Explosions in the Sky e o sentido da música

Banda realiza show esta semana em São Paulo e está na dianteira de grupos que se utilizam somente de melodias para transmissão de sentimentos

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Sentido é uma palavra muito forte. Lembra significância, direção e está sempre atrelada à questões filosóficas ou mundanas. Qual o sentido da vida? Qual o sentido desta ação? A música não foge desta abordagem mas por ser uma forma de arte, pode ter milhares de significados, sentidos ou objetivos. Quando um artista cria uma música, ele deve pensar qual é o seu objetivo e o que ele está querendo passar, e o Explosions in the Sky é uma das bandas que melhor conseguem transmitir sentimentos e ideias sem dizer uma única palavra sequer.

Os donos de um som único, um Rock Instrumental carregado de elementos jazzísticos como a improvisação, farão nesta semana dois concertos em São Paulo no Sesc Belenzinho com ingressos já esgotados. O retorno acima do esperado do público, esgotando os bilhetes em pouco menos de uma hora e meia são provas de dois fatos: 1) o grupo possui uma base de fãs sólida e 2) o seu som é compreendido. Poucas bandas em sua carreira tem nomes de discos tão intensos e bonitos como EITS: a estréia com How Strange, Innocence passando por Those Who Tell the Truth Shall Die, Those Who Tell the Truth Shall Live Forever até o meu favorito All of a Sudden I Miss Everyone. Todos são obras que representam uma ideia e se materializam sob a forma de faixas inteligentes e que procuram transmitir o sentido de seus títulos.

Diferentemente de bandas que admitem vocais, aqui as letras não são um elemento válido para transmissão de sentimentos através da música. Vamos utilizar alguns exemplos recentes para explicar este ponto, a faixa Despirocar do último disco do Apanhador Só, usa um vocal rápido e letras relacionadas para deixar claro que o seu interprete está a beira de um colapso. O refrão, psicodélico e de certa forma calmo, mostra uma reação distinta da esperada explosão e neste caso mostra que o Despirocar talvez tenha um sentido menos literal e mais figurado. A Simple Answer do Grizzly Bear, tenta responder qual é a resposta simples pra vida. Sem ser direto em nenhum momento, os versos estão aqui para auxiliar o leitor a entender que “No wrong or right/Just do whatever you like” é o sentido da vida para Ed Droste e companhia.

No entanto, o Explosions in the Sky não pode se utilizar das palavras para explicar a suas idéias e para isto, ao invés, usa de nomes criativos para as suas músicas e orquestrações que representem os temas contidos em seus títulos. The Birth and the Death of a Day, faixa de abertura de All of Suden começa com uma distorção pesada de instrumentos e um solo de guitarra reverberado como se o Sol estivesse raiando aos poucos no horizonte. Os momentos posteriores exemplificam a temática da passagem do dia, com riffs iniciais ensolarados maravilhosos. A transição para a noite ocorre com entrada da bateria, deixando o ambiente mais pesado e noturno. Ao final, a mesma distorção é retomada para nos lembrar que a morte e a vida andam lado a lado e estão sempre interligadas.

No último álbum do grupo, Take Care, Take Care, Take Care, temos o exercício repetitivo da nostalgia e a doce lembrança de tempos passados. Na faixa final, Let Me Back In vemos uma orquestração calma e hipnotizante, quase imperceptível entre as linhas tênues de guitarra. O momento especial fica por parte de um riff viciante, que troca a calmaria pela explosão aos dois minutos. Tudo parece levar a este momento e a transição serve como retomada de um desejo ou sentimento anterior, o de querer voltar no tempo. Let Me Back In, ou o desejo de entrar ou reviver algo, se torna claro através deste pequeno e preciso riff.

Já em Postcard from 1952, música do mesmo disco, somos constantemente lembrados dos bons momentos vividos anteriormente com uma das linhas de guitarra mais interessantes já criadas pela banda. Tal parte, é repetida diversas vezes para constatar que as boas memórias devem ser revistas com mais frequência do que as ruins, algo que dificilmente um ser humano racional consegue realizar. É sempre mais fácil se recordar dos erros do que acertos, da tristeza que a felicidade. Como adereço, o grupo criou um dos melhores clipes de 2012, o letárgico retrato postal de uma família no ano sugerido no título, 1952. Aliás quem não quer voltar a ser criança vendo este vídeo?

Inevitavelmente o Explosions in the Sky captura a essência de palavras e as transforma em música, ou o sentido de acordes e os organiza em títulos condizentes. Como um produto, a ordem dos fatores não altera o resultado final, e só os consolida como um dos grupos mais sinceros e espetaculares na cena musical. Talvez seja por isso que os seus ingressos desapareceram tão rapidamente, os fãs de música querem ver ao vivo qual é o real significado da música sendo feita diante de seus olhos. Aguarde aqui a nossa resenha para um dos shows mais esperados do ano.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.