Fleet Foxes: A Maturidade Infinita

Com novo disco a caminho, vale a pena rever a obra da banda

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Fleet Foxes não é e nunca foi “mais um nome do cenário Folk”. Enquanto gravava suas primeiros demos, o então produtor Phil Ek comentou que a banda tinha “talento emanando da bunda”, tamanha a surpresa que ele teve ao escutar melodias e arranjos tão belos vindo de um grupo pequeno de Seattle e isto nos ficou evidente assim que seus primeiro registros forma lançados. Misturando o Folk clássico dos anos 1960 com referências medievais e temas fantásticos, pudemos perceber que estávamos diante de uma sonoridade única, longe do estereótipo do Grunge e Rock Alternativo que Seattle ficou conhecida nos anos 1990. Tinha um toque de Neil Young, porém era muito mais metafísico do qualquer outra coisa. Lembrava o imortal disco Pet Sounds, de The Beach Boys, mas trazia um elemento sacro, quase como se estivessemos celebrando uma missa. Era misterioso e, da mesma forma, sublime.

Liderado por Robin Pecknold, o conjunto tem dois discos lançados e um EP, todos com respectivo sucesso de crítica, sendo o primeiro álbum considerado um dos melhores lançamentos de 2008. Agora, retornando de um curto hiato de três anos, o grupo anunciou seu terceiro disco, Crack Up, previsto para junho e a ansiedade já começa crescer. Alguns singles, como Third of May / Ōdaigahara e Fool’s Errand já saíram e podemos perceber que as coisas estão encaminhando para um lado bastante nostálgico, de sonoridades que consagraram seu discos. Assim, vale a pena revisar sua obra em busca das melhores qualidades que provavelmente estarão neste trabalho.

Demo EP (2006)

Por vezes esquecido, este registro mostra as origens da banda, antes que seu primeiro disco explodisse a cabeça dos críticos. Notoriamente influenciado por um Indie Rock e sonoridades menos Folk, o EP traz um Fleet Foxes bem distinto do que lhe rendeu fama. Independente disso, percebemos que desde então já havia uma preocupação em colocar algum elemento a mais em suas composições, por mais banais que elas possam parecer. Vale a pena relembrar este curto registro para perceber como a banda mudou desde então e como sempre houve uma preocupação de trazer algo diferente para os estilos musicais mais comuns.

Sun Giant EP (2008)

Após uma tímida Demo, o grupo pareceu investir pesado na tarefa de definir uma sonoridade única e produzir seu próximo lançamento. Sun Giant foi reconhecido como um dos melhores discos do ano e, de certa forma, ele é responsável pela reconhecimento da banda. As pessoas começaram a entender que Fleet Foxes claramente não era mais um nome do Indie/Folk, havia algo a mais. O EP de cinco faixas possui algumas das faixas mais conhecidas, como Mykonos e a belíssima Sun Giant, um hino acapella que mostrou o incrível talento do grupo em compor belíssimos arranjos de voz. Este é um trabalho de extrema importância para quem deseja conhecer o grupo e, talvez, seja a melhor escolha para o primeiro contato, uma vez que ele mostra de forma concentrada as melhores características que fizeram a banda ter o reconhecimento pleno que tem hoje.

Fleet Foxes (2008)

Não teve jeito. O grupo mostrou do que era realmente capaz quando o disco de estreia saiu em 2008. O trabalho auto-intitulado foi encarado por alguns como uma extensão do excelente EP anterior. Entretanto, ele se revelou algo bem maior à medida que trouxe arranjos bastante elaborados (Blue Ridge Mountain), melodias fáceis e sofitiscadas ao mesmo tempo (White Winter Hymnal), ambientações fantásticas (Heard Them Stirring) e letras poéticas e narrativas, como se seus integrantes fossem bardos (Oliver James). É o trabalho que rendeu a maior visibilidade ao grupo, ao qual o vocalista Robin Pecknold atribui parte do sucesso pelos downloads ilegais e streamings no antigo site MySpace. É curioso que muitos sites na época chamavam a banda de revelação ou “novato talentosos”. Mal sabiam eles da grande gafe que cometiam ao chamar Fleet Foxes de novatos que, mesmo em seu primeiro álbum, já mostravam uma sonoridade trabalhada e extremamente madura.

Helplessness Blues (2011)

É difícil pensar em como a banda iria passar pelo teste do segundo disco. Se tal maturidade já havia sido alcançada no primeiro trabalho, o que podíamos esperar para o futuro? Felizmente, o segundo álbum alcançou um status quase tão formidável quanto o primeiro. Ele surgiu menos narrativo e mais reflexivo, à medida que tentou introduzir nas belíssimas harmonias e arranjos letras introspectivas e temas que, involuntariamente, todos pensamos, como a passagem do tempo (Montezuma), o existencialismo contemporâneo (Helplessness Blues) e a imortalidade (The Shrine/An Argument).

Mesmo com tudo apontando contra, Fleet Foxes conseguiu amadurecer ainda mais do que havia nos mostrado no início. Arranjos medievais deram espaço para um Folk introspectivo que até hoje gera debates se este é ou não melhor trabalho da banda até então. Resta saber quais as surpresas que o tempo trará a um grupo de artistas que desafiam o que até seus fãs mais devotos entendem como seu ápice.

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ARTISTA: Fleet Foxes
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique