Estilos Musicais São Pêndulos

E se pudermos prever os movimentos da popularidade e estética no mundo da música?

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Aqui vai uma ideia: Estilos musicais são como pêndulos. Não entendeu a referência? Tudo bem, vamos nos aprofundar um pouco na ideia. Primeiro, algumas teorias sobre o objeto: Por definição (e prepara-se agora para alguns conceitos nerds sobre o assunto), pêndulo é um objeto que oscila em torno de um ponto fixo em movimentos alternados entre seu ponto máximo e o ponto central – sempre em movimentos de vai e vem. Se ainda não ficou claro, pense em um balanço daqueles parquinhos infantis, mas, no lugar da criança, coloque um peso qualquer que não tomaria impulso por si mesmo.

Já vamos chegar aonde queremos, mas eis mais um conceito, um muito importante para o que vai se desenrolar a partir daqui: O tempo entre um extremo e outro na trajetória em cada um de seus movimentos é sempre o mesmo. Na Física, ele é chamado de período – e vamos neste texto usar o mesmo termo.

Pronto, os conceitos cabeçudos acabam por aqui e finalmente começaremos a tratar daquilo que realmente nos importa, a música propriamente dita. Agora que já temos a ideia estabelecida, vamos ao nosso exemplo prático:

Pense um estilo que está em alta em 2014: Future Garage (representado pelo Disclosure), Indie Rock noventista (Yuck), Rap dos anos 90 (Kendrick Lamar), Emo (You Blew It!) e agora diga o que há em comum entre eles?

Tirando o Emo e Indie Rock, que guardam algumas semelhanças estéticas, não há mais quase nenhum ponto relevante que ligue todos de uma só vez a não ser a época em que fizeram sucesso pela última vez: os anos 90. Future Garage poderia até ter outro nome, mas o que Disclosure faz é basicamente resgatar (e repaginar) o som (no caso, eletrônico) que rolava naquela década. Kendrick Lamar faz a mesma coisa com o Rap da época, Yuck e You Blew It! também, porém cada um em seu gênero.

Ainda não está convencido? Pense então em estilos como Post-Punk (Interpol), (mais uma vez) Indie Rock (The Strokes), Synthpop (Cut Copy), Hip Hop (Outkast). Novamente, o que eles tem em comum são seus picos de popularidade no começo dos anos 2000 e anteriormente na década de 1980. Deu pra sacar que a diferença é de duas décadas nestes dois exemplos, não? E esse, a priori, seria o tempo de oscilação (ou “período”, se preferir), que um estilo leva para pendular entre ser popular somente em seu nicho e atingir sucesso no mainstream (ou algo muito perto disso). Veja, essa não é uma regra que se aplica a 100% dos casos, mas que consegue explicar bem esse fenômeno que acontece na música popular.

Se você regredir mais ainda na linha temporal da música Pop. vai notar mais destes casos, mas deixaremos essa tarefa para você como um exercício de curiosidade e vamos voltar agora ao ponto central deste artigo.

Mais um conceito: tudo que sobe, um dia tem que descer – e vamos apelidá-lo aqui de “gravidade musical”. Essa é uma verdade cruel e implacável que está totalmente ligada à popularidade seja de um artista, ou de um estilo todo. Ninguém consegue manter-se no topo para sempre. Com o tempo (que pode ser em um espaço de um mês ou dez anos), o que era novidade perde seu frescor e inevitavelmente as pessoas perdem o interesse naquilo, deixando de lado e procurando alguma “nova novidade” – e isso não se aplica só à música. O mais importante: Nada impede que depois de um tempo (duas décadas depois?) aquilo volte a ser interessante e que seja revisitado por uma nova geração.

Agora, fazendo o caminho inverso: Todos os estilos, invariavelmente, começam em um nicho e com poucos fãs. Aquilo vai ganhando cada vez mais e mais adeptos dentro e fora de seu meio, até que chega a um ponto em que pode ou não se tornar sucesso no mainstream (e isso depende de tantos outros fatores que não cabe abordarmos aqui). Uma vez alcançado o sucesso, a implacável regra da “gravidade musical” entra em ação e, dali a um tempo, outro estilo vai assumir seu lugar no gosto das massas, e assim por diante. Basicamente, esse é o movimento do pêndulo, indo e voltando do nicho ao mainstream.

Um erro comum na cabeça de alguns é achar que, depois de “sumir” do mainstream, o estilo em questão acaba, ou “morre”. Apesar de não estar mais em evidência, o gênero continua existindo, gerando novas bandas, novo conteúdo e novas músicas, porém confinado novamente em seu nicho. O tempo passa e ele pode ou não ganhar popularidade mais uma vez e estourar no mainstream, configurando um revival ou qualquer outro nome que possa ganhar nessa “ressurreição”.

É bom lembrar que essa ideia de pêndulos ocorre em diversos estilos de uma só vez. É como se tivessem vários deles pendulando todos ao mesmo tempo, ora atingindo o topo, ora chegando a posição mais baixa, mas sempre em movimento. Todos fora de sincronia, é claro. É importante ter em mente também que, diferente da Física, isso não é uma ciência exata e os pêndulos nem sempre vão funcionar exatamente como os de um laboratório. Essa é somente uma representação do fenômeno.

Antes de terminar, vale a pena dizer que esses pêndulos estão adquirindo maior velocidade ou, melhor, fazendo o percurso em um período menor. Ou seja, a rapidez com que algo vira um fenômeno de mídia hoje em dia é quase a mesma com que ele é esquecido, e isso parece acelerar o movimento pendular dos estilos. Outro ponto interessante a se observar é que o que está no topo hoje provavelmente será extremamente contemporâneo novamente daqui a, digamos, 20 anos – ou talvez em menos tempo, dado o fenômeno da “aceleração”.

E olhando não só para o futuro, mas imediatamente para o presente, vamos perceber também que esse inúmeros movimentos retrô ou revivalistas que dominam a música hoje são também efeitos desses movimentos pendulares dos estilos, não no sentido de causa e efeito ou de que eles vão acontecer de uma forma ou outra, mas de que as circunstâncias certas para seu resurgimento apareceram. E é aí que novamente os exemplos do Future Garage, Indie Rock, Emo e Rap entram novamente. As sementes estavam lá, só faltavam as condições para elas germinarem – seja a demanda do público ou alguma banda que alavanque novamente o estilo.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts