que produzia seus sons em casa. Por isso que falar com Washed Out, o maior ícone do estilo, evoca questões que pensávamos e conversávamos lá naquela época, satisfazendo dúvidas e impressões que guardamos por tanto tempo.

Ele riu quando eu comentei que, por ser nossa primeira conversa, o papo poderia ser um pouco repetitivo e nostálgico. Mas foi bom saber que não é de passado que uma entrevista com Ernest Greene sobreviveria, até por nosso interesse no que está no presente – tanto o disco Mister Mellow, quanto sua nova vinda ao Brasil, para o Balaclava Fest no próximo 5 de novembro.

Monkeybuzz: Pode-se dizer que Washed Out já entrou para a história por ser o maior ícone da Chillwave. Como é sua relação com essa ideia?
Ernest Greene, Washed Out: Acho um pouco estranho. Eu nunca tentei fazer algo que fosse louco ou diferente. Acho que muito vem do fato de eu ser um músico sem treinamento, aprendi sozinho como produzir. Por causa disso, meu som acaba saindo naturalmente do jeito que sai, sem muitas decisões para ser mais isso ou aquilo. E, é claro, eu já era fã de música por muito tempo antes de começar a fazer a minha própria, então tudo o que eu ouvia acabou influenciando também a produção. Acho que o principal era não tentar imitar ninguém, fazer minhas coisas do meu jeito. A música era um hobby, eu não estava tentando agradar ninguém, só a mim mesmo.

Mb: Para você, esses rótulos colocados trazem também uma sensação de limitação, de confinamento, para sua criatividade?
Washed Out: Sim. Acho que está na natureza do mercado musical, sempre vai ter rótulos, gêneros, coisas que facilitem para os ouvintes entenderem, mas elas tendem a limitar demais. Eu sou o tipo de cara que não quer fazer o mesmo álbum duas vezes. Estou sempre otimista e esperançoso que meus fãs tenham a mente aberta sobre eu querer experimentar coisas novas, acho que o desafio é ir em frente sem perder sua conexão com o que você já fez, que ainda seja Washed Out mesmo incorporando novos elementos.

Mb: Dá para notar facilmente que nenhum disco seu é muito igual ao outro. É um daqueles casos da sua música mudar à medida que você também muda como pessoa e como artista?
Washed Out: Com certeza. Tenho inveja de compositores que criam personagens e escrevem suas músicas na perspectiva deles. Eu não consigo fazer isso, o que eu estiver vivendo na época sai naturalmente nas letras e na música. Acho também que cada disco é um retrato do que eu curtia ouvir no período de produção. Meu gosto muda muito. Eu não me considero um bom músico, mas sou muito impaciente, muito curioso, sempre quero ouvir algo novo, o que me faz estar procurando constantemente o que escutar. Isso faz com que minha música sempre mude também, isso de estar sempre buscando novas referências.

Mb: Você compõe, produz e também canta na música. Na hora de trabalhar em uma faixa, esses processos são individuais ou acontecem todos ao mesmo tempo?
Washed Out: Sim, tudo ao mesmo tempo. É como eu sempre trabalhei, não acho que conseguiria trabalhar de qualquer outra forma. Tenho inveja também de quem se senta ao piano e escreve só uma melodia, ou só uma letra. Para mim, porque estou focado em produção, tudo acontece simultaneamente. Isso também deve ter a ver com o fato de eu ser autodidata, acaba sendo natural que isso aconteça assim.

Mb: Quando ouço suas músicas mais antigas, percebo uma certa introspecção, algo mais melancólico. Como era levar esse soma palcos grandes, como os de festivais?
Washed Out: Exatamente. Isso é difícil e é uma das razões da minha música ter mudado tanto. No começo, eu escrevia para mim mesmo, em uma situação mais modesta, as faixas saíam mais simples, mais introspectivas mesmo, como você falou. Um dos maiores desafios naquela época era transformá-las para um palco de festival, com milhares de pessoas. Depois de passar por tudo isso, eu entendo melhor outras bandas. Coldplay, por exemplo, que é claro que se apresenta em arenas enormes, mas seu primeiro disco era também mais introspectivo, e agora as músicas são grandiosas porque os palcos são também gigantescos. Tem uma ou outra em Within or Without que já foi pensada em ambientes maiores, foi ali que comecei a aprender a incorporar alguns certos elementos no meu processo de produção. Ainda tento equilibrar os climas. Ainda gosto muito de músicas mais tranquilas, não quero sair tanto disso só porque estou tocando em festivais.

Mb: É por isso que Mister Mellow é assim? Eu não tenho medo de afirmar que é seu trabalho mais dançante.
Washed Out: Sim, sim, com certeza. As músicas mais rápidas são as melhores para os públicos de festivais, na minha opinião, mas sempre acho que a maior influência para a direção do álbum foi meu trabalho como DJ. Eu toquei muito nos últimos cinco anos em baladas, e sempre toco muito House, que eu adoro, o que nunca incorporei a uma música como Washed Out. Mas aprendi o papel que o sampler pode ter, e porque tantos produtores de música Dance usam técnicas parecidas. Me abri para um novo jeito de trabalhar, o que me deixa sempre animado, e quis incluir algumas músicas assim no disco. É sim o meu trabalho mais dançante.

Mb: Quanto tempo depois de terminar um disco você já começa a pensar no próximo?
Washed Out: Essa é minha parte favorita do processo, aquele tempo entre terminar um disco e descobrir qual será o próximo passo. Assim que você termina um álbum, muita coisa começa a acontecer, você faz muitos shows e tal, não sobra muito tempo pra sentar no estúdio, compor e gravar, mas, ao mesmo tempo, me dá muita oportunidade para pensar em música, já que se gasta tanto tempo em aviões, ônibus e tal. E também é bom não sentir nenhuma pressão para produzir algo novo, já que ninguém espera um próximo disco tão cedo.

Mb: Como foi sua primeira vinda ao Brasil? Quais são suas memórias de estar no país?
Washed Out: É engraçada a impressão que as pessoas costumam ter dos músicos em turnê, elas pensam que a gente tem tempo de conhecer os lugares, o que não é verdade. Quando chegamos no Rio, acho que tínhamos umas três horas antes da passagem de som. Como gosto muito de fotografia, queria tirar umas fotos da cidade, então entrei em um táxi, fui ao Pão de Açúcar, tirei fotos do bondinho e lá de cima, fiquei lá por uns dez minutos e já tive que voltar. Espero ter tempo de conhecer mais do país desta vez.

Mb: E como é sua relação com a música brasileira? Você conhece alguma coisa?
Washed Out: Sim, tem até alguns samples de música brasileira no disco. Floating By usa percussões de uma faixa de Bossa Nova, que eu amo. Passo horas no YouTube pesquisando música brasileira e pegando samples.

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ARTISTA: Washed Out
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.