Isso Não É Rock “De Verdade”!

Quais as intenções e verdades existem por trás do uso destra frase? Posso lhes dizer que, por mais que a intenção seja boa, o resultado de tal afirmação sinaliza falta de tato com a novidades

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“Esse não é [insira um estilo musical aqui] de verdade!“ Essa é uma das frases mais comuns ditas por fãs de determinado gênero, por quem parece ter parado no tempo ou simplesmente por quem não é apto a aceitar mudanças, e eu tenho certeza que, ao longo de suas discussões musicais com amigos e conhecidos, você já se deparou com esta ou frases parecidas inúmeras vezes. Mesmo que muitas vezes dita com as melhores das intenções, esse tipo de afirmação é um tanto pedante e estereotipada, que acaba se tornando um sinal de falta de tato ao se deparar com novidades.

O primeiro ponto a se analisar em tal afirmação é definir o que seria o “verdadeiro” dentro de um estilo. É certo que cada gênero, seja ele Rock, Pop, Psicodélico, Shoegaze ou qualquer outro, tem suas familiaridades, elementos semelhantes, fundações, influências e um histórico construído por artistas que se assemelham em muitos pontos de sua sonoridade ou às vezes por ligações ideológicas, proximidade geográfica, selo, cena ou qualquer outro motivo não musical e partir daí dão gênese a um determinado gênero.

Porém, a partir daí afirmar que esses pioneiros formam o som “verdadeiro” dentro algum estilo e nada mais o será depois deles, ao invés de considerá-los como artistas que deram o pontapé inicial, é assumir uma postura ignorante quanto a evolução de um gênero ou, se olharmos de forma radical, da evolução da música em geral.

Certamente, o R&B de hoje não é o mais mesmo do que era feito nos anos 50, o Punk Rock que dominou os 70 não faz tanto sentido hoje quanto fazia em sua época, a Psicodelia liderada pelos hippies nos anos 60 não tem a mesma força que tinha naquela década e a Eletrônica evoluiu assustadoramente dos 60 até aqui. Esses são só alguns exemplos de como a música feita a alguns (ou muitos) anos atrás já não é mais a mesma que é feita hoje em dia. Porém, isso, de forma alguma, as deixa menos reais ou validadas.

Um segundo ponto importante a se analisar vai mais longe do que as próprias barreiras estilísticas e questiona a esteriotipação por parte de alguns ouvintes que defendem com unhas e dentes que o tal estilo tem que conter unicamente os elementos A, B e C e na falta de um deles ou na adição de outros, a música produzida por já não se enquadra mais no tal estilo “de verdade”.

Levando esta linha de raciocínio ao extremo, a partir dos pioneiros, nunca mais veríamos nada de realmente novo surgindo, nem mesmo novos gêneros híbridos. Experimentar é o que faz a música realmente evoluir. Portanto, se chegamos aonde chegamos com a música contemporânea, foi exatamente por causa de artistas que não seguiam a risca os estilos “de verdade” nos quais eles pegavam suas influências.

Sociedade, cultura, globalização e tantos outros fatores em nossas vidas mudaram (melhor dizendo, evoluíram) com o tempo e você não os tem como menos reais, não é? Então, por que com a música seria diferente?

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts