“Evil Friends”: o que esperar do novo disco do Portugal. The Man

Mais uma vez o grupo busca no seu próprio passado caminhos para se renovar e neste novo álbum recorre aos seus discos mais agressivos e roqueiros

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Experimentar. Essa parece ser a principal motivação dos músicos do Portugal. The Man que, disco após disco, se reinventam, agregam novos elementos à sua musicalidade e brincam com sonoridades ainda não exploradas, de modo que um registro nunca soe exatamente como o outro. Tentar, certamente, não é conseguir, mas a banda quase sempre acertou a mão em suas inúmeras mudanças que ocorreram durante os últimos oito anos. São, até agora, seis álbuns (sete se contarmos a reinvenção acústica de The Satanic Satanist, The Majestic Majesty como mais um) e o mesmo número de caminhos diferentes acumulados na carreira do grupo, que se prepara para lançar mais uma obra: Evil Friends, esperada para o dia 4 de Junho.

Ao que tudo indica, com os singles lançados até então (Evil Friends e Purple Yellow Red and Blue) e pela escolha do novo produtor (Danger Mouse), esta nova obra ruma ao passado – neste caso, o passado da própria banda e não suas usuais referências sonoras, todas geralmente ligadas às décadas 70 e 80 (por mais que elas continuem por aqui também). Nitidamente, o grupo persegue um pouco do que já feito em discos anteriores, principalmente nos mais roqueiros (Waiter: “You Vultures!” e Church Mouth) e opta ao mesmo tempo por caminhos tão Pop quantos os de seus antecessores (In The The Mountain In The Cloud e American Ghetto), porém seguindo trilhas não tão óbvias (resultado do toque do novo produtor).

Frutos de músicos prolíficos, os discos anteriores sempre surgiam no intervalo médio de um ano – geralmente acompanhados ainda de alguns EPs. Talvez por conta disso, as mudanças eram geralmente tão abruptas e percebidas sem grande esforço por quem ouvia dois discos em sequência. Neste novo, por mais que isso possa vir a se repetir, parece que as mudanças devem ocorrer de forma mais orgânica e mais bem pensadas. Desta vez, quase dois anos separam In The Mountain In The Cloud (2011) desta nova obra; atraso justificado pelo roubo de parte dos instrumentos da banda durante a turnê de 2011 e pelo fato de o grupo tentar desenvolver em seu segundo disco em uma grande gravadora, algo sem tanta pressa e mais focado nos detalhes – como fica evidente ao ouvir os singles liberados até então.

Se o caminho para este novo álbum é o passado, vale a pena dar uma olhada no que a banda já produziu e tentar prever o que virá pela frente. Para facilitar a tarefa, vamos nos focar em fases (geralmente distribuídas a cada dois novos lançamentos), ao invés de discos separadamente. A primeira delas (entre Waiter: “You Vultures!” e Church Mouth) trilha pelo Rock Psicodélico e Progressivo incorporando influências como The Mars Volta e Pink Floyd, a segunda (entre Censored Colors, The Satanic Satanist e The Majestic Majesty) surge mais amena e, na busca por algo mais “belo” ao invés de algo mais agressivo, as principais referências desta época são Led Zeppelin e The Beatles, já a terceira e última (American Ghetto e In The Montain In The Cloud) incorpora outros tantos elementos, do Hip Hop ao Glam, e reapropriando ainda um pouco do experimentalismo eletrônico que dominara seus primeiros EPs.

A primeira fase incorpora tendências mais roqueiras e agressivas, expondo muito bem esse lado mais intenso do grupo. Essas obras abandonam as experimentações (quase que puramente) eletrônicas vista em seus EPs anteriores ao lançamento de Waiter e partem para outras, com instrumentação completa e uma infinidade de outros elementos. Ainda que elas se apeguem aos efeitos e elementos eletrônicos, agora eles apareceriam somente como coadjuvante. Nesta fase, o Rock Progressivo ditava os rumos da banda e, como tal, a esquizofrenia sonora era um elemento comum – e o que ao mesmo tempo trouxe fãs à banda e afastou alguns ouvintes que não estavam acostumados com essa sonoridade tão errática.

Nesta fase, chamam a atenção o vocal elástico, do também guitarrista, John Gourley e ótima apresentação do baixo de Zachary Carothers – que na época ganhava efusivos elogios em suas apresentações ao vivo. A agressividade e espontaneidade desta obra devem reaparecer em bons momentos de Evil Friends e provavelmente vão ser os elementos de maior destaque nesse resgate a si mesmo que a banda faz.

A segunda fase foi marcada pela maior serenidade instrumental e o experimentalismo, usual na carreira do grupo, veio a partir de sua lírica profunda e enigmática. O começo desta nova era veio com Censored Colors, lançado em 2008, que trazia novamente elementos do Rock Progressivo e Psicodélico, porém adaptados em uma mistura mais amena entre as duas vertentes, gerando um álbum dramático e cheio de instrumentação extra (como violinos e violoncelos que constroem ótimas passagens dentro álbum). Com certeza um passo e tanto dado em rumo à trilhas mais ambiciosas, que daqui pra frente serão constantes no som da banda.

Já em The Satanic Satanist, e consequentemente em The Majestic Majesty, o grupo deixa de lado suas raízes progressivas para se aprofundar de vez na psicodelia. Seguindo o que havia feito em Censored Colors, a banda aprimora ainda mais o teor Pop de suas canções, rendendo na época algumas comparações com MGMT e My Morning Jacket por essa aproximação simplista ao Rock Psicodélico. Esse foi até então o álbum mais acessível e mais belo já feito pelo grupo, que não à toa a recriou em uma ótima versão acústica. Desta segunda fase, o grupo dá pistas de trazer principalmente a maior acessibilidade musical alcançada nestas obras.

A terceira delas se inicia com American Ghetto, um disco que foge completamente do que foi proposto em seu antecessor e pela primeira vez buscou trazer de seu passado alguns elementos há muito esquecidos: as experimentações eletrônicas e a maior urgência nas canções são os mais importantes. Estes elementos são trazidos principalmente dos EPs Under Waves of the Brown Coat, The Pines & The Devil e It’s Complicated Being a Wizard, obras em que esse viés “robotizado” era maior. A adição do Hip Hop e a busca por sonoridades próximas ao Soul confundiram mais uma vez a cabeça dos fãs, que certamente não esperavam por algo parecido. Ainda assim, o experimentalismo continuava a todo vapor e foi o que mais marcou durante esta nova fase.

Parte da influência do Hip Hop resistiria até o próximo lançamento, In the Mountain in the Cloud, que também agruparia a ele grandes tendências do Glam Rock. Esta obra, mesmo que muito coesa – e talvez a mais a coesa de toda a carreira do grupo -, se torna na mesma proporção claustrofóbica. Grande parte de suas faixas não tem tempo suficiente para se desenvolver e acabam quase que abruptamente. Uma ressalva para isto é a ótima Sleep Forever que ultrapassa a marca dos seis minutos e coroa o fim deste álbum com umas das faixas mais bonitas de 2011. O que aparentemente virá desta fase é volta à experimentação, seja com o Glam, Hip Hop, ou qualquer outro gênero que a banda integrar à Evil Friends.

A volta aos eixos roqueiros, maior acessibilidade e experimentalismo formarão a tríade em que se baseia o novo disco do grupo, cada um apropriado de uma época diferente para formar uma obra que olha para o futuro. Mas surpreender também é uma constante na carreira de Portugal. The Man, então esperar o inesperado também faz parte da preparação para Evil Friends.

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MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts