Hudson Mohawke recria o R’n’B e Hip Hop dos anos 90

Conheça mais do projeto do produtor escocês que passou pelo Brasil em maio no Sónar SP

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O escocês Hudson Mohawke veio pra colorir um pouco do que já conhecemos do RnB. Depois de alguns tropeços, o produtor já é um dos tesouros da cena internacional, queridinho do Just Blaze (DJ do Jay Z) e de Kane Beatz (produtora de Rihanna) e ponto alto de críticas positivas de nomes que passam por S-X, Krystal Klear, Mike Slott e Rustie. Depois de 3 EPs e um nome já consolidado, Mohawke já produz outros artistas, como o grupo Egyptian Hip Hop e é co-fundador do selo e coletivo LuckyMe. O produtor, permeando seus 25 anos de idade, confessa que suas influências partiram de uma época quando passou boa parte de seu tempo ouvindo Drum’n’Bass e que hoje, apesar de vários convites, não pensa em produzir algo fora da sua linha original.

Tudo começou após um voto de confiança. Butter (2009) foi lançado como um liquidificador dos anos 90, com muito R’n’B com algumas experimentações em Funk. Ross Bichard (ou Hudson Mohawke, se preferir) mostrou que vinha pra fazer uma mistura interessante de R’n’B e Hip Hop, mas as faixas se encontraram um pouco muito desordenadas e irregulares. Depois de 2 anos, HudMo (pros “íntimos”) veio com Satin Panthers, que pode-se resumir em um emaranhado de sintetizadores. Quando falo isso não é de forma pejorativa. Thunder Bay mostra crescimento musical do produtor de várias formas. Ele ensina a criação de uma música que é sua cara e ninguém faz igual: R’n’B com Dubstep, Reggaeton, Funky, samples modernos e batidas aceleradas: um Bass completo. Isso sem contar algumas pitadas de Acid House. Você pode ouvir todo o EP neste compilado do YouTube abaixo.

Mas nada se compara ao “saído do forno” Pleasure Principle. Sem muito tempo pra respirar, Bichard já trouxe seu terceiro trabalho pra desmistificar talvez uma imagem de alguém com potencial, porém com visível amadorismo. É notável a maturidade que HudMo adquiriu para a produção de seu terceiro EP, não só de inovação, mas com uma ambição certeira de modernizar todo o R’n’B e Hip Hop dos anos 90 pros beats contemporâneos. Deu aula de tendências com tudo o que a gente vê atualmente, como Flight Facilities. Freek passeia em vocais em que seria possível imaginar comandados por John Legend. Mas fora esse Minimal/Deephouse, Mohawke trouxe o Pop Hop com Dubstep bem parecido com o que já conhecemos da Katy B em Turn Me Off, isso tudo com um boa parceria à la Lil’ Wayne. Continuando na citação de algumas faixas, temos Party Animal, com sample bem parecido com o que Kanye West já fez com Homecoming, com menor apelo comercial e mais batidas do Hip Hop. O que muita gente não sabe é que são alguns remixes não-oficiais de Janet Jackson, Gucci Mane, Aaliyah, Jodeci e Keri Hilson. Ouça Pleasure Principle logo abaixo.

Pros desavisados, o produtor apareceu no Brasil em maio, na edição brasileira do festival catalão Sónar, em São Paulo. Com um set permeando entre os menores BPMs, Mohawke iniciou com uma linha mais densa. A plateia não estava interessada em dançar e talvez esse nem tenha sido a intenção de HudMo. Os olhos vidrados de todos indicavam uma perplexidade diante de um som tão complexo porém tão fácil de sentir. Logo depois, ele aceitou uma progressão de BPM abusando, assim, dos sintetizadores, indo até a solos de bateria e guitarras distorcidas. A única frustração é que dava, claramente, pra que, de fato, existisse uma banda ali para acompanhar os synths do produtor, uma ambição que o Soulwax tem e apresentou ao vivo no UMF do ano passado.

Ross Bichard, o garoto tímido sem muitos adereços se contrasta com o Hudson Mohawke e suas produções cheias de personalidade. O produtor, bastante novo, é um nome pra manter o olho. Não que isso seja novidade, mas como bem HudMo disse, que vive hoje, depois de conseguir tantos contatos numa escada progressiva sem fim. Com certeza é um nome que ainda vai aparecer muito.

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Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King