Maria Beraldo: “Meu ouvido estava pedindo algo que fosse meio porrada”

Artista fala ao site sobre seu mais recente disco, “Cavala”

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Fotos: José de Holanda

“Sou instrumentista e arranjadora, meu contato com a música tem relação direta com uma questão estética para além da composição”, explicou Maria Beraldo ao Monkeybuzz por telefone. Na ocasião, a artista explicava um pouco dos processos por trás de seu primeiro disco como cantora, Cavala. “Tudo se conversa, faço a letra e a música juntas e acho que é uma relação fractal, o conteúdo está em cada parte”, continua, “cada elemento, por menor que ele seja, ele contém o todo. Os arranjos contém a mensagem tanto quanto a letra, e a letra contém os caminhos estéticos musicais tanto quanto os arranjos, tanto quanto os timbres. No fundo, é tudo uma mesma unidade, porque a ideia a ser passada é uma só”.

Essas frases todas são pistas fundamentais para desvendarmos melhor as dez faixas que compõem o trabalho, co-produzido por Maria ao lado de Tó Brandileone (5 a Seco). “A gente vem de lugares muito diferentes, o que contribui bastante”, comenta ela, “é uma pessoa muito aberta que frui muita música que não tem a onda do trabalho dele. A gente compactua de coisas musicais que são muito básicas, a estrutura dos pensamentos se encontram muito”. O intenso processo criativo dos dois juntos serviu para dar conta de uma só busca que resultou nos caminhos por onde o álbum percorreu sonoramente: “Nós dois tínhamos alguma coisa na cabeça que precisávamos encontrar”.

Somando apenas 24 minutos, Cavala é um verdadeiro coice nos ouvidos, com faixas de alto teor pessoal. Cada uma delas, com duração média de dois minutos (várias, nem isso) são imersivas em seus próprios universos, capazes de levar o ouvinte até algum certo lugar de onde ele é bruscamente carregado pela próxima a um novo destino – tudo em um curtíssimo espaço de tempo.

“As composições são tipo haikais, é o jeito que eu componho”, conta Maria, “aí elas ficam curtas e eu fico tentando deixá-las mais longas, mas… (risos) elas são assim mesmo. A curta duração conversa com os poucos elementos que a gente coloca nas produções. Isso eu acho que tem a ver com a força, de alguma maneira. A maioria das músicas é erguida por três elementos só, não tem uma grande orquestração. É uma ideia até minimalista, em algum sentido”.

“Tem a ver muito com as coisas que eu tenho ouvido. Antes de começar a produção, eu estava buscando referências e não estava conseguindo fruir nada de música que não fosse algo que serviria pro processo de criação. Um disco que o Tó quem me mostrou, que eu não conhecia, foi Anti, da Rihanna. Fiquei ouvindo ele muito, não conseguia ouvir mais nada. Estava procurando outras coisas, daí o Sergio Abdalla, que também trabalhou comigo, me mostrou clipping, o disco que chama CLPPNG. Foi uma salvação, era o que eu estava procurando, uma produção musical timbristicamente muito rica, um sound design foda. Aí essas duas coisas que eu mais queria ouvir são super pesadas, tem esse contato com o Rap, essa coisa dos graves… Era o que eu meu ouvido estava pedindo, algo que fosse meio porrada”.

“Acho que, pra mim, esse disco foi muito importante pra eu me recolocar de uma maneira que faça mais sentido na música pra mim”, conta Maria Beraldo, “adoro tocar clarinete, mas me descobri autora mesmo. E eu acho que tenho uma mensagem importante, tanto musical quanto extra-musical, a ser passada. É um desafio, né, você encontrar o que você quer dizer. É muito difícil, ao mesmo tempo que o que você tem que dizer é o que está ali, na boca”.

Melhor ainda do que ter um trabalho de estreia tão elogiado, como tem sido a experiência de Cavala nas últimas duas semanas, é notar que ele “tá repercutindo é o real conteúdo do disco, sabe? E isso me dá muita alegria, que as pessoas falam do som mesmo”, como ela conta, “muitos colegas músicos, produtores, compositores, estão falando bem do trabalho, e também pessoas que não são músicos, o público LGBT também, o público de mulheres, pessoas que se ligam com o conteúdo em geral, tanto o musical, quanto as minhas palavras e o significado das letras e tal. Tem públicos diferentes sendo atingidos por vias diferentes, o que é bem legal”.

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ARTISTA: Maria Beraldo
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.