Foals: Vida Totalmente Eterna

Emotivo segundo disco dos britânicos encontrou novas fórmulas no Math Rock

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Foals – Total Life Forever (2010)

Poucos segundos discos conseguem ser efetivamente melhores que a sua estreia, no entanto, o sucessor de Antidotes pode ser considerado o trabalho mais completo da banda de Math Rock de Oxford. Total Life Forever é a obra que definiu Foals como grupo ao abordar questões ambíguas, como o futurismo e a singularidade – temas quase de ficção científica que ganharam muita emoção nas interpretações excelentes de Yannis Philippakis, que mostrou um instrumentalismo acima da média.

Se tínhamos a definição do que viria a ser conhecido como Rock Matemático (construção milimétrica feita a partir de linhas de baixo e guitarra que se propõem em tempos pouco usuais), temos desta vez muito mais texturas, experimentalismo e faixas que transportam o ouvinte para outros lugares. Menos efervescente, mais intimista e expansivo ao mesmo tempo, o grupo criou uma espécia de ritmo Tropical Progressivo, como seus membros definiram em entrevistas na época de sua gravação. Escute Miami por exemplo e tente não se imaginar à beira de uma praia em meio a ritmos funkeados. Entretanto, se o exercício onírico nunca é objetivo, tal interpretação se mostra ainda mais ambígua com Total Live Forever, um disco com teor Pop nada direto que conquista quem o escuta pelos mínimos detalhes.

2 Trees, por exemplo, foi feita milimetricamente e tem uma das introduções mais precisas do Math Rock – seus acordes são como tecer uma linha em um pano, entram e saem de sua superfície para se misturar, consolidar e formar um bloco musical emocionante. O disco como um todo tenta emocionar de duas formas: instrumental e lírica. Se escutado com um fone de ouvido, pode ser compreendido de forma completa, tal qual o crescimento explosivo na épica e arrepiante Spanish Saara – criação que encanta até o mais duro, contido. Sons de mar transportam o ouvinte para esse deserto fictício que serve para Yannis espantar os seus demônios: “Spanish sahara, the place that you´d wanna /Leave the horror here/Forget the horror here” para depois eternizá-los, sem nunca esquecê-los “Cause I´m the fury in your head /I´m the fury in your bed /I´m the ghost in the back of your head”. Este exemplo de emoção era até então inédito na carreira dos britânicos e acabou se tornando o hino a ser cantando em shows furiosos que sempre realçam a energia inicial do grupo, mostrando o que é o Rock Moderno.

É por isso que muitas vezes a obra chega ser contestada pela velha escola que via em Yannis e companhia o antídoto para o Indie Rock usual ao explorar outras vertentes muito menos diretas, mas, ao mesmo, tempo feitas para serem cantadas em grandes shows, como a pouco tocada atualmente Black Gold – funkeada, dançante e inteligente – (“Cause the future is not what you see /It’s not where you’ve been to at all”), ou Alabaster, que acabou conquistando os postulantes à psicodelia. Sua característica comum? Ambas pedem e exercem a vontade de quem as escuta; a de explodir de forma contida. Não se espera o fogo colérico, mas somente a brasa quente.

Pessoalmente, eu já vi cerca de cinco shows do grupo ao longo de sua carreira, em todos os momentos de sua discografia. Se enquanto os primeiros ensaios mostravam uma banda enérgica e distinta em sua performance ao vivo, agora se mostra uma verdadeira banda de arena com cantorias, choros e mais elementos populistas. No entanto, em todas estas apresentações, foi somente na turnê de Total Life Forever que as coisas pareciam se encaixar perfeitamente – o momento da banda, o nirvana que cada músico parecia encontrar naquele instante diante do público, isso nunca mais aconteceu.

Cada música tem seu Groove próprio que, a princípio, pode parecer desconexo da coesão do disco, mas se unem em alguns pequenos elementos básicos muito bem executados, como a emoção instrumental versada, a explosão certeira e a certeza de que somos capturados e levados para outro lugar. Singles como Blue Blood ou a faixa título mostravam que não estavámos mais diante do mesmo grupo de Cassius ou The French Open. No entanto, abriu as portas para que a popularidade que Yannis e companhia tem hoje em dia, surgisse. Se o boca a boca já fazia com que seus shows fossem disputados, como agir quando Holy Fire, obra que os colocou verdadeiramente nas rádios com My Number e Inhaler, foi lançada? Recentemente, em Barcelona, pudemos ver como o seu patamar subiu sem perder as essências. Total Life Forever se encontra neste meio termo entre o Pop e o Math Rock de sua discografia, vencendo o ouvinte aos poucos, mas o conquistado dificilmente irá abandoná-lo quando este precisa somente escapar de algum problema ou simplesmente viajar sem rumo e volta.

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ARTISTA: Foals
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.