Mahmundi: “Eu sempre esperei muita coisa de mim enquanto artista”

Às vésperas do lançamento de seu primeiro álbum, Marcela Vale fala ao Monkeybuzz

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Fala-se sempre por aí em em uma tal de “pessoa certa na hora certa” para contar casos de sucesso, com uma entrelinha subliminar de “sorte” decorando o conceito. No caso de Mahmundi, sua história parece ser uma coleção das pessoas adequadas nos mais diversos momentos corretos, todos esses enquanto Marcela Vale permanecia fiel à sua identidade enquanto artista e à sua persistência em fazer um ótimo trabalho, o que resultou em seu primeiro álbum solo, também chamado Mahmundi, que sai nesta sexta, 6 de maio.

“Eu sempre esperei muita coisa de mim enquanto artista”, contou Marcela ao Monkeybuzz poucos dias antes do lançamento, “eu estou feliz pelo caminho que eu fiz, desde produzir o disco em casa, desde construir as minhas coisas, desde ter marca de equipamento patrocinando. Eu acho que estou feliz porque a música não se desvencilhou de mim”. Conversar com ela é perceber o lugar que o som tem em sua vida, tanto porque qualquer assunto cai eventualmente em um disco ou banda, ou em alguma história de bastidores de quem já está envolvida no mercado há tanto tempo.

“Sou de uma geração que começou a fazer música em casa, no computador”, explica ela, que iniciou há quatro anos o processo de mostrar ao mundo sas próprias composições no caminho foi chegar até este disco, com lançamento pelo selo StereoMono/Skol Music. “Frequento estúdio grande desde os 18 anos, mas eu nunca cheguei em um produtor e falei ‘ouve aqui minha demo’, eu sabia que esse momento da Internet ia acontecer. Fui assistente de grandes discos e o caralho, ficava com a mão coçando pra mostrar, mas eu sabia que ia ser mais um áudio que eles iam ouvir, sacou?”, conta Marcela.

O reconhecimento veio muito antes do contrato com o selo, já que ela logo chamou atenção de crítica e do público que acompanha o cenário independente no Brasil, o que levou Mahmundi ao Prêmio Multishow em dois anos seguidos por músicas frutos de parcerias com músicos com quem ela trabalha até hoje, como Lucas de Paiva e Lux Ferreira – dois nomes (ou melhor, duas das “pessoas certas”) que ela cita com frequência ao contar do disco.

“Minha relação com o Paiva (co-autor de Eterno Verão) sempre foi muito boa porque a gente fica fazendo jam e gravando”, comenta, “Lux Ferreira (de Sentimento) tem uma juventude que eu não tenho e eu assumo que não tenho”, e ambos contribuíram tanto com composições e arranjos, quanto com o clima geral do que veio a ser Mahmundi, uma obra de dez faixas ora noturna, ora ensolarada produzida pela própria Marcela com direção artística de Carlos Eduardo Miranda.

Mahmundi

Sobre o trabalho com ele, Marcela comenta que Miranda deu-lhe total liberdade artística para ela fazer o disco que queria, enquanto ele indicava um caminho que ela, por estar nessa pela primeira vez, desconhecia. “Foi um processo em que eu fui aprendendo muito a profissionalizar as ideias. O cara é meio gênio, sabe?”, conta ela, “ele não é músico, mas ele é muito ligado em música. Ele não sabia tocar, mas ele me mostrava uma música que tinha o que a gente discutia”. Nessa liberdade toda, ele não opinou muito no repertório, apenas indicou que ela escolhesse as músicas que mostrariam sua identidade ao Brasil.

E quem é Marcela – ou quem é Mahmundi? Ela tem 29 anos, a carioca do subúrbio do Rio brinca que se sente velha e usa as palavras “arte” e “artista” com frequência para descrever seu trabalho. Conta que sempre tentou reproduzir as músicas que ouvia “com a mesma classe” das originais e que, quando escolheu trabalhar com música, não imaginou que seria a cara e a voz de sua obra- “sempre pensei nisso, ‘o dia que eu arrumar uma pessoa, uma cantora afinada, eu vou produzir um disco’. Essa pessoa não chegou, então vai ser eu (risos)”, brinca.

Em suas palavras, “a gente vive um momento em que os meus fãs estão vendo esta pessoa, eles vão no meu Instagram e eles veem aquela televisão que é outra coisa, e vão no meu Snapchat e veem aquilo, eu fico tentando só me organizar e não deixar de perder nenhuma dessas etapas, porque é isso que eu sou. Mahmundi é tudo isso, sabe? Eu não quero me distanciar deles, mas eu quero dizer que isso aqui é uma artista e a pessoa que está no Instagram tirando foto com cachorro também é uma artista. É uma vida completa, é um compartilhamento que tem que acontecer. E isso sou eu. Eu tô com 29 anos, mas é como se minha vida começasse todo dia. O tempo inteiro, produzindo, conhecendo pessoas, indo em shows”.

E é essa postura ativa, vinda de um alto comprometimento com sua criação, que faz com que a “hora certa” aconteça a partir das pessoas com quem ela se associa. “O resumo da minha vida é esse: Tudo o que eu fiz até aqui eu fiz dando o melhor que eu poderia, de servir hambúrguer até tocar no Vodafone Festival (em Portugal) pra duas mil pessoas, conta Marcela, “quando eu trabalhava no KFC, eu ficava lá fazendo hambúrguer, mas a playlist era minha. Eu falava: ‘Ó, eu limpo o banheiro, tranquilo, mas o CD que vai tocar aqui é o meu’, fazia um MP3 com 600 músicas e deixava tocando. E ficava lá rindo, conversando, batia a meta, porque eu nunca dei o menor de mim, sempre dei o melhor de mim em tudo. Tem toda uma excelência em que me divirto, e não faço coisa que eu não gosto”.

Às vésperas do lançamento de Mahmundi, ela esclarece que “o foco desse disco, acima de tudo hoje, é ser uma artista, mas é mostrar e acrescentar para qualquer jovem que é possível. Quatro anos atrás, eu estava na Internet com uma placa de dois canais. Mais do que provar pro mundo que eu sou, sei lá, uma diva brasileira, eu preciso fomentar mais jovens a fazer isso” – o que só mostra que, se a hora certa é agora, a pessoa certa ela sempre foi.

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ARTISTA: Mahmundi
MARCADORES: Entrevista, Novo álbum

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.