Estação Metanol FM

Do Jazz ao Acid: coletivo lança primeiro volume da série “Movimento Paralelo”, desenvolvido a partir de gravações da saxofonista Dharma Jhaz e com forte teor experimental

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A pandemia trouxe aos representantes da cena independente uma necessidade de reinvenção. Ótimas iniciativas surgiram ao longo do ano passado, do fortalecimento de selos à criação de coletivos, sempre desenvolvendo formas de continuar lançando trabalhos e fomentando o underground, mesmo em tempos tão incertos e angustiantes. Agora, um ano depois (e com a consciência de que uma suposta normalidade não voltará tão cedo), aquela necessidade de reinvenção é ainda mais desafiadora e incrementar as maneiras de se unir, produzir e seguir vivendo de arte é fundamental. 

É o caso do selo multidisciplinar, coletivo e rádio online pioneira Metanol FM. Com integrantes espalhados entre Salvador, Manaus, Curitiba, São Paulo e Lisboa, o time concluiu que um punhado de faixas sendo lançadas não seria o suficiente e buscaram formas mais profundas de realizar um trabalho coletivo. “A ideia da coletânea Movimento Paralelo Vol.1 surgiu como parte da criação de uma comunidade musical em código aberto que iremos inaugurar em breve. Um espaço para troca de conhecimento, mentoria coletiva, partilha de ferramentas, colaborações estendidas e estímulo mútuo para artistas do cenário eletrônico nacional”, explica Akin Deckard, um dos responsáveis pela Metanol.

Esta é a primeira edição de uma compilação em série contínua, que caminha por diferentes espectros musicais em colaborações remotas – do Jazz ao Acid, do Breakbeat ao Ghettotech, cruzando os caminhos do Funk, Electro e Techno sob uma narrativa experimental. “O foco de uma comunidade musical em código aberto é minimizar estes distanciamentos, buscando desmistificar e estimular a criação autoral em um momento em que tudo parece tão efêmero. Este lançamento foi realizado de forma horizontal, com participação inicial de artistas-conselheiros do nosso núcleo, desde a idealização e conceito, até a narrativa, identidade visual e distribuição”. Com 13 faixas, entre interlúdios e jams inéditas compostas por Akin Deckard, Guillerrrmo, Letricia, Ramenzoni, SysEx e Zelada, Movimento Paralelo Vol.1 nasceu em torno de sessões de sax solo gravadas pela jazzista (e integrante) Dharma Jhaz, e foi produzido coletivamente a distância, como uma tentativa de manter viva a inspiração musical em tempos de isolamento.

Akin Deckard – “Pelotão Terror”

Akin Deckard: Meu processo de produção flui melhor de forma primitiva e responsiva. Programei e sequenciei as baterias numa MPC 1000 e no sintetizador de baixo TB-303. Os samples de vocal, processados e disparados no sampler SP404-Sx, estavam em um e-mail que recebi de um produtor de Funk do Rio há muito tempo. Redescobri eles recentemente num processo forçado de backup e organização da vida digital. O nome “Pelotão Terror” faz alusão às memórias da infância, dos tempos de “Polícia e Ladrão”, e a violência da vida adulta em zonas de conflito social.

“Em tempos de violência policial, morte natural é privilégio”. Li isso em um muro, logo quando retornei ao Brasil. Muitas questões me atravessam enquanto artista formado pelas expressões periféricas e tenho tentado canalizar energia para algo produtivo e significativo, mesmo que a raiva. Esse tem sido meu mantra, é nisso que tenho pensado a maior parte do tempo. 

Os nomes dos skits foram criados a partir do cruzamento de elementos gráficos da arte de capa e estudos de cromoterapia, memória sensorial e criptografia. Esta relação compõe uma “chave de acesso” para um conteúdo complementar ao disco, disponibilizado 10 dias após seu lançamento digital.

Dharma Jhaz + Sax

Tenho um método orgânico de composição baseado em imaginar e cantar uma frase melódica antes de tocá-la. Para mim, a música flui através do meu sax como uma extensão da própria voz, dando forma às composições a partir do que canto. Transcrevi tudo como partitura e gravei as sessões com meu sax e outros instrumentos de sopro. Escolhi uma sala da minha antiga casa para fazer as gravações direto sem processamento, aproveitando o reverb natural do espaço para amplificar as sensações que estava buscando transmitir.

Uma fusão de alívio e gratidão por ter a oportunidade de poder tocar e compartilhar o meu Soul, soprando a vida através de instrumentos para trazer inspiração para aqueles que me inspiram.

Ramenzoni – “Mente Latente”

Ramenzoni: “Mente Latente” foi produzida num período de 4 dias, utilizando drum machines, sintetizadores, microfone para a voz, sampler e outros equipamentos analógicos, reunidos em gravação digital. No meu processo, componho e programo as batidas e melodias nas máquinas, fora do computador. Esta faixa é uma mistura de referências da música eletrônica das décadas de 1980 e 1990, com sonoridade mais “vintage”, reunindo estilos distintos, como o Acid, Electro, Breakbeat e Synthwave, na tentativa de chegar em um novo lugar a partir destas referências. Mente Latente é um estado de alerta mental, algo marcante e de uma atenção profunda, que reverbera a partir de uma mensagem.  

Procurei por uma sonoridade que pudesse ser percebida na atual situação que estamos passando, entendendo que o ambiente de pista já não é mais uma realidade presente, buscando fazer música eletrônica que as pessoas possam ouvir em casa e criar um novo tipo de relação.

Letricia – “K pome”

Letricia: “K pome” é um fragmento de uma jam que gravei em take único, sequenciando timbres de percussão na Electribe ESX-1 com linhas de Acid num módulo de baixo TD-3. Gosto de aproveitar a parte tátil de se produzir usando apenas máquinas, registrando a unicidade do momento a partir da combinação de elementos em tempo real. Finalizei essa faixa num fim de tarde no meu quarto. O nome dela remete à cena final de um filme em negativo.

O sentimento principal era de um tipo de busca por um estado mental de imersão, tocando as máquinas ao longo da tarde. Uma fuga da realidade limitada de um apartamento para um um lugar mais saturado de elementos e estímulos.

Guillerrrmo – “Sarrafando Em Você” 

Guillerrrmo: Era um loop que havia construído há algum tempo e que revisitei e concluí agora. Tenho tentado explorar outras sonoridades e misturar mais estilos nas minhas produções, e pra essa resolvi buscar por samples de Funk. Encontrei o vocal da música em um site aleatório, e que se encaixou perfeitamente com a ideia do loop inicial. Metade da música foi construída com timbres nativos do Ableton Live e a outra com samples retirados de músicas de Tecnobrega e Funk.

Esse processo de seleção e ressignificação durou um mês mais ou menos. O nome da faixa foi sugestão da amiga e produtora Podeserdesligado, que lançou essa ideia na hora que ouviu ela pronta. Busquei fazer uma música que me lembrasse o que ouvia nas festas antes da pandemia, uma mistura de todos os sons diferentes que absorvi quando ia tocar em algum lugar.

Zelada – “Boneco Mecânico”

Zelada: “Boneco Mecânico” é resultado de um experimento sampleando sons da internet e outros elementos que gravei com timbres de computador. Meu setup de produção é analógico, mas esta faixa foi feita de forma totalmente digital, porém soando como instrumentos gravados ao vivo. Tive a ideia dela quando ouvi pela primeira vez a música “Swahililand”, do Ahmad Jamal, sampleada por Yves Tumor em “Faith In Nothing Except Salvation”, no álbum Safe in the Hands of Love.

Meu método de produção é começar pela bateria e elementos percussivos. Nesta ocasião, idealizei a estrutura da faixa a partir de uma releitura do sample, num processo rápido e muito imersivo. O nome da faixa veio do livro Quincas Borba, do Machado de Assis. Tentei criar um cenário que lembrasse um deslocamento, a execução de um trajeto. Escolhi esta faixa justamente por estar alinhada com a proposta de “movimento” trazida pela coletânea.

Como se dá o processo de mesclar diferentes sonoridades em uma música? O Jazz, o Funk, o Experimental, o Acid…

Zelada: Foi um resgate coletivo de referências e sonoridades que se encontraram em um lugar comum, num “Movimento Paralelo”. Mais que uma coletânea, vejo esse projeto como a “materialização” de uma narrativa muito instigante, de introspecção, de recolhimento e também da vontade de se manter ativo. 

Ramenzoni: Acredito que no processo de criação é muito importante buscar quebrar barreiras, mesmo as próprias, fazer testes, experimentos e misturas na busca de algo singular. No processo de produção do interlúdio “Orquídea Casa 22”, em que utilizei parte das linhas de sax da Dharma, senti que a presença deste elemento único abriu uma porta muito interessante no desenvolvimento da faixa, chegando em um resultado que sei que não seria possível apenas com os recursos que uso em meu estúdio. Foi como encontrar uma nova conexão entre elementos inesperados.

Guillerrrmo: Eu gosto dessa mistura, escuto muitos estilos musicais e sempre quero fazer algo parecido com o que ando ouvindo. Isso sempre acaba se manifestando nas minhas músicas de certa forma, e essa faixa tem muito desse “ecletismo”.

Letricia: Curto a ideia de produzir em colaboração, misturar sonoridades de diferentes instrumentos, gerar atmosferas. Foi divertido usar samples de saxofone da Jhaz, principalmente porque costumávamos fazer live juntas antes da pandemia. Usar os fragmentos do sopro dela me trouxe uma sensação gostosa de nostalgia, um recorte de um tempo bom e de tudo o que vivemos num passado recente.

Akin: Minhas referências musicais vêm de diferentes épocas, cenas e movimentos, mas que de certa forma sempre se relacionaram com linhas de baixo e elementos vocais. Desde a época em que fui MC, fazia muito tempo que eu não sampleava, escrevia ou gravava algo em português. Em “Lava Casa 15”, recito o texto-prenúncio de “Movimento Paralelo” a partir do tema para sax da Dharma Jhaz, adicionando ritmo com sequências de bateria programadas por Ramenzoni. A faixa é ao mesmo tempo um epílogo e prólogo do disco, guiando o ouvinte de volta ao seu início na busca de códigos e mensagens que se revelam a cada nova audição.

Mesmo com o experimental marcante, o som final é também muito harmonioso e elegante, especialmente nos interlúdios quando entra o sax. Quando você sabe que a música está pronta?

Zelada: Difícil dizer quando está pronta. São processos que se estendem, se integram no cotidiano e entram num movimento contínuo de ressignificação. Vejo a música pronta como a fotografia de um emaranhado de afetos, emoções e intenções transitórias. 

Ramenzoni: Saber quando a música está pronta é muito relativo, mas gosto de sentir que consegui transmitir a mensagem que queria. Nem sempre há um resultado final esperado, mas tudo serve de aprendizado na criação. Gosto de respeitar o processo de composição livre e sentir o caminho que irá se revelar, sem barreiras.

Guillerrrmo: Acho que não sei quando a música está pronta. Na maioria das vezes eu só aceito o jeito como ela se desenvolve. Se deixar, fico mexendo e nunca finalizo.

Letricia: No meu processo, a música está pronta quando ela cumpre o papel de ser um registro de sensações ou pensamentos que se manifestam no momento em que estou em contato com os equipamentos. Estou sempre disposta a passar um tempo imersa em possibilidades além das limitações do meu setup.

Akin: Uma faixa está pronta quando me vejo performando ela ao vivo. Só consigo produzir e finalizar processos que poderão ser replicados, reordenados ou ressignificados em formato de live act. Acho que a performance e o experimentalismo são características marcantes na nossa formação, o que faz do nosso processo de produção uma conclusão em si. Seja como aprimoração ou aprendizado.

O projeto foi desenvolvido pelos produtores em cima de sessões solo de sax. Qual a importância da troca de conhecimento e estímulo coletivo?

Zelada: Vejo como a alma do projeto. O conhecimento se torna verdadeiro quando compartilhado. Foram várias chamadas de vídeo em que tivemos a oportunidade de nos ouvir e sermos ouvides, e de compartilhar vivências e experiências muito engrandecedoras para o processo. 

Dharma Jhaz: É algo essencial. O fortalecimento coletivo é um ato de resiliência diante de todo o distanciamento e colapso que estamos vivendo. Mesmo na singularidade e particularidades de nossos universos criativos, orbitando um mesmo lugar de inspiração. Nesse movimento de criação e resistência, compartilhar a potência disso com o mundo hoje é a mensagem que deixamos para os artistas do amanhã.

Ramenzoni: Eu acredito que mais do que nunca, essa troca é extremamente importante no mundo da música. Passar por um processo de produção coletiva toca de forma interessante o universo particular de cada pessoa. A troca de conhecimentos e experiências pode ser capaz de iluminar a criatividade de cada indivíduo, sendo um canal poderoso de descobertas até dentro do seu próprio método de criação. E isso passa a ser um estímulo muito valioso nas intersecções criativas.

Guillerrrmo: É algo que traz uma facilidade de experimentação, um desejo de busca por novas sonoridades. No fim, trocar conhecimento é gerar uma corrente de inspiração.

Letricia: Acredito que ter como fio condutor um material de tamanha sensibilidade como o sopro da Jhaz foi algo muito potente para criarmos um espaço de encontro das nossas características singulares dentro de uma produção enquanto coletivo.

Akin: Um trabalho coletivo é um encontro de ideias, vozes e referências, em que a particularidade de cada um se faz amplitude da qualidade de todes. O que vejo de mais importante na troca de conhecimento é favorecer a proximidade de diálogos. Música é um organismo vivo de memória remissiva. O ritmo que a mente produz o corpo já sentiu antes, e quando realizamos isso sob estímulo coletivo, as possibilidades se tornam infindas.

“O disco acompanha um conteúdo didático, banco de sample, arquivos de imagem, um rack de bateria que criamos para o Ableton Live e demais conteúdos, que poderão ser destravados a partir de um código oculto que se encontra na capa do disco”. Como surgiu essa ideia? Me conta um pouco mais sobre a arte da capa.

Metanol: A Metanol em suas diferentes formações sempre teve uma relação direta com as artes gráficas e suportes visuais, como vídeo, impressão, vestuário, fotografia, luz, entre outras práticas. Ao longo dos anos, nos entendemos mais como um núcleo de experimentação audiovisual do que apenas um coletivo musical, tendo a imagem como meio de expansão de uma mensagem. Para este lançamento, desenvolvemos de forma horizontal o conceito da identidade e reunimos na capa uma diversidade de signos e símbolos que guiaram a concepção da ideia: uma ação, um cenário, a relação entre cores e sensações, criptografia e a ordenação de elementos que carregam em si um significado para além da estética, formando uma chave de acesso a um nível mais profundo que o de sua superfície do lançamento.

O conteúdo complementar ao disco é uma conjunção do universo de interesses de cada artista envolvide, como um convite à imersão em nossos campos de conhecimento e atuação. Este adendo são nossas ferramentas de trabalho do dia a dia, que poderão ser utilizadas e ressignificadas como fonte de inspiração e criação de forma livre por outres. Entre o material, está uma videomix do duo audiovisual de São Paulo TAO, idealizada como um remix visual do disco. A dupla acompanha o nosso trabalho há alguns anos e esta é a primeira oportunidade que temos de trabalhar em conjunto com eles, como num ciclo que se completa e dá início a outros tantos outros.

TAO: A videomix que produzimos vem de uma ideia antiga, incubada ao longo de nossas vivências e que agora se materializa como inspiração mútua. Desde os tempos do espaço S/A (Sociedade Anônima, em Pinheiros), já sentíamos a necessidade de uma expressão visual que documentasse parte desse efêmero cotidiano paulistano da cena eletrônica-experimental independente e de seus cruzamentos. Essa maravilhosa e caótica mistura de acontecimentos e referências que definem a pluralidade da cena como a conhecemos hoje. Iniciamos nosso trabalho em 2017, captando imagens e registrando momentos como testemunhas oculares de um futuro em construção. Nesse vídeo-remix, unimos registros de caminhos percorridos até aqui, frações suspensas do tempo e um prisma para compreensão coletiva da formação de uma comunidade musical local. O resultado foi um trabalho intenso e gratificante de catalogação, seleção e edição sob uma perspectiva contemporânea, olhando para trás e para frente ao mesmo tempo no agora. O tempo é uma ilusão, mas imagens ajudam a estabelecer uma percepção maior do nosso estar.

Em cada volume do “Movimento Paralelo” vocês vão somar gêneros “diferentes”? O que podemos esperar para o próximo lançamento?

Metanol: O que podemos esperar são grandes encontros, tanto coletivos como particulares. É muito agregador e ao mesmo tempo desafiador podermos atuar como um núcleo de categoria musical inclassificável. Não somos um coletivo de Techno, ou de House, nem mesmo de Electro, Juke ou outro gênero Eletrônico em específico. Englobamos tudo aquilo que nos move e inspira sob uma ótica de futuro, mesmo quando ele se dá no retorno às origens. Já vivemos muitos ciclos, sempre atuando na base de formação artística, onde tudo é possível e valioso. Esta é a sensação que queremos estender aos outros volumes, promovendo resultados que sigam de forma natural a construção da expressão artística de cada um. Gostamos de habitar neste lugar onde inspiração e referência seguem em constante movimento, num ciclo infinito de percepção. Nossa missão é avistar o futuro no tempo presente e o Movimento Paralelo tem como propósito ser um documento do tempo a partir de suas trocas em comunidade e as justaposições de sua formação.

De que modo a música pode mudar e influenciar o futuro?

Zelada: Vejo a música como um dos vários canais de transformação da nossa realidade. Cito aqui José Miguel Wisnik, em seu livro O Som e o Sentido: Cantar em conjunto, achar os intervalos musicais que falem como linguagem, afinar as vozes, significa entrar em acordo profundo e não visível sobre a intimidade da matéria. Um único som musical afinado diminui o grau de incerteza no universo.

Ramenzoni: Da mesma maneira que somos influenciados pela música do passado, podemos dizer que a música atual, futuramente, irá pertencer a um contexto específico. Acredito que trazer sempre conexões novas ao que já se conhece é um grande potencial para influenciar o futuro, afinal, todos os gêneros de música que conhecemos hoje em dia se criaram em algum contexto/sonoridade específica, e essas conexões que passaram a dar o significado a cada tipo de música que existe e já existiu. Com certeza o que estamos fazendo hoje em dia irá significar algo muito específico no mundo futuro da música pelo fato de estarmos criando conexões inesperadas entre elementos de diferentes contextos e gêneros em cada música.

Guillerrrmo: A música afeta de muitas formas a vida de todos. Algo que estamos ouvindo hoje pode inspirar os artistas do futuro, então a música nesse momento pode ser o escape ou estímulo de outras pessoas. São etapas e mais etapas que vão se modificando e evoluindo através de outras gerações, influenciando aquilo que vem pela frente em termos de cena.

Letricia: Acredito que a música, assim como outras manifestações artísticas, têm a capacidade de transmitir sensações e intenções e de trazer elementos de planos invisíveis mais próximos da materialidade. Isso por si só é um potente agente de percepção e transformação do nosso meio.

Dharma Jhaz: Da mesma forma que o presente influencia a música, essa nova realidade nos forçou a criar novas perspectivas e intuições a respeito de nós mesmxs e da sociedade, trazendo à tona compreensões, expressões e desesperos que se transmitem através da música e arte, tornando uma essencialidade que marca a história e influência completamente quem anseia pela criação e criador, e essa mensagem está sendo transmitida para o futuro através de nós, da música, e de muitos outros que acreditam na arte de si, e assim, deste colapso renascerá um mundo novo que ouça e sinta este presente.

Akin: Música é linguagem. Acredito que seja um dos canais de comunicação mais potentes que podemos explorar. Nossa cena local, em toda a sua magnitude histórica, ainda vive muito à margem de um cenário global, de reconhecimento enquanto parte de uma cadeia e de toda a sua importância enquanto movimento de expressão autêntica. Esses distanciamentos têm sido diminuídos a partir do trabalho de muitos selos, núcleos, coletivos, rádios e artistas brasileiros que, assim como nós, buscam uma proximidade de diálogo com a cena eletrônica global através da linguagem música. É importante antes de tudo nos reconhecermos localmente enquanto cena, olhar mais para outros estados do que para outros continentes para fortalecermos ainda mais a nossa linguagem artística. A referência mais forte que podemos ter, de modo a influenciar musicalmente o futuro, somos nós mesmos. No dia em que atingirmos esta percepção coletivamente, tudo será diferente. E de fato, para um futuro melhor.

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ARTISTA: Metanol FM